terça-feira, 4 de dezembro de 2018

O SALVADOR NASCEU. E ELE NASCEU EM UMA MANJEDOURA!



*“O SALVADOR NASCEU. E ELE NASCEU EM UMA MANJEDOURA!”
(Lucas 2.1-20)
Sermão preparado para a PIB Linhares, em 02/12/18, domingo, manhã.

Bom dia irmãos.

Estamos iniciando o mês em que celebramos o nascimento de Jesus. É tão especial pensar que Deus nos ama tanto que se fez homem, deixando o Céu para nascer na poeirenta Belém, no fim do mundo da Palestina!

Por isso vamos refletir nesta manhã sobre a vinda de Deus ao mundo como um recém-nascido, para ser o nosso Salvador e o que este nascimento deve representar nas nossas vidas.

E para tanto eu peço a todos que abram suas Bíblias no evangelho segundo Lucas, no capítulo 2º, a partir do verso 1º, e eu vou fazer a leitura até o verso 20:

“1.” (Lucas 2.1-20).

O SALVADOR NASCEU. E ELE NASCEU EM UMA MANJEDOURA!

Vamos orar mais uma vez.

Nesta manhã nós vamos meditar neste capítulo 2º do Evangelho de Lucas, e a primeira coisa que podemos aprender é que...

1) JESUS QUER ENTRAR NA NOSSA VIDA DO JEITO QUE ELA ESTÁ! (v. 6-7).

*“6. Enquanto estavam lá, chegou o tempo de ela dar à luz,
7. e ela teve o filho primogênito; envolveu-o em pano e o colocou em uma manjedoura, pois não havia lugar para ele na hospedaria.” (Lucas 2.6-7).

*Quando imaginamos o nascimento de Jesus não é mais ou menos esse quadro que imaginamos: um presépio!


Imaginamos um curral, talvez dentro de uma espécie de estrebaria, uma cabaninha, ou uma caverna usada como estrebaria.

Mas eu quero apresentar algumas colocações para nosso crescimento no conhecimento do relato bíblico.

Em primeiro lugar, devemos nos lembrar que José estava voltando para a sua aldeia de origem. No Oriente Médio a memória das pessoas sobre as suas origens e parentesco é muito importante, pode-se perder um pouco o contato, mas a história de família, o “sangue do meu sangue”, sempre vai ser muito importante!

José poderia ter aparecido em Belém e dito: “-Olá, eu sou José, filho de Eli, filho de Matate, o filho de Levi”, que a maioria das casas da aldeia na cidade  abriria as portas para ele.

Além disso, José era um “nobre”, ele era da família do rei Davi. A família de Davi era tão famosa em Belém que o povo local aparentemente chamava a cidade de “Cidade de Davi” (Lc 2.4).

Uma segunda coisa importante, toda cultura dá atenção especial a uma mulher grávida. Belém não era uma exceção!

Nossa compreensão é que José e Maria foram rejeitados em uma espécie de pensão ou pousada. José chegou, tocou aquela campainha, o funcionário veio, chegou a lista dos quartos, a lotação estava esgotada, e eles foram dispensados.

Mas vocês acham que toda a aldeia de Belém iria virar as costas para um descendente de Davi, na “Cidade de Davi”, com sua mulher grávida, prestes a dar à luz?

Isso seria uma vergonha inimaginável para todo o povoado!

Se você começou a perceber que tem algo complicado com a nossa visão de como a história ocorreu, você está certo.

Uma terceira questão: Maria tinha parentes em uma vila próxima. Poucos meses antes do nascimento de Jesus, Maria foi visitar sua prima Isabel, que morava em “uma cidade na região montanhosa de Judá” (Lucas 1.39), ora, Belém ficava no centro da Judeia, se não houvesse hospedagem para eles em Belém, bastaria viajar mais alguns quilômetros e se hospedar com Isabel e Zacarias (onde Maria poderia dar à luz na companhia da prima que já sabia da real natureza do bebê que Maria tinha no ventre).

