terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

AS DUAS CRUZES

 

*“AS DUAS CRUZES”

(Marcos 8.27-38)

Sermão preparado para a PIB Linhares, em 24/01/2021, domingo noite (Série em Marcos – 6).

 

Boa noite irmãos.

 

Esta é a penúltima mensagem no Evangelho de Jesus Cristo Segundo Marcos.

 

E nós não poderíamos deixar a reflexão em um Evangelho sem falarmos de cruz. Nesta noite vamos falar de cruz, de duas cruzes.

 

E para tanto eu peço a todos que abram suas Bíblias no Evangelho segundo Marcos, no capítulo 8, versos 27 ao 38:

 

“1.” (Marcos 8.27-38).

 

“AS DUAS CRUZES”.

 

Vamos orar mais uma vez!

 

Nossa reflexão nesta noite terá dois tópicos. Duas cruzes, dois tópicos.

 

E a primeira cruz em que vamos meditar é...

 

*1) A CRUZ DO MESSIAS! (v. 29).

 

*“29. Então ele lhes perguntou: Mas vós, quem dizeis que eu sou? E Pedro respondeu-lhe: Tu és o Cristo.” (Mc 8.29).

 

*Este trecho das escrituras começa com Jesus indo com seus discípulos para os povoados próximos a Cesareia de Filipe, que ficava no sopé do Monte Hermom.

 

Jesus então se volta para os seus discípulos e dispara esta pergunta:

 

*“Quem os homens dizem que eu sou?”

 

Esta é a principal questão colocada diante da humanidade:

 

QUEM É JESUS?

 

Os seus discípulos apresentam as percepções de seus conterrâneos sobre Ele (verso 28):

 

“Alguns dizem que és João Batista; outros Elias; e ainda outros, algum dos profetas”.

 

O ministério de Jesus tem grande identificação com o ministério de grandes profetas: a denúncia da injustiça; a cura dos necessitados; a pregação de arrependimento. Mas nenhuma dessas atividades conseguia identificar plenamente Jesus!

 

Por exemplo, o ministério de Elias envolveu a missão profética, poderes milagrosos de cura e inclusão dos gentios nesta atuação de poderes. O Judaísmo tinha especialmente a crença da volta de Elias, porque ele foi levado vivo para o céu, como descreve 2 Reis 2.11.

 

Cada pessoa que você parar na rua, e perguntar: Quem você diz que é Jesus? Cada um terá uma reposta, porque é impossível não ser impactado pela pessoa de Jesus!

 

*O cristianismo não é um conjunto de valores, muito embora os tenhamos; o cristianismo não é uma doutrina, muito embora tenha um corpo doutrinário estabelecido, mas o Cristianismo é uma pessoa: Jesus, o Cristo!

 

Cristo é uma transliteração da palavra grega para “ungido”! É o mesmo conceito da palavra hebraica para “Messias”!

 

Certamente Jesus não era o “ungido”, ou “Messias” que a grande maioria dos judeus aguardava.

 

No Antigo Testamento três categorias eram ungidas: Reis, sacerdotes e profetas!

 

A ideia do “Messias” esperado era a de um Rei, poderoso, sábio no Espírito Santo, dotado de poderes milagrosos, santo e livre do pecado. O ungido derradeiro e verdadeiro rei de Israel que destruiria os inimigos de Deus por meio da palavra da sua boca, libertaria Jerusalém dos gentios, reuniria os fiéis dispersos e governaria em Justiça e Glória.

 

A ideia de como seria o Messias é bem descrito no Livro apócrifo “Salmos de Salomão”, que foi escrito por volta do ano 60 a.C.):

 

21.    Veja, Senhor, e levanta-lhes o rei deles, filho de Davi, para reinar sobre Israel, seu servo, no tempo que escolheste, Deus.

22.    Guarneceste-o com o poder para destruir os governantes injustos, para purificar Jerusalém dos gentios que a pisaram para destruir.

23.    para expulsar com sabedoria e justiça os pecadores da herança; para abater a arrogância dos pecadores como a jarra do oleiro.

24.    para quebrar com vara de ferro toda a substancia deles; para destruir as nações ímpias com apalavra de sua boca.

25.    para fazer as nações fugirem da sua face ameaçadora, e expor os pecadores pela palavra de seus corações:

26.    E ele ajuntará um povo santo, a quem dirigirá em justiça. E ele julgará as tribos do povo santificado pelo Senhor Deus deles.

27.    Ele não permitirá que permaneça injustiça no meio deles, e todo o homem que conhece a perversidade não viverá com eles. Por que ele os conhecerá todos como filhos do Deus deles.

