*“DISCIPULADO: SER CRISTÃO”
(Marcos 1.16-20)
Sermão preparado para a PIB Linhares, em 07/01/2021, quinta-feira
(Série em Marcos – 2).
Boa noite irmãos.
Como falamos domingo pela
manhã, nas oportunidades em que me couber falar neste mês de janeiro, em que
nosso pastor está de férias, estarei pregando uma série de mensagens no
Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos.
Na última oportunidade vimos
dados gerais do Evangelho, sua autoria, data, contexto histórico e propósito,
escrita, etc.
Hoje vamos meditar no
chamado que Jesus Cristo fez dos seus discípulos e pensar um pouco sobre
discipulado.
E para tanto eu peço a todos
que abram suas Bíblias no Evangelho segundo Marcos, no capítulo 1º, a partir do
verso 16, e eu vou fazer a leitura até o verso 20:
“16.” (Marcos 1.16-20).
“DISCIPULADO: SER CRISTÃO”.
Vamos orar mais uma vez!
Dentre os capítulos de
Marcos, eu não poderia deixar de fora o chamado dos discípulos, porque
discipulado é o coração da missão da igreja até a volta de Jesus Cristo!
*Jesus determina isso e está relatado no
Evangelho Segundo Mateus, capítulo 28, versos 18-20:
“18. E, aproximando-se Jesus, falou-lhes: Toda autoridade
me foi concedida no céu e na terra.
19. Portanto, ide, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e
do Espírito Santo;
20. ensinando-lhes a obedecer a todas as coisas que vos
ordenei; e eu estou convosco todos os
dias, até o final dos tempos.” (Mt 28.18-20).
Nós
podemos cantar, tocar, pregar, limpar, recepcionar, entregar cestas básicas,
orar pelas pessoas e com as pessoas, podemos fazer todas estas boas coisas, mas
se não as fizermos para fazermos discípulos de Jesus Cristo teremos falhado
totalmente como Igreja!
Porque
fomos chamados para fazer discípulos maduros de Jesus Cristo, e todas
essas coisas são boas, mas são apenas um meio para um fim, e não um fim em
si mesmas!
*Por isso o tema da mensagem é “Discipulado: Ser Cristão”, porque,
biblicamente falando, eu e você devemos
ser discípulos de Jesus Cristo que fazem outros discípulos para Jesus
Cristo, isso não é uma opção.
Eu gosto de analisar o
cristianismo, não só a nossa denominação batista, mas também as demais
denominações, suas doutrinas oficiais, sua prática (porque muitas vezes a
prática e a doutrina não andam juntas, a prática não reflete a declaração
doutrinária), e é com tristeza que podemos perceber que muitas igrejas e
denominações inteiras, algumas contando com milhões de pessoas, que nem seus
líderes, muito menos seus liderados, sequer compreenderam o conceito de discipulado, quanto mais colocar em
prática o discipulado cristão.
*Tem-se confundido discipulado com “evangelismo”.
Tem-se confundido discipulado com “curso de preparação para o batismo”!
Tem-se confundido discipulado com “Escola Bíblica Dominical” ou de
um pequeno grupo, como por exemplo, nós temos aqui na igreja os “grupos de casais”!
Tem-se confundido o discipulado com “ser membro de uma igreja”
Por favor não me entenda
mal, todas essas coisas são boas,
todas essas coisas edificam a nossa vida espiritual, nos fazem bem, mas segundo
a proposta bíblica, elas não são
discipulado!
E,
apesar de serem boas coisas, se elas não são o que a Bíblia, em especial
o Novo Testamento trata como “discipulado”, estamos deixando de cumprir a principal
ordem de Jesus à sua Igreja!
Então eu quero junto com os
irmãos, analisar estes quatro versículos que vão nos mostrar como é o processo
de discipulado, requisitos para ser discípulo e o que Jesus espera de seus
discípulos, e, ao final, só ao final, vamos conceituar discipulado.
Seguindo este raciocínio, a
primeira observação neste texto sobre discipulado é que...
*1) DISCIPULADO É PARA GENTE COMUM (v. 1-3).