Uma quarta observação, e eu encerro com esta, olhe o que diz o verso 6: “Enquanto estavam lá, chegou o tempo de ela dar à luz,”.

Nós imaginamos que José chegou com Maria em um jumentinho, no meio da noite, procurou a hospedaria, não tinha vaga e por causa da urgência, ela já sentindo as contrações da gravidez, aceitou a primeira oferta que foi feita de abrigo que era um estábulo!

Porém o verso 6 diz: “enquanto estavam lá, chegou o tempo de ela dar à luz”.

Então eles já estavam na cidade há algum tempo quando chegou a hora da concepção de Jesus. Não foi uma urgência. José teria tempo de procurar hospedagem em uma casa ou de ir a Isabel e Zacarias para se hospedar na casa deles em uma comunidade vizinha.
O que aconteceu então?

Precisamos conhecer um pouco a arquitetura dos vilarejos do Oriente Médio dos dias de Jesus.

*As casas simples das aldeias da Palestina em geral não tinham mais que dois cômodos. Um deles era exclusivamente para visitantes: Ou ficava em anexo ou ser um “quarto para profetas” na parte superior das casas, como na história de Elias (1 Reis 17.19).



O cômodo principal era o “cômodo da família”, onde toda a família cozinhava, comia, dormia, enfim, vivia!


*Esse espaço da família ficava cerca de um metro mais alto que o restante desse cômodo, a parte que ficava mais baixa era cercada com madeira pesada, e à noite os animais da família, como a vaca, o burro, algumas ovelhas, eram conduzidas para essa área mais baixa, dentro da casa.


*Na manhã seguinte a família colocava os animais para fora da casa e limpava esse estábulo.



Kenneth Bailey, autor de um livro sobre os costumes nos dias de Jesus[1] diz que viu com seus próprios olhos esse tipo de construção que existiu dos dias de Davi até mais ou menos 1950.

Esse tipo de casa pode ser encontrado em algumas narrativas bíblicas, eu separei uma no Antigo Testamento e outra no Novo Testamento:

*Em 1 Samuel 28, quando o rei Saul se hospedou na casa da vidente de Endor e se recusava a comer, a vidente pegou um “novilho cevado que tinha em sua casa” (1 Samuel 28.24):

“24. A mulher tinha em casa um bezerro de engorda e depressa o matou; pegou também farinha, amassou-a e assou pães sem fermento.” (1 Sm 28.24).

*Outro exemplo está no Novo Testamento, Mateus 5.14-15 (nosso texto de reflexão da última quinta-feira):

“14. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte.
15. nem os que acendem uma candeia a colocam debaixo de um cesto, mas no velador, e assim ilumina a todos que estão na casa.” (Mt 5.14-15).

Uma lamparina ilumina a casa inteira porque só tinha um cômodo.

Esse tipo de casa se encaixa perfeitamente na narrativa dos Evangelhos sobre o nascimento de Jesus.

*Dois homens que viveram na Palestina, um deles presbiteriano, William Thompson, por volta de 1.850 d.C. e um estudioso anglicano, E. F.F. Bishop, em 1.920 d.C., descreveram esse tipo de casa: Os animais na parte baixa, as “manjedouras” no começo da parte alta do espaço da família, e depois, o cômodo da família.

Mas, e porquê Lucas disse no verso 7 “que não havia lugar para eles na hospedaria”?

*Lucas usa a palavra grega “Katalúmati” que é traduzida para hospedaria, não era uma palavra própria para um lugar alugado para hospedagem, tanto é que na parábola do “Bom Samaritano”, Jesus usa a palavra “Pandokeíon” para designar o lugar onde o Samaritano deixou o homem ferido para ser cuidado (a hospedaria).

Assim, “katalúmati” significa simplesmente “um lugar para ficar”!