28.    E ele os distribuirá nas suas tribos sobre a terra; o peregrino e o estrangeiro não habitará muito tempo com eles.

29.    Ele julgará povos e nações na sabedoria de sua justiça (pausa).

30.    E ele terá nações gentílicas servindo-o debaixo de seu jugo, e ele glorificará o Senhor num lugar visível a partir de toda a terra. E ele purificará Jerusalém com consagração, como no início.” (Salmos de Salomão 17.23-30).

 

Essa identificação do Messias com “reinado” também estava na mentalidade do Sinédrio diante de Pilatos:

 

Lucas 22.67 e 23.2:

 

“67. Dize-nos se tu és o Cristo. Ele respondeu: Se eu disser não crereis.

 

2. E começaram a acusa-lo, dizendo: Achamos este homem perturbando a nossa nação, proibindo pagar o imposto a César e dizendo ser ele mesmo o Cristo, um rei.” (Lucas 22.67 e 23.2).

 

Mentiram e estavam equivocados, Jesus nunca se identificou a figura do Cristo ao reinado, mas ao sofrimento, à figura do servo sofredor narrado pelo Profeta Isaias (capítulo 53).

 

*Jesus disse inclusive, verso 31, que “era necessário que o Filho do homem sofresse muitas coisas, fosse rejeitado (apodokimasthênai) pelos líderes religiosos, principais sacerdotes e escribas, fosse morto e depois de três dias ressuscitasse.

 

A palavra grega que Marcos usa para “rejeitado”  tem origem no substantivo “dokimasia” (literalmente: exame, avaliação), referia-se ao exame minucioso, o escrutínio, ao qual era submetido um magistrado eleito em Atenas para ver se ele estava legalmente qualificado para o cargo!

 

Jesus disse que Ele não passaria na prova (no exame, no escrutínio, na avaliação) que seria feita pelos “lideres religiosos, principais sacerdotes e escribas”!

 

Jesus talvez não passasse na avaliação de muitos “cristãos” dos nossos dias, porque nós temos o mal hábito de criar padrões na nossa mente de como as coisas ou pessoas devem ser, e quando elas estão diante dos nossos olhos as rejeitamos, porque não são como idealizamos.

 

Outro dia recebemos em um grupo do WhatsApp um Edital lançado por uma igreja de outro Estado, que estabelecia os requisitos para aqueles que desejassem se candidatar ao cargo de pastor titular daquela igreja.

 

Os requisitos eram tão impecáveis que nem o Apóstolo Paulo poderia ser escolhido, talvez nem Jesus Cristo pudesse ser pastor daquela igreja se os requisitos do Edital fossem todos exigidos.

 

O Messias foi idealizado de tal forma pelos líderes religiosos de seus dias que eles simplesmente o rejeitaram quando Ele apareceu na figura de Jesus por não o reconhecer!

 

Cuidado para que você também não idealize Jesus Cristo de forma diferente do que Ele é apresentado pela Bíblia e venha a se decepcionar depois, não com Jesus, mas com o tipo de Jesus que você mesmo idealizou na sua mente.

 

Mas o texto continua, Jesus depois de perguntar aos discípulos como as demais pessoas o viam, Ele se volta novamente e estreita a questão (verso 29): “Mas vós, quem dizeis que eu sou?

 

*Os outros tudo bem, vocês já me disseram, mas agora vocês precisam examinar seus corações, refletir em suas mentes, e me responder, quem eu sou PARA VOCÊS?

 

Ora, as repostas obviamente não podem ser iguais! Se as pessoas que não são meus discípulos, que não tem intimidade comigo pensam de tal forma, é lógico que meus discípulos, aqueles com quem eu tenho maior intimidade devem me conhecer um pouco melhor!

 

Pedro, falando aparentemente pelo grupo diz: “Tu és o Cristo”.  Pedro disse que Jesus era o Messias, o ungido.

 

Mas que tipo de “Messias” Pedro estava confessando diante dos seus colegas de ministério apostólico?

 

Não era o messias que Jesus representava, pois no verso 31 Jesus disse que (i) seria rejeitado pela liderança religiosa de Israel; (ii) seria morto; e (iii) ressuscitaria depois de três dias.

 

Jesus não se encaixava na figura do Messias que os discípulos tinham ouvido falar desde a sua infância. O Messias seria aclamado pela liderança religiosa, governaria o reino de Israel com grande glória, derrotaria os gentios, e que conversa era essa de ressuscitar, onde já se viu alguém auto ressuscitar?