*“16. Andando junto ao mar da Galileia, viu Simão
e André, seu irmão. Eles estavam lançando as redes ao mar, pois eram pescadores.
(...)
19. Passando um pouco mais adiante, Jesus viu os irmãos Tiago e João, filhos de Zebedeu,
que estavam no barco consertando redes.
20. e logo os chamou. E eles passaram a segui-lo,
deixando seu pai Zebedeu com os empregados no barco.” (Mc 1.16, 19-20).
Como o texto mostra, Jesus
começa seu ministério escolhendo seus discípulos na Galileia, junto ao chamado
“Mar da Galileia”.
*Nós podemos começar por aqui, pelo local de
escolha dos “discípulos” de Jesus: a Galileia.
A Galileia era uma região ao
Norte da Palestina, composta de uma centena de colina, cada uma com sua pequena
planície, com boa irrigação, grupos de árvores e vilarejos.
E era também uma região
vista com muita desconfiança pelos sérios rabinos de Jerusalém, pois eles
julgavam que as pessoas da Galileia não observavam estritamente a Lei Sagrada
(Torah).
Muito desta desconfiança se
devia à presença de muitas cidades de cultura grega na Galileia, a própria
capital da Galileia, a cidade de Séforis, era em grande parte grega.
Judeus não eram nem muito
bem-vindos nestas cidades que se encontravam na Palestina, mas eram de cultura
grega.
Algumas você deve se
recordar dos nomes: Cesaréia (onde os romanos mantinham o grosso das tropas da
Palestina), Tiberíades (às margens do lago); Gadara, onde Jesus curou o
edemoniado gadareno, só havia uma pequenina sinagoga. A região Siro-fenícia a
lado da Galileia não era judia (lembram-se da cura da filha da mulher
síro-fenicia relatada em Marcos 7? Os cachorrinhos comem do que cai da mesa...)
A discórdia entre as pessoas
de cultura grega e os judeus era muito grande, por qualquer motivo explodiam a
brigas, motins e geralmente terminavam com violência.
*A Galileia era tão desprezada que quando
Nicodemos (aquele que procurara Jesus à noite) tentou fazer uma defesa do
procedimento formal de julgamento do Sinédrio, os principais sacerdotes (logo
saduceus) e fariseus, perguntaram o seguinte (João 7.50-52):
“50. Então um deles, Nicodemos, que antes fora
encontrar-se com Jesus, perguntou-lhes:
51. Acaso nossa lei julga um homem sem primeiro ouvi-lo e
sem ter conhecimento do que ele faz?
52. Mas eles lhe responderam: Tu também és da Galileia? Examina e vê que da Galileia não surge
profeta.” (João 7.50-52).
*Veja como o preconceito cega até aqueles que deveriam saber que o Cristo viria da
Galileia, cumprindo-se a profecia de Isaias 9.1 que diz:
“1. Entretanto, não haverá escuridão para a que estava
aflita. Em tempos passados, ele humilhou a terra de Zebulom e a terra de
Naftali, mas no futuro fará glorioso o
caminho do mar, além do Jordão, a
Galileia dos gentios.” (Is 9.1).
A profecia de Isaias sobre a
luz que viria da Galileia, citando, inclusive, o detalhe de que a Galileia,
seria “dos gentios” (povos
não judeus).
Quem silencia Nicodemos não
eram homens do povo, eram doutores da lei, sacerdotes, da facção dos saduceus,
homens responsáveis pela religião oficial do povo judeu; e fariseus, homens
considerados os maiores peritos na interpretação da lei, que traduziam a lei
para responder aos questionamentos corriqueiros do povo, que criaram a tradição
oral, hoje compilada no Talmude[1],
que, para eles, ao lado da lei, teria sido recebida também de Moisés.
Pessoas que conheciam o
Antigo Testamento, mas que não reconheceram a procedência do Messias Galileu!
E o preconceito não era
somente quanto ao lugar, mas
também quanto aos escolhidos.
Os apóstolos não eram das classes religiosas, não eram alistados entre os
sacerdotes saduceus, nem aos fariseus, que seguiam a lei à risca (sendo que os
fariseus eram admirados pelo povo pela observância detalhista da lei oral).
