*“AS DUAS CRUZES”
(Marcos 8.27-38)
Sermão preparado para a PIB Linhares, em 24/01/2021, domingo
noite (Série em Marcos – 6).
Boa noite irmãos.
Esta é a penúltima mensagem
no Evangelho de Jesus Cristo Segundo Marcos.
E nós não poderíamos deixar
a reflexão em um Evangelho sem falarmos de cruz. Nesta noite vamos falar de
cruz, de duas cruzes.
E para tanto eu peço a todos
que abram suas Bíblias no Evangelho segundo Marcos, no capítulo 8, versos 27 ao
38:
“1.” (Marcos 8.27-38).
“AS DUAS CRUZES”.
Vamos orar mais uma vez!
Nossa reflexão nesta noite
terá dois tópicos. Duas cruzes, dois tópicos.
E a primeira cruz em que
vamos meditar é...
*1) A CRUZ DO MESSIAS! (v. 29).
*“29. Então ele lhes perguntou: Mas vós, quem dizeis que eu sou?
E Pedro respondeu-lhe: Tu és o Cristo.” (Mc 8.29).
*Este trecho das escrituras começa com Jesus
indo com seus discípulos para os povoados próximos a Cesareia de Filipe, que
ficava no sopé do Monte Hermom.
Jesus então se volta para os
seus discípulos e dispara esta pergunta:
*“Quem
os homens dizem que eu sou?”
Esta
é a principal questão colocada diante da humanidade:
QUEM
É JESUS?
Os seus discípulos
apresentam as percepções de seus conterrâneos sobre Ele (verso 28):
“Alguns dizem que és João Batista; outros Elias; e ainda outros, algum dos profetas”.
O ministério de Jesus tem
grande identificação com o ministério de grandes profetas: a denúncia da
injustiça; a cura dos necessitados; a pregação de arrependimento. Mas nenhuma
dessas atividades conseguia identificar plenamente Jesus!
Por exemplo, o ministério de
Elias envolveu a missão profética, poderes milagrosos de cura e inclusão dos
gentios nesta atuação de poderes. O Judaísmo tinha especialmente a crença da
volta de Elias, porque ele foi levado vivo para o céu, como descreve 2 Reis
2.11.
Cada pessoa que você parar
na rua, e perguntar: Quem você diz que é
Jesus? Cada um terá uma reposta, porque é impossível não ser impactado pela
pessoa de Jesus!
*O cristianismo não é um conjunto de valores,
muito embora os tenhamos; o cristianismo não é uma doutrina, muito embora tenha
um corpo doutrinário estabelecido, mas o
Cristianismo é uma pessoa: Jesus,
o Cristo!
Cristo é uma transliteração
da palavra grega para “ungido”! É o mesmo conceito da palavra hebraica para
“Messias”!
Certamente Jesus não era o
“ungido”, ou “Messias” que a grande maioria dos judeus aguardava.
No Antigo Testamento três
categorias eram ungidas: Reis,
sacerdotes e profetas!
A ideia do “Messias”
esperado era a de um Rei, poderoso, sábio no Espírito Santo, dotado de poderes
milagrosos, santo e livre do pecado. O ungido derradeiro e verdadeiro rei de
Israel que destruiria os inimigos de Deus por meio da palavra da sua boca,
libertaria Jerusalém dos gentios, reuniria os fiéis dispersos e governaria em
Justiça e Glória.
A ideia de como seria o
Messias é bem descrito no Livro apócrifo “Salmos de Salomão”, que foi escrito
por volta do ano 60 a.C.):
21.
Veja,
Senhor, e levanta-lhes o rei deles, filho
de Davi, para reinar sobre Israel, seu servo, no tempo que escolheste,
Deus.
22.
Guarneceste-o
com o poder para destruir os governantes injustos, para purificar Jerusalém dos
gentios que a pisaram para destruir.
23.
para
expulsar com sabedoria e justiça os pecadores da herança; para abater a
arrogância dos pecadores como a jarra do oleiro.
24.
para quebrar
com vara de ferro toda a substancia deles; para destruir as nações ímpias com
apalavra de sua boca.
25.
para fazer
as nações fugirem da sua face ameaçadora, e expor os pecadores pela palavra de
seus corações:
26.
E ele
ajuntará um povo santo, a quem dirigirá em justiça. E ele julgará as tribos do
povo santificado pelo Senhor Deus deles.
27.
Ele não
permitirá que permaneça injustiça no meio deles, e todo o homem que conhece a
perversidade não viverá com eles. Por que ele os conhecerá todos como filhos do
Deus deles.
28.