 

Então Pedro fez o que muitas vezes nós também queremos fazer com Jesus, moldá-lo à imagem que temos dele, e não nos submeter à pessoa dele e aos seus ensinos como eles são. Verso 32: “E ele dizia isso abertamente. Mas Pedro, chamando-o em particular, começou a repreendê-lo.

 

Você já pensou, alguém tentar repreender Jesus Cristo?

 

Então Pedro é severamente repreendido por Jesus, que disse que ele não pensava nas coisas de Deus, mas nas coisas dos homens!

 

Coisas dos homens” é aquilo que sempre foi: Dinheiro, fama, Poder e prosperidade material.

 

Mudam as estações, mas não muda o coração humano pecador!

 

No que nós pensamos irmãos?

 

Nas coisas de Deus ou nas coisas dos homens?

 

Jesus, o Cristo, veio para passar pela sua Cruz, era só dele, e não era um fim.  A cruz não era o objetivo, ela era um caminho, um itinerário pelo qual só Jesus poderia passar.

 

O objetivo era a ressurreição, pois foi ela que nos assegurou a vitória sobre a morte:

 

*O apóstolo Paulo com essa convicção escreveu o cântico de Vitória (1 Cor 15.55): “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?”.

 

1 Cor 6.14: “Deus não somente ressuscitou o Senhor, mas também nos ressuscitará pelo seu poder”.

 

A primeira cruz de que estamos falando era de vergonha, de ultraje, de morte, mas também era a cruz da salvação, a cruz onde a justiça de Deus foi cumprida, essa cruz tinha um nome; o nome do único que poderia morrer e vence o pecado e a morte, e nos garantir a mesma vitória: Jesus! Jesus, Jesus!

 

Esta primeira cruz é o lugar em que o amor foi provado de maneira concreta, quando Deus se entregou por nós.

 

*Um autor de quem eu gosto muito, John Stott, o que ele escreve vale a pena ser lido, e ele escreveu talvez um dos melhores livros sobre “A cruz de Cristo”, este é título do livro. Stott disse o seguinte sobre Jesus ter morrido na cruz, por pecadores que não o mereciam:

 

É por isso que, se estamos procurando uma definição de amor, não devemos ir ao dicionário, mas ao Calvário.

 

Esta é a primeira cruz, aquela na qual a nossa salvação foi garantida por amor e pela graça!

 

Talvez você não se sinta amado, ou valorizado, durante toda a sua existência, mas esta primeira cruz, a cruz de Cristo, revela o perfeito e completo amor de Deus por mim e por você!

 

Mas ainda temos a segunda cruz para olhar!

 

E essa segunda cruz é uma resposta vivencial à pergunta de Jesus:

 

Quem vocês dizem que eu sou?

 

A nossa resposta pessoal é que vai dizer se temos as duas cruzes como um marco nas nossas vidas: a Cruz de Cristo, a oferta de salvação e vida plena e a segunda cruz: A nossa cruz, a aceitação desta salvação, com todas as mudanças que ela causa.

 

Porque esta segunda cruz, é...

 

*2) A CRUZ DOS DISCÍPULOS DE JESUS: NOSSA CRUZ! (v. 34).

 

*“34. E, chamando a multidão com os discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.” (Mc 8.34).

 

Este convite foi uma resposta à atitude de Pedro de tentar repreender ao Senhor!

 

Pedro confessou Jesus como Cristo, mas não sabia ainda direito o tipo de Cristo que Ele era, nem quais eram as implicações em seguir esse Cristo, Jesus.

 

Jesus então esclarece o que seus discípulos precisam saber e fazer para serem verdadeiramente discípulos seus!

 

*Negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz, e segui-lo.

 

Negar-se” é morrer para nós mesmos, para que a vontade de Jesus passe a dirigir o nosso sentido de vida!

 

Tomar a cruz” é comprometer-se sem ressalvas, sem meios termos, sem negociação, a um relacionamento com Jesus Cristo.

 

Segui-lo” é viver uma vida compromissada com sua vontade, com seus ensinos, que honre o seu nome, uma vida repleta de significado.

 

Mas isso importa em tomarmos “a nossa cruz”!

 

Este tomar a cruz tem algumas implicações:

 

*1) A primeira delas é que apenas o “sofrimento” não é sinônimo de cruz para o discípulo:

 

Precisamos refletir que, contrariamente ao que dito em muitas historietas cândidas, motivacionais, a nossa cruz não é simplesmente o “sofrimento”.

 

Há quem pense que o sofrimento é a sua cruz, mas não é, muito embora sofrer possa ser necessário, mas o simples sofrimento não identifica a cruz do discípulo de Jesus.