Estes quatro, ao menos, eram
pescadores. A profissão de
pescador não era desonrosa, ao contrário do que se pense, era aceita da mesma
forma que a profissão do agricultor, por produzir alimento para o povo; não
incentivada, óbvio, mas aceita, ao contrário de outras profissões que eram mal
vistas pelos rabinos, como a de tropeiro, cameleiro, açougueiro, médico (pois
eram acusados de favorecer o atendimento a quem tinha mais dinheiro), coletor
de excrementos de cães, curtidor de pele, mascate, organizador de concurso de
pombos e até a profissão de pastor
(nós romantizamos a profissão de pastor, em razão do Salmo 23 e por ela ter
sido ressignificada por Jesus
em João 10.10 (Ele é o bom Pastor), mas a profissão de pastor era bem vista
pelo mestres judeus.
Mas mesmo sendo de uma
profissão aceita, não significa que os pescadores
galileus eram tidos como pessoa admiráveis pela classe religiosa de uma forma
geral.
O Sinédrio, o que
representaria para nós o Supremo Tribunal Federal e tinha permissão de Roma
para julgar os assuntos judaicos, porque Roma não conseguia entender as
minucias da lei judaica, então, para evitar revoltas, permitiu que o Sinédrio
continuasse a funcionar, mas era vedado ao mesmo aplicar a pena de morte, por
isso Jesus, mesmo condenado à morte, pelo Sinédrio, foi levado ao Governador
Pôncio Pilatos.
*Após a ascensão de Jesus ao Céu e a prisão de
Pedro e João no Templo de Jerusalém, eles foram levados à presença do Sinédrio,
que disse o seguinte sobre os dois ex-pescadores galileus:
“13. Observando a coragem de Pedro e João, e percebendo
que eram homens simples (agrammatoi)
e sem erudição (idiôtai),
eles se admiravam; e reconheceram que eles haviam convivido com Jesus.” (At
4.13).
A palavra “simples” é o
grego arammatoi, é única vez no Novo Testamento que esta palavra é
utilizada. Mas os comentaristas reputam que o significado dela é de uma pessoa
que não sabia escrever bem (o que chamaríamos de um “semianalfabeto” ou “analfabeto
funcional”)
Sem erudição é o grego idiôtai,
com o sentido de ausência de instrução formal, eles não haviam aprendido em
nenhuma escola rabínica, ou em uma Sinagoga, ou estudado com algum dos mestres
da lei reconhecidos. É o mesmo sentido que Paulo emprega à palavra ao usá-la em
2 Coríntios 11.6, ao dizer que não tinha
instrução formal em oratória,
mas tinha conhecimento e não ficava devendo em nada aos chamados
“superapostolos”:
“6. Pois ainda que
me falte instrução (idiôtês)
em oratória, não me falta conhecimento.” (2 Cor 11.6).
O que estes homens
religiosos, membros da mais alta corte do judaísmo estavam dizendo era que os
discípulos Pedro e João eram ignorantes, não conheciam, não estudaram, não
tinham instrução sobre Lei Judaica
(ou Tradição Oral, respeitada pelos Fariseus, mas não pelos Saduceus) e na Torá (a lei escrita, em especial o
Pentateuco, respeitada tanto por Saduceus, quanto por Fariseus).
*reputado
desqualificado para serem seus discípulos. Aos olhos humanos
não tinham nada a oferecer!
E eu nem vou falar do
discípulo Levi em Marcos 2.14-17 (Mateus, autor do Evangelho), que era publicano, um cobrador de impostos dos judeus a serviço
do Império Romano.
Basta dizer que a crença
religiosa judaica corrente à época era que as prostitutas poderiam entrar no
céu antes que um publicano entrasse.
Um publicano não poderia
mediar uma questão entre duas pessoas porque ele não era digno de confiança,
sua palavra não valia nada, nem testemunha ele poderia ser. O seu dinheiro não
poderia ser doado para a caixa de ofertas ou de esmolas) do Templo de
Jerusalém, pois seu dinheiro era considerado cerimonialmente impuro, fruto de
corrupção.
Se
formos puxar o assunto “escolha de Mateus”, as coisas só pioram para o processo
seletivo de Jesus aos olhos humanos.