Para corroborar essa ideia, quando Jesus pede que seus discípulos preparem a páscoa, onde foi celebrada a primeira ceia do Senhor, a palavra usada é “kataluma” (Lucas 22.10-12):

*“10. Ele respondeu: Quando entrardes na cidade, um homem sairá ao vosso encontro, carregando um jarro de água; segui-o até a casa em que ele entrar.
11. E direi ao dono da casa: O Mestre manda perguntar-te: Onde fica o aposento (kataluma) em que comerei a refeição da Páscoa com meus discípulos?
*12. Então ele vos mostrará uma grande sala mobiliada; fazei ali os preparativos.” (Lc 22.10-12).

*Depois dessa extensão análise, e é extensa porque estamos acostumados com a imagem do presépio desde que nascemos, e apresentar uma imagem diferente requer maiores explicações, mas a história na narrativa de Lucas mostra que a família que recebeu José e Maria não ofereceu um curralzinho meia-boca para o Deus menino, essa família ofertou o que eles podiam e era o melhor que possuíam: o quarto da própria família foi usado para o nascimento de Jesus, porque o quarto de hóspedes (Kataluma) estava ocupado, provavelmente por outros hóspedes que foram para o recenseamento.



Deus não exigiu daquela família o quarto de hóspedes, ou a construção de um novo cômodo para si.

Deus não exigiu daquela família que eles deixassem sua casa para que Ele entrasse.

Deus, na pessoa de Jesus Cristo, foi acolhido por aquela família em seu meio, da forma em que estavam, porque este era o seu melhor, era o mais íntimo que eles podiam fazer.

Há famílias que se encontram apenas em dias especais do ano: Natal, aniversário de um patriarca ou matriarca idoso e por aí vai.

Nestas datas as casas são limpas, arrumadas, enfeitadas, e no Natal mais especialmente com luzes, enfeites, árvores etc., como se fosse para receber o aniversariante, Jesus Cristo.

Mas Deus não pretende ser um visitante de fim de ano, nem que você precise “arrumar” a sua casa antes de recebê-lo.

O melhor que eu e você podemos oferecer a Jesus neste Natal é que ele seja nosso hóspede o ano todo, naquilo que é o nosso melhor: A nossa família, a nossa intimidade, do jeito que ela estiver!

Porquê do jeito que ela estiver?
(...)
Porque é Jesus quem muda a nossa rotina!

Quem já teve bebê em casa sabe como um recém-nascido muda a rotina da casa inteira!

Jesus, e somente Jesus, o aniversariante que celebramos, é quem pode mudar a nossa rotina para melhor; pode mudar o casamento, para melhor; pode mudar os relacionamentos, sempre para melhor, nunca para pior!

Não há família que receba Jesus em sua intimidade que não seja grandemente abençoada pela sua presença!

Que as nossas famílias possam hospedar Jesus na intimidade do lar, do jeito que o lar estiver, porque o Senhor vai mudar o que Ele entender que deve ser mudado, sempre para o nosso benefício!

Mas uma segunda afirmação que podemos fazer é que...

*2) NINGUÉM É DESPREZADO POR JESUS. (v. 8-9).

*“8. Naquela mesma região, havia pastores que estavam no campo, à noite, tomando conta do rebanho.
9. E um anjo do Senhor apareceu diante deles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor; e ficaram com muito medo.” (Lucas 2.8-9).

Eu sempre gostei dessa parte da narrativa: os reis estavam nos palácios (inclusive o Imperador em Roma); nobres estavam em suas ricas e luxuosas casas; os sacerdotes estavam no Templo de Jerusalém (realizando as práticas religiosas prescritas pela Lei); mas os primeiros ouvintes da boa nova do nascimento de Jesus, notícia dada por um anjo foram alguns pastores no campo, na província da Judeia, nas cercanias de um povoadozinho chamado Belém!

*Nós romantizamos a figura do “Pastor”, principalmente porque Davi usa a figura do pastor no Salmo 23 para falar do cuidado de Deus. Davi havia sido pastor, ele sabia porque considerava a Deus o seu pastor.