E ele os
distribuirá nas suas tribos sobre a terra; o peregrino e o estrangeiro não
habitará muito tempo com eles.
29.
Ele julgará
povos e nações na sabedoria de sua justiça (pausa).
30.
E ele terá
nações gentílicas servindo-o debaixo de seu jugo, e ele glorificará o Senhor
num lugar visível a partir de toda a terra. E ele purificará Jerusalém com
consagração, como no início.” (Salmos de Salomão 17.23-30).
Essa identificação do
Messias com “reinado” também estava na mentalidade do Sinédrio diante de
Pilatos:
Lucas 22.67 e 23.2:
“67. Dize-nos se
tu és o Cristo. Ele respondeu: Se eu disser não crereis.
2. E começaram a acusa-lo, dizendo: Achamos este homem
perturbando a nossa nação, proibindo pagar o imposto a César e dizendo ser ele mesmo o Cristo, um rei.”
(Lucas 22.67 e 23.2).
Mentiram e estavam
equivocados, Jesus nunca se identificou a figura do Cristo ao reinado, mas ao
sofrimento, à figura do servo sofredor
narrado pelo Profeta Isaias (capítulo 53).
*Jesus disse inclusive, verso 31, que “era
necessário que o Filho do homem sofresse muitas coisas, fosse rejeitado (apodokimasthênai)
pelos líderes religiosos, principais sacerdotes e escribas, fosse morto e
depois de três dias ressuscitasse.”
A palavra grega que Marcos
usa para “rejeitado” tem origem no
substantivo “dokimasia” (literalmente: exame, avaliação), referia-se ao
exame minucioso, o escrutínio, ao qual era submetido um magistrado eleito em
Atenas para ver se ele estava legalmente qualificado para o cargo!
Jesus disse que Ele não
passaria na prova (no exame, no escrutínio, na avaliação) que seria feita pelos
“lideres religiosos, principais
sacerdotes e escribas”!
Jesus
talvez não passasse na avaliação de muitos “cristãos” dos nossos dias,
porque nós temos o mal hábito de criar padrões na nossa mente de como as coisas
ou pessoas devem ser, e quando elas estão diante dos nossos olhos as
rejeitamos, porque não são como idealizamos.
Outro dia recebemos em um
grupo do WhatsApp um Edital lançado por uma igreja de outro Estado, que
estabelecia os requisitos para aqueles que desejassem se candidatar ao cargo de
pastor titular daquela igreja.
Os requisitos eram tão
impecáveis que nem o Apóstolo Paulo poderia ser escolhido, talvez nem Jesus
Cristo pudesse ser pastor daquela igreja se os requisitos do Edital fossem
todos exigidos.
O Messias foi idealizado de
tal forma pelos líderes religiosos de seus dias que eles simplesmente o
rejeitaram quando Ele apareceu na figura de Jesus por não o reconhecer!
Cuidado
para que você também não idealize Jesus Cristo de forma diferente do que Ele é
apresentado pela Bíblia e venha a se decepcionar depois, não com Jesus, mas com
o tipo de Jesus que você mesmo idealizou na sua mente.
Mas o texto continua, Jesus
depois de perguntar aos discípulos como as demais pessoas o viam, Ele se volta
novamente e estreita a questão (verso 29): “Mas vós, quem dizeis que eu sou?”
*Os outros tudo bem, vocês já me disseram, mas
agora vocês precisam examinar seus corações, refletir em suas mentes, e me
responder, quem eu sou PARA VOCÊS?
Ora, as repostas obviamente
não podem ser iguais! Se as pessoas que não são meus discípulos, que não tem
intimidade comigo pensam de tal forma, é lógico que meus discípulos, aqueles com quem eu tenho maior intimidade devem me
conhecer um pouco melhor!
Pedro, falando aparentemente
pelo grupo diz: “Tu és o Cristo”. Pedro disse que Jesus era o Messias, o
ungido.
Mas
que tipo de “Messias” Pedro estava confessando diante dos seus colegas
de ministério apostólico?
Não era o messias que Jesus
representava, pois no verso 31 Jesus disse que (i) seria rejeitado pela liderança religiosa de Israel; (ii) seria morto; e (iii) ressuscitaria depois de três
dias.
Jesus não se encaixava na
figura do Messias que os discípulos tinham ouvido falar desde a sua infância. O
Messias seria aclamado pela liderança religiosa, governaria o reino de Israel
com grande glória, derrotaria os gentios, e que conversa era essa de
ressuscitar, onde já se viu alguém auto ressuscitar?