Por isso o preconceito cegou os olhos da
liderança religiosa da época e pode
muito bem cegar nossa visão ainda hoje quando pensamos nos requisitos para sermos
discípulos e fazermos discípulos de Jesus.
Muitos cristãos hoje,
membros de uma igreja cristã, não são discípulos nem discipuladores porque tem
uma imagem de que para ser um discípulo ou discipulador é preciso algum tipo de
“pedigree”
espiritual!
É preciso ser pastor,
seminarista, líder de ministério; ou ao menos ter formação universitária, falar
bem, ter diplomas, cursos etc., etc., e etc...
Quanto na verdade para ser
um discípulo e um discipulador você só precisa ter aceito Jesus Cristo como
Senhor e Salvador da sua vida e ter o Espírito Santo morando em você!
*1 Coríntios 1.26-28: “Irmãos, observai o vosso chamado. Não foram chamados muitos sábios,
segundo critérios humanos, nem muitos poderosos, nem muitos nobres. Pelo
contrário, Deus escolheu as coisas
absurdas do mundo para envergonhar os sábios; e escolheu as coisas
fracas do mundo para envergonhar as fortes. Ele escolheu as coisas
insignificantes, as desprezadas, e as que são nada, para reduzir a nada as
que são, para que nenhum mortal se glorie na presença de Deus.”
*Atos 1, verso “8. Mas recebereis PODER
quando o Espírito Santo descer sobre vós;
e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e
Samaria, e até os confins da terra”.
Quem tem qualificações
suficientes para ser discípulo e discipulador diante de Deus? Ninguém!
Quem pode se auto exaltar
por fazer discípulos e ser discípulo? Ninguém.
O Poder é do Espírito Santo!
Nós é que fabricamos
requisitos para fazer as coisas para Deus de tal forma que elas se tornam, aos
nossos olhos, impossíveis de serem feitas e assim podemos nos acomodar no nosso
cantinho confortável, com esse desencargo de consciência!
Os
doze escolhidos por Jesus eram um conjunto de homens sem qualquer qualificação
aos olhos humanos para serem discípulos: Pescadores da
insignificante Galileia, um fiscal corrupto - Publicano, um partidário
da extrema esquerda; o melhor do colégio apostólico, presumidamente nascido na
Judeia (onde ficava Jerusalém) era Judas Iscariotes, que traiu Jesus e
enforcou-se.
Mas
estes homens simples fizeram coisas extraordinárias, fizeram discípulos de
Jesus Cristo.
Se eu e você estamos
reunidos nesta noite para cultuar a Deus é porque discipulado é a missão da
igreja, é a missão de cada cristão, é a minha e a sua missão, e aqueles homens
a cumpriram não por serem especiais,
mas pelo Poder do Espírito Santo que
neles habitava e em nos habita!
O
que te falta para ser um discípulo de Jesus? Nada! O que te falta para fazer discípulos de
Jesus? Nada!
Tudo
já foi colocado à nossa disposição, talvez só nos falte deixar o preconceito, a
omissão e fazer o que Jesus ordenou.
Mas um segundo aspecto que
Marcos apresenta é...
*2) DISCIPULADO É UMA QUESTÃO DE PRIORIDADE E OBJETIVOS (vv. 18 e 20)!
*“18. Então, imediatamente, eles largaram as redes e o seguiram.
20. e logo os chamou. E eles passaram a segui-lo, deixando seu pai Zebedeu
com os empregados no barco.” (Mc 1.18
e 20).
Estavam os quatro pescando,
cuidando de ganhar o sustento de suas famílias, Jesus vem, prega, os chama, e
eles largam tudo e o seguem.
Como aplicar uma imagem
destas nos nossos dias! Assim que eu aceito Jesus como Senhor e Salvador devo
deixar o escritório, a máquina na fábrica; devo deixar o emprego e segui-lo?
Mas eu e minha família vamos
viver de que?
*Não é essa em primeiro lugar a ideia do
discipulado. Em Mateus 28.19, que já lemos está escrito: “19. Portanto, IDE (poreúthentes: tendo ido, indo), fazei discípulos de todas as nações, (...)”.