Em João 10.11, o Senhor Jesus atribui a si mesmo a figura do Bom Pastor, que dá a vida para suas ovelhas!

Por isso nós não conseguimos compreender como os pastores eram vistos pela sociedade nos dias do nascimento de Jesus.

A literatura rabínica mostra que à época do nascimento de Jesus os pastores não eram vistos com confiança, havendo até mesmo um ditado popular que incluía a profissão de pastor entre as profissões que os judeus não deviam ensinar a seus filhos[2].

Era considerada uma profissão “desprezível” pelos judeus. Fora as passagens do Antigo Testamento, como o Salmo 23, entre outras, e nas palavras de Jesus, os escritos dos rabinos apontavam os pastores sempre desfavoravelmente, como desonestos (pastoreavam o rebanho em propriedade alheia), não guardavam os rituais de purificação que os fariseus tanto valorizavam, desconfiava-se que eles roubassem um ou outro animal.

Mas o nascimento do Salvador do Mundo foi anunciado a esta classe considerada desprezível pelos seus compatriotas, e foi anunciado por um anjo enviado por Deus!

Isto é muito importante neste período de Natal para entendermos como Deus olha para cada um de nós: Não existem pessoas desprezíveis aos olhos de Deus!

*Como diz o apóstolo Paulo (Gálatas 3.28):

“28. Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher, porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” (Gl 3.28).

Não há castas, ou classes sociais aos olhos de Deus.

As pessoas têm desenvolvido um gosto estranho pela cultura oriental. A cultura valoriza a separação eterna das pessoas em classes sociais, as castas.

Outras culturas orientais também valorizam muito a distinção social. O Ocidente também valoriza as distinções: econômica (ricos e pobres), famosos e anônimos etc.

Mas Deus nos olha com os mesmos olhos de amor, mesmo que nenhum de nós seja merecedor desse amor.

O Natal (o nascimento de Jesus), proclamado por um anjo a simples pastores, deve nos trazer a memória que nossa tarefa enquanto igreja é proclamar essa boa nova a todas as pessoas, ricos e pobres, cidadãos das cidades e da roça; proclamar o Evangelho da Salvação aos moradores de casas ricas, mas também a quem porventura more em um barraquinho de papelão.

Os pastores de Belém estavam no campo, cuidando do rebanho, não estavam no Templo de Jerusalém, ou na sinagoga local. O anjo foi até eles para anunciar-lhes que o Salvador havia chegado.

Talvez as pessoas que precisam ouvir a mensagem do Evangelho, aquelas que Deus quer que eu e você falemos que Jesus nasceu, não esteja neste templo, ou em qualquer outro templo cristão, mas esteja “cuidando das ovelhas”, na nossa vizinhança, na escola que frequentamos, nas fábricas, na periferia ou nos bairros nobres.

*Eles precisam de pessoas que se disponham a ir até eles. Jesus deixou o Céu e veio até nós. Deus enviou o anjo até os pastores. As perguntas que ficam para cada um de nós é:

A quem Deus quer me enviar?

Eu estou disposto a ir?

Deus não despreza ninguém, Ele ama a todos, e não quer que ninguém e perca.
Por isso cada um de nós precisa responder se vai ou se não vai anunciar:

-Jesus nasceu, eu o conheço e quero apresentá-lo a vocês!

E por fim, chegando ao final...

*3) NÓS ADORAMOS APENAS O MENINO DEUS (Mateus 2.11).

*“11. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra.” (Mateus 2.11).

Encerramos na quinta-feira o mês da música, um mês em que refletimos muito sobre adoração, sobre louvor.

E este versículo mostra que os magos (provavelmente sacerdotes persas) viajaram uma grande distância para encontrar o “rei dos judeus”.

Antes de encontrarem Jesus, eles se encontraram com o rei Herodes (Mateus 2.7), mas eles não adoraram Herodes.