Então Pedro fez o que muitas
vezes nós também queremos fazer com Jesus, moldá-lo à imagem que temos dele, e
não nos submeter à pessoa dele e aos seus ensinos como eles são. Verso 32: “E ele
dizia isso abertamente. Mas Pedro, chamando-o em particular, começou a
repreendê-lo.”
Você já pensou, alguém
tentar repreender Jesus Cristo?
Então Pedro é severamente
repreendido por Jesus, que disse que ele
não pensava nas coisas de Deus, mas nas coisas dos homens!
“Coisas dos homens” é aquilo que sempre foi: Dinheiro, fama, Poder e prosperidade
material.
Mudam as estações, mas não
muda o coração humano pecador!
No
que nós pensamos irmãos?
Nas
coisas de Deus ou nas coisas dos homens?
Jesus, o Cristo, veio para
passar pela sua Cruz, era só dele, e não era um fim. A cruz não era o objetivo, ela era um
caminho, um itinerário pelo qual só Jesus poderia passar.
O objetivo era a ressurreição,
pois foi ela que nos assegurou a vitória sobre a morte:
*O apóstolo Paulo com essa convicção escreveu
o cântico de Vitória (1 Cor 15.55): “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde
está, ó morte, o teu aguilhão?”.
1 Cor 6.14: “Deus não somente ressuscitou o Senhor, mas
também nos ressuscitará pelo seu poder”.
A
primeira cruz de que estamos falando era de vergonha, de
ultraje, de morte, mas também era a cruz da salvação, a cruz onde a justiça de
Deus foi cumprida, essa cruz tinha um nome; o nome do único que poderia morrer e vence o pecado e a morte, e nos
garantir a mesma vitória: Jesus! Jesus, Jesus!
Esta primeira cruz é o lugar
em que o amor foi provado de
maneira concreta, quando Deus se entregou por nós.
*Um autor de quem eu gosto muito, John Stott,
o que ele escreve vale a pena ser lido, e ele escreveu talvez um dos melhores
livros sobre “A cruz de Cristo”,
este é título do livro. Stott disse o seguinte sobre Jesus ter morrido na cruz,
por pecadores que não o mereciam:
“É por isso que, se estamos procurando uma
definição de amor, não devemos ir ao dicionário, mas ao Calvário.”
Esta é a primeira cruz,
aquela na qual a nossa salvação foi garantida por amor e pela graça!
Talvez você não se sinta
amado, ou valorizado, durante toda a sua existência, mas esta primeira cruz, a
cruz de Cristo, revela o perfeito
e completo amor de Deus por mim e por você!
Mas ainda temos a segunda
cruz para olhar!
E essa segunda cruz é uma
resposta vivencial à pergunta de Jesus:
Quem
vocês dizem que eu sou?
A nossa resposta pessoal é
que vai dizer se temos as duas cruzes
como um marco nas nossas vidas: a
Cruz de Cristo, a oferta de salvação e vida plena e a segunda cruz: A nossa cruz, a aceitação desta
salvação, com todas as mudanças que ela causa.
Porque esta segunda cruz,
é...
*2) A CRUZ DOS DISCÍPULOS DE JESUS: NOSSA CRUZ! (v. 34).
*“34. E, chamando a multidão com os
discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser
vir após mim, negue a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.” (Mc
8.34).
Este convite foi uma
resposta à atitude de Pedro de tentar repreender ao Senhor!
Pedro confessou Jesus como
Cristo, mas não sabia ainda direito o tipo de Cristo que Ele era, nem quais eram
as implicações em seguir esse Cristo, Jesus.
Jesus então esclarece o que
seus discípulos precisam saber e fazer para serem verdadeiramente discípulos
seus!
*Negar-se
a si mesmo, tomar a sua cruz, e segui-lo.
“Negar-se” é morrer para nós mesmos, para que a vontade de
Jesus passe a dirigir o nosso sentido de vida!
“Tomar a cruz” é comprometer-se sem ressalvas, sem meios
termos, sem negociação, a um relacionamento com Jesus Cristo.
“Segui-lo” é viver uma vida compromissada com sua vontade,
com seus ensinos, que honre o seu nome, uma vida repleta de significado.
Mas isso importa em tomarmos
“a nossa cruz”!
Este tomar a cruz tem
algumas implicações:
*1) A
primeira delas é que apenas o “sofrimento” não é sinônimo de cruz para o
discípulo:
Precisamos refletir que,
contrariamente ao que dito em muitas historietas cândidas, motivacionais, a
nossa cruz não é simplesmente o “sofrimento”.
Há quem pense que o
sofrimento é a sua cruz, mas não é, muito embora sofrer possa ser necessário, mas o simples sofrimento não identifica
a cruz do discípulo de Jesus.