“Ide” não é a melhor tradução isolada desta palavra[2],
porque parece que é um imperativo para deixar um lugar e ir para outro, quando,
na verdade, o foco da ordem está em “fazer
discípulos”, não em “ir”!
A
ideia é: Quando vocês saírem para fazer as atividades de vocês
façam discípulos. Enquanto vocês viverem suas vidas, façam discípulos.
Esclarecido isso, se é só
fazer discípulos no nosso dia-a-dia, eu pergunto:
*Você está fazendo discípulos, ou está sendo
discipulado, ou discipulando alguém? E, se não está, por que não está?
Pode ser que você não saiba como
fazer isso, então me procure, procure o pastor Carlos, e quando nosso pastor
voltar de férias, o procure, e vamos ajudar você a cumprir efetivamente a única
missão dada por Jesus.
Mas pode ser que não seja
uma questão de saber ou não saber como ser discípulo e fazer discípulos, pode
ser que você não queira fazer isso! Aí é uma questão de prioridades ou de
objetivos, e é sobre isso que o texto fala e eu quero tratar agora.
Vamos comparar duas figuras
que o texto apresenta: os dois pares de irmão (Pedro e André; Tiago e João) e a
única outra pessoa que é identificada pelo seu nome no texto: Zebedeu, pai de Tiago e João.
*Zebedeu
devia ser uma pessoa muito importante na sua região, é a única pessoa que não
seguiu Jesus e é mencionado pelo nome mais de uma vez no Novo Testamento. Mesmo
seus filhos tendo sido discípulos de Jesus, quando Jesus está no Getsemani, no
momento de maior agonia emocional de seu ministério, Tiago e João não tem seus
nomes mencionados, são tratados apenas como “os dois Filhos de Zebedeu” (Mateus 26.37):
*“37. E
levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a
entristecer-se e angustiar-se.” (Mt 26.37)
Sua esposa era umas das
mulheres que seguiram Jesus e ajudavam no sustento do grupo, mas seu nome não aparece, ela é sempre
mencionada como “a mulher de Zebedeu”
(Mateus 20.20, 27.56).
Mas apesar de ser uma pessoa
importante, um microempresário (afinal de contas ele tinha barcos, empregados e
redes, não era um pescador que vendia o peixe de tarde para ter o que comer à noite),
apenas disso ele ficou para trás com seus barcos, suas redes e seus empregados
e seus filhos e sua esposa seguiram a Jesus!
Isso é sintomático. Zebedeu representa muitos cristãos hoje em
dia, que não tem uma ordem de prioridade espiritual adequada, por isso
não são discipulados, nem discipulam ninguém para Jesus.
Em razão do tempo, vou
enumerar e sintomas que mostram porque Zebedeu não se tornou um discípulo de
Jesus, estes quatro argumentos não são meus, são do Pr. Isaltino Gomes Coelho
Filho, os ouvi em uma mensagem dele chamada “Síndrome de Zebedeu”, posso enviar
para você por WhatsApp depois se tiver interesse em ouvir, basta que você me
envie uma mensagem solicitando.
Porque
Zebedeu não foi discípulo nem discipulador (aplicando a nós mesmos que
estamos refletindo neste texto hoje):
*1)
Porque ele era importante demais para se ocupar de “realidades espirituais” (discipulado,
igreja, Bíblia etc.).
2)
Porque ele era muito ocupado em ganhar dinheiro para se ocupar com Jesus.
*3)
Porque ele era muito ocupado para entender que Jesus poderia dar uma nova
dimensão à sua vida (ao fazer discípulos para Jesus nossas vidas
ganham um significado eterno).
4)
porque ele era incapaz de entender a diferença entre o “bom” (coisa
lícitas desta vida, como por exemplo o trabalho) e o “essencial” (uma vida de intimidade com Cristo).
Zebedeu,
apesar do significado do seu nome ser muito bonito (PRESENTE E DEUS) não
entendeu que seguir a Jesus é um presente, ser um discípulo é um presente,
fazer discípulos de Cristo é um presente de Deus!