Eles foram até a casa em que José, Maria e Jesus estavam hospedados (Mateus 2.11), e prostrando-se adoraram o menino.

Eles viram a mãe com o menino, mas adoraram o menino.

Não quero polemizar, mas nós precisamos ser fieis à Bíblia.

Nós não adoramos a mãe. Ela tem o nosso respeito, certamente era a melhor mulher da sua época, mas o único que foi adorado foi “o menino”.

Nós também adoramos apenas “o menino”.
Os magos não foram os únicos a adorarem a pessoa certa.

Da mesma forma, os pastores viram a glória do Senhor e ouviram o anjo do Senhor, mas eles não adoraram o anjo, (Lucas 2, verso 20) eles “voltaram glorificando e louvaram a Deus por tudo que tinham visto e ouvido”.

*Quando você estive cercado de enfeites de Natal, luzes de Natal, ceias de natal, presentes de natal, shows de natal, não sei mais o que de Natal, lembre-se: o único que é digno de receber a nossa adoração, o nosso tempo, o nosso amor, a nossa dedicação; o único a quem dobramos os nossos joelhos é ao menino que nasceu naquela manjedoura, no pequeno povoado de Belém, MAS DIANTE DE QUEM TODO JOELHO UM DIA SE DOBRARÁ E TODA LÍNGUA CONFESSARÁ QUE SOMENTE ELE É O SENHOR!

*E assim nós começamos a refletir sobre o nascimento do Nosso Senhor Jesus neste mês de dezembro, que o Senhor nos abençoe! Amém!

Vamos orar.

Linhares, 1º de dezembro de 2018.

Pr. Marcos José Milagre


[1] BAILEY, Kenneth E. Jesus pela ótica do Oriente Médio. São Paulo: Vida Nova, 2016, p. 31.
[2] DANIEL-ROPS, Daniel. A vida diária nos tempos de Jesus. São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 263.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

A adoração que Deus quer, e a que não quer (Amós 5.21-23).



Culto segmentado em 15/11/2018  (pregação e música). Mês da Música na PIB Linhares!

A ADORAÇÃO QUE DEUS QUER, E A QUE NÃO QUER.



“A ADORAÇÃO QUE DEUS QUER, E A QUE NÃO QUER”
(Amós 5.21-23)
Sermão preparado para a PIB Linhares, em 15/11/18, quinta-feira noite. Mês da música.

Boa noite.

Continuamos com nossos pensamentos voltados para o tema da adoração neste mês da música

No último domingo pela manhã nós refletimos sobre o que é adoração, nesta noite vamos pensar na forma da adoração, e na última quinta-feira do mês sobre quem deve ser adorado.

Nós vimos que adoração é um estilo de vida; que não é vinculada à ideia de lugar; ou de expectação, mas à ideia de algo que vem do coração e é um estilo de vida.

E a Bíblia possui uma grande quantidade de textos que mostram que não é qualquer tipo de adoração que Deus deseja, nem adoração de qualquer jeito, por isso precisamos pensar qual é a forma de adoração que agrada o coração do Senhor.

E para nossa reflexão nós vamos usar um texto do Livro do Profeta Amós, capítulo 5, versos 21 a 23, por gentileza, abram suas Bíblias no texto e assim que o encontrarem se coloquem em pé para ouvir a leitura:

“21. Eu detesto e desprezo as vossas festas; não me agrado das vossas assembleias solenes.
22. Ainda que me ofereçais sacrifícios com as vossas ofertas de cereais, não me agradarei deles; nem olharei para as ofertas pacíficas de vossos animais de engorda.
23. Afastai de mim o som dos vossos cânticos, porque não ouvirei as melodias das vossas liras.” (Amós 5.21-23).

A ADORAÇÃO QUE DEUS QUER, E A QUE NÃO QUER!

Vamos orar mais uma vez.

A primeira coisa que pode nortear nossa reflexão sobre qual a adoração que Deus quer, e a que não quer, é que...