 

Isto porque todo sofrem, mas nem todos carregam a cruz do discípulo: Judeus sofrem, budistas sofrem, hinduístas sofrem, mulçumanos sofrem, até os ateus sofrem.

 

Sofrimento não identifica a cruz do discípulo, mas o propósito sim! Se for necessário sofrer para que Jesus seja glorificado, honrado, então o discípulo não terá qualquer dúvida em sofrer por amor ao seu mestre.

 

Cruz é um propósito de vida com Cristo, não com o sofrimento, porque não somos masoquistas, o sofrimento não nos dá prazer, mas o suportaríamos com prazer, se fosse para a Glória de Deus!

 

*2) Em segundo lugar, a cruz individualiza nosso relacionamento com Jesus:

 

O Senhor disse “tome a sua cruz”! Eu não posso tomar a cruz de ninguém e ninguém pode tomar a minha, há uma cruz para cada um que quer ser relacionar com Jesus.

 

Jesus mantém o discipulado no nível individual conosco. Cada um deve escolher se vai segui-lo ou não, cada um deve decidir se vai tomar a cruz e segui-lo, ou não.

 

Há um processo, ninguém segue Jesus em negar-se a si mesmo, nem sem a sua cruz.

 

*3) Quem quer seguir a Jesus sem cruz não consegue, é impossível, a cruz é o que nos identifica com Jesus.  Eu sem a cruz não sou identificado com Jesus, você sem a cruz não é identificado como discípulo de Jesus!

 

*4) Em quarto lugar, a cruz mostra que somos submissos a Jesus!

 

O apóstolo Paulo disse (Filipenses 2.8) que Jesus foi “obediente até a morte, e morte de cruz”.

 

Submissão à vontade do Pai, obediência ao plano eterno de salvação, e obediente até à morte, e morte de cruz.

 

E tem muito “alecrim dourado” achando que o cristianismo é uma vida de abastança, prosperidade material e bem-estar emocional. Muito dinheiro no bolso e saúde para dar e vender!

 

Cristianismo é cruz; e cruz é obediência a Jesus; e obediência a Jesus é que traz significado às nossas vidas e plenitude de vida!

 

*5) Porque, em último lugar, a cruz nos faz esquecer o que é menos importante!

 

Quando carregamos um peso muito grande, até esquecemos o resto! No exército quando íamos para exercícios no terreno, precisávamos carregar a mochila, com tudo que fosse necessário por uma semana, o fuzil, capacete de aço, cantil, facão para o mato etc.

 

Não havia espaço na mente para mais nada, o peso era tanto e o foco na objetivo era tamanho que não havia espaço para outros pensamentos.

 

A cruz faz com que o discípulo permaneça focado na sua missão de seguir Jesus!

 

Todas as demais coisas perdem o status de importante, porque seguir a Jesus até o fim passa a ser a missão diária.

 

O que é menos importante ganha o lugar que é devido, para que Jesus ocupe o seu lugar de direito, o primeiro lugar.

 

A cruz realinha as nossas prioridades!

 

Quem não tem o relacionamento de discípulo com Jesus como prioridade na sua vida é porque deixou a cruz que lhe estava proposta no meio do caminho, talvez esteja até perdido na vida cristã sem a cruz para dar-lhe este sentido.

 

Quem nunca tomou a cruz sobre si para seguir a Jesus, ainda não sabe o que é “significado existencial”, também está perdido, muito perdido, porque somente conhecendo o Senhor da primeira cruz e tomando sobre si a segunda cruz é que a vida passa a ter significado, é quando tudo se encaixa.

 

Até esse momento, ficamos batendo cabeça, aqui e ali, sem saber o que fazer com Jesus que continua a perguntar:

 

*Quem sou eu para você?

 

Quem sou eu para você?

 

Enquanto você não der a resposta correta, enquanto você não viver a resposta correta, a pergunta vai continuar ecoando na sua alma!

 

Duas cruzes: a cruz de Cristo (a nossa salvação); e a nossa cruz (o discipulado).

 

Este é o convite de Jesus nesta noite!

 

Receba estas duas cruzes na sua vida! Permita que elas moldem o seu caráter e a sua vida!

 

E toda as demais coisas, o Senhor acrescentará à sua caminhada.

 

Vamos orar!

 

Linhares, 24 de janeiro de 2021.

 

Pr. Marcos José Milagre

PIB Linhares – ES

 


Um comentário:

  1. A Paz do Senhor, gosto muito das suas pregações gostaria de saber se tem alguma em eclesiastes 3. Pra mim estudar um pouco
    Deus abençoe

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