Pedro, André, Tiago e João
entenderam a urgência, a sublime tarefa, a relevância em ser discípulo de Jesus
e depois fazer discípulos para Jesus.
*Eles entenderam a diferença entre
religiosidade e discipulado:
Religiosidade é
um “conselho” sobre como você
deve viver sua vida para conquistar acesso a Deus, sua tarefa é seguir esse
conselho, e seguir sem muitos “exageros”,
da melhor maneira que você puder, e
então cumprirá sua “tarefa” e ficará em paz com Deus! Isso é religiosidade, não
é Evangelho e não é discipulado.
Evangelho
e discipulado nada tem a ver com seguir “conselhos”, mas
sim com o fato de ser chamado para
seguir um Rei. Esse Rei não é apenas alguém com poder e autoridade para
dizer o que precisa ser feito, mas sim com
poder e autoridade para fazer o que precisa ser feito, oferecendo a você o
que Ele fez, como “Boas-Novas”!
Os discípulos deixaram suas
famílias, seu trabalho porque entenderam que valia a pena ser discípulo de
Jesus e fazer discípulo de Jesus. Talvez hoje nos falte tomar essa decisão, não a de sair de casa e do emprego para
ser e fazer discípulos, mas a de
abrir a nossa casa e usar o nosso trabalho para sermos discipulados
e fazermos discípulos e Jesus!
Por fim, a última observação,
podemos pensar que...
3) DISCIPULADO É UM CHAMADO À SUBMISSÃO EM UMA VIDA ENTRE DOIS
CHAMADOS (v. 17 e Jo 21.22).
*“17. Disse-lhes Jesus: Vinde a mim (...).
18. Então, imediatamente, eles largaram as redes e o seguiram.
20. e logo os
chamou. E eles passaram a
segui-lo, (...).” (Marcos 1.17, 18 e 20).
Pedro, André, Tiago e João
se tornaram discípulos de Jesus por se
submeterem a Jesus. Deixaram tudo para seguir um pregador itinerante que
falava com autoridade, não como os escrivas e fariseus!
O
chamado à submissão está no centro do convite do Evangelho em toda a Bíblia!
*Podemos concluir da reação dos discípulos,
que aquele que não é obediente, que não se submete a Jesus, não tem uma fé verdadeira. Foi
isso que o apóstolo João, o mesmo João que deixou suas redes para seguir Jesus,
veio a escrever mais tarde. Veja o texto de 1ª João 2.4 e 6:
“4. Aquele que diz: Eu
o conheço, e não guarda seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está
nele.
6. Quem afirma estar nele também deve andar como ele andou.” (1 João 2.4 e 6).
Somos cristãos graças ao
Senhor, não é mérito nosso!
Mas se somos cristãos,
precisamos ser discípulos e precisamos fazer discípulos, ou como diz João: “a verdade não está em nós”!
*Um dos melhores livros escritos sobre
discipulado é do Pastor alemão Dietrich Bonhoeffer.
Bonhoeffer morreu enforcado em
09 de abril de 1945, no campo de concentração de Flossenbürg (três semanas
antes da libertação deste campo pelo exército aliado); Ele morreu por se
recusar a se submeter à loucura do nazismo, como o fez a igreja oficial da Alemanha.
*É de Bonhoeffer a frase de que “só posso aprender o que é obediência
enquanto obedeço”[3].
*Em seu livro “Discipulado”, Bonhoeffer faz a
seguinte pergunta[4]:
“A
necessidade de nossa Igreja consiste cada vez mais na pergunta: Como podemos
viver uma vida cristã nos dias de hoje?”
Você
consegue perceber a urgência e a importância do discipulado na visão bíblica,
segundo o mandamento de Jesus de fazermos discípulos?
E quando começa e quando
termina o nosso discipulado? Quando eu começo a ser discipulado e fazer
discípulos e quando eu paro?
Você começa quando está
sendo evangelizado e termina quando morre, ou, então quando Jesus voltar, o que
acontecer primeiro!
*Discipulado
é uma vida entre dois chamados: O de Marcos 1.17 “Vinde a mim”; e o de João 21.22
“Jesus lhe respondeu: Se eu quiser que
ele fique até que eu venha, que te importa? Segue-me tu!”.