1) A ADORAÇÃO DEVE SER BÍBLICA.

A Reforma Protestante restou a música nos cultos. Hinos belíssimos como “Castelo Forte”, composto por Martinho Lutero foram usados pelos reformadores para ensinar a Bíblia ao povo. E o povo teve o louvor restaurado aos seus lábios, depois de séculos afastado dele.

E a Reforma Protestante resgatou também um dos princípios que é um dos cinco pilares das igrejas protestantes: Sola scriptura! Somente a Bíblia é nossa regra de fé!

Toda a adoração deve estar fundada na Bíblia, o que contrariar a Bíblia deve ser rejeitada. É o chamado Princípio Regulador, que foi definido no século 19 pelo historiador escocês Willian Cunningham:

É injustificável e ilegal introduzir no governo e na adoração da igreja de qualquer coisa que não seja a aprovação positiva das Escrituras”.

Este é um dos calcanhares de Aquiles da adoração nas igrejas evangélicas dos nossos dias: Tantas coisas que não estão aprovadas nas escrituras e outras que não são proibidas, mas os crentes as proíbem, baseadas em seus próprios pensamentos ou sentimentos.

Quem não já ouviu falar dos grandes conflitos vividos nas igrejas batistas há algumas décadas para sabermos se bateria era do diabo ou não? Ou se as mulheres podiam usar calça, ou não?

Igrejas foram divididas por baterias! E isso quando lemos no Salmo 150, versos 3-6 que todos os instrumentos e vozes humanas devem louvar ao Senhor:

“3. Louvai-o ao som da trombeta; louvai-o com saltérios e harpas!
4. Louvai-o com danças e tamborins; louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas!
5. Louvai-o com címbalos sonoros; louvai-o com címbalos retumbantes!
6. Todo ser que respira louve o Senhor. Aleluia!” (Sl 150.3-6).

Mas não tinha escrito que bateria podia... então surgiu a controvérsia (engraçado que órgão e piano também não estavam na lista, assim como a bateria, estes também não existiam à época que o Salmo 150 foi composto, mas ninguém discutia se podia usar piano no culto)!

Igrejas já foram divididas até por calças (já falei aqui da história que ouvi da boca de um irmão, colega de seminário, que disse que duas igrejas de uma cidade aqui do norte do Espírito Santo, que eram conhecidas como a igreja de calças e a igreja sem calças, a primeira igreja havia se dividido e surgido a segunda igreja na cidade, esta última que aceitava que as mulheres usassem calças durante os cultos).

Muitas igrejas ainda proíbem que as irmãs usem maquiagem, pintem os cabelos, depilem as axilas, cortem o cabelo, usem calças, etc. Coisas biblicamente sem qualquer relevância!

Proibições que tem origem no coração humano e não na palavra de Deus!

Isso não quer dizer que “liberou geral”, a Bíblia mostra que Deus não autoriza todo tipo de prática cultual na sua Palavra, à revelia da própria Palavra. No texto de Amós, Capítulo 3.4-7 vemos que a rejeição da Palavra era um dos motivos para Israel e Judá perecerem (bem como a idolatria e injustiça social):

“4. Assim diz o Senhor: Pelas três transgressões de Judá (Reino do Sul), sim, e pela quarta, não retirarei o castigo; pois rejeitaram a lei do Senhor e não obedeceram aos seus estatutos, mas se deixaram enganar por suas ilusões, atrás das quais seus pais andaram.
5. Por isso atearei fogo a Judá, e ele consumirá os palácios de Jerusalém.
6. Assim diz o Senhor: Pelas três transgressões de Israel (Reino do Norte), sim, e pela quarta, não retirarei o castigo; pois vendem o justo por prata, e o necessitado, por um par de sandálias.
7. Esmagaram a cabeça dos pobres no pó da terra, pervertem o caminho dos oprimidos; um homem e seu pai deitam-se com a mesma moça