Isto porque todo sofrem, mas
nem todos carregam a cruz do discípulo: Judeus sofrem, budistas sofrem,
hinduístas sofrem, mulçumanos sofrem, até os ateus sofrem.
Sofrimento não identifica a
cruz do discípulo, mas o propósito sim! Se for necessário sofrer para que Jesus
seja glorificado, honrado, então o discípulo não terá qualquer dúvida em sofrer
por amor ao seu mestre.
Cruz é um propósito de vida
com Cristo, não com o sofrimento, porque não somos masoquistas, o sofrimento
não nos dá prazer, mas o suportaríamos com prazer, se fosse para a Glória de
Deus!
*2)
Em segundo lugar, a cruz individualiza nosso relacionamento com Jesus:
O Senhor disse “tome a sua cruz”! Eu não posso
tomar a cruz de ninguém e ninguém pode tomar a minha, há uma cruz para cada um
que quer ser relacionar com Jesus.
Jesus mantém o discipulado
no nível individual conosco.
Cada um deve escolher se vai segui-lo ou não, cada um deve decidir se vai tomar
a cruz e segui-lo, ou não.
Há um processo, ninguém
segue Jesus em negar-se a si mesmo, nem sem a sua cruz.
*3) Quem
quer seguir a Jesus sem cruz não consegue, é impossível, a cruz é o que nos identifica com Jesus. Eu sem a cruz não sou identificado com Jesus,
você sem a cruz não é identificado como discípulo de Jesus!
*4) Em
quarto lugar, a cruz mostra que somos submissos a Jesus!
O apóstolo Paulo disse
(Filipenses 2.8) que Jesus foi “obediente até a morte, e morte de cruz”.
Submissão à vontade do Pai,
obediência ao plano eterno de salvação, e obediente até à morte, e morte de
cruz.
E tem muito “alecrim dourado”
achando que o cristianismo é uma vida de abastança, prosperidade material e
bem-estar emocional. Muito dinheiro no bolso e saúde para dar e vender!
Cristianismo
é cruz; e cruz é obediência a Jesus; e obediência a Jesus é que traz significado
às nossas vidas e plenitude de vida!
*5)
Porque, em último lugar, a cruz nos faz esquecer o que é menos importante!
Quando carregamos um peso
muito grande, até esquecemos o resto! No exército quando íamos para exercícios
no terreno, precisávamos carregar a mochila, com tudo que fosse necessário por
uma semana, o fuzil, capacete de aço, cantil, facão para o mato etc.
Não havia espaço na mente
para mais nada, o peso era tanto e o foco na objetivo era tamanho que não havia
espaço para outros pensamentos.
A cruz faz com que o
discípulo permaneça focado na sua missão de seguir Jesus!
Todas as demais coisas
perdem o status de importante, porque seguir a Jesus até o fim passa a ser a
missão diária.
O que é menos importante
ganha o lugar que é devido, para que Jesus ocupe o seu lugar de direito, o
primeiro lugar.
A
cruz realinha as nossas prioridades!
Quem não tem o
relacionamento de discípulo com Jesus como prioridade na sua vida é porque deixou a cruz que lhe estava
proposta no meio do caminho, talvez esteja até perdido na vida cristã
sem a cruz para dar-lhe este sentido.
Quem
nunca tomou a cruz sobre si
para seguir a Jesus, ainda não sabe o que é “significado
existencial”, também está perdido, muito perdido, porque somente conhecendo o
Senhor da primeira cruz e tomando sobre si a segunda cruz é que a vida passa a
ter significado, é quando tudo se encaixa.
Até esse momento, ficamos
batendo cabeça, aqui e ali, sem saber o que fazer com Jesus que continua a
perguntar:
*Quem
sou eu para você?
Quem
sou eu para você?
Enquanto você não der a
resposta correta, enquanto você não viver a resposta correta, a pergunta vai
continuar ecoando na sua alma!
Duas cruzes: a cruz de
Cristo (a nossa salvação); e a nossa cruz (o discipulado).
Este é o convite de Jesus
nesta noite!
Receba estas duas cruzes na
sua vida! Permita que elas moldem o seu caráter e a sua vida!
E toda as demais coisas, o
Senhor acrescentará à sua caminhada.
Vamos orar!
Linhares, 24 de janeiro de
2021.
Pr.
Marcos José Milagre
PIB
Linhares – ES
A Paz do Senhor, gosto muito das suas pregações gostaria de saber se tem alguma em eclesiastes 3. Pra mim estudar um pouco
ResponderExcluirDeus abençoe