*Segue-me
tu!
Discipulado requer um
compromisso pessoal; requer entender que é o Espírito Santo quem nos capacita
para o serviço cristão, a despeito das nossas inúmeras limitações; é entender
que discipulado é a razão da nossa permanência na terra após nossa salvação, é
o que de mais importante podemos fazer no Reino de Deus; é submeter-se à
vontade de Jesus, mesmo contra a nossa própria vontade; discipulado é nada mais, nada menos que a nossa própria vida como
cristãos neste mundo, até a nossa morte!
Eu quero dar meu testemunho
pessoal! Deus me deu o privilégio de discipular dois irmãos! Nosso Seminarista
Ricardo e o irmão George!
Tem sido uma experiência
extraordinária! Nós compartilhamos nossas vidas, nossas lutas, oramos uns pelos
outros (esta semana compartilhei com os dois um pedido de oração familiar, algo
muito intimo que Deus respondeu e eu fiquei tão feliz que fiz questão de falar
com dos dois assim que soube); nós meditamos juntos na Bíblia. Nos animamos
mutuamente, pensamos juntos sobre assuntos do dia-a-dia, do mundo, e buscamos
em oração e na Bíblia um posicionamento sobre eles.
Não
há como falar em discipulado de forma teórica, sem viver experencialmente como
é bom ser discipulado e ser discipulador!
E, para finalizar eu quero
ler a resposta do Pastor Bonhoeffer, sobre como nós, a igreja de Cristo,
podemos viver uma vida cristã nos dias de hoje:
“Bem-aventurados
os que já se encontram no final do caminho que pretendemos percorrer e,
surpresos, compreendem o que de fato parece incompreensível: que a graça é
preciosa exatamente por ser graça pura, por ser a graça de Deus em Jesus
Cristo. Bem-aventurados os que, na simplicidade
do discipulado de Jesus Cristo, estão tomados por essa graça e que, em
humildade de espírito, podem louvar a graça de Cristo que tudo opera. Bem-aventurados os que podem viver no
mundo, no conhecimento dessa graça, sem para ele se perder, e para os quais a
certeza do lar celestial é tamanha que, no discipulado de Jesus Cristo são
livres de fato para a vida neste mundo. Bem-aventurados
os que consideram o discipulado de Jesus Cristo nada mais que a vida
fundamentada na graça, e a graça, nada mais que o discipulado. Bem-aventurados os que, neste sentido,
se tornaram cristãos, para os quais a palavra graça se revelou misericordiosa.”[5]
Eu creio que depois desta
resposta sobre a graça de Jesus e o discipulado, da parte de um homem que foi
fiel até a morte, eu não preciso dizer
mais nada, só quero orar, para que o Espírito Santo me incomode e te incomode
tanto, mais tanto, que não consigamos deixar de ser um discípulo de
Jesus e discipular outros irmãos em Cristo, até que o Senhor volte, ou até
que Ele nos chame para junto dele.
Vamos orar!
Linhares, 06 de janeiro de
2021.
Pr.
Marcos José Milagre
PIB
Linhares - ES
[1]
O Talmude é composto da Mishná
– que é a primeira grande redação na forma
escrita da tradição
oral judaica, e do Guemará –
discussão da Mishná e dos escritos tanaíticos). A primeira codificação é
atribuída ao Aquiba (50
d.C. – 130 d.C.), e uma segunda, ao Rabi
Meir (entre 130 d.C. e 160 d.C.), ambas as versões tendo
sido escritas no atual idioma aramaico, ainda em uso no interior
da Síria.
[2]
O uso de “Ide” é justificado como imperativo pelo fenômeno gramatical grego da
“circunstância atendente”, em que o verbo anterior aoristo segue a construção
do imperativo aoristo posterior. WALLACE, Daniel B. Gramática Grega: uma
sintaxe exegética do Novo Testamento. São Paulo: Editora Batista Regular do
Brasil, 2009, nota de rodapé na p. 642.
[3]
BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, p. 38.
[4] Op. Cit., p. 31.
[5] Op. Cit., p. 31.
Nenhum comentário:
Postar um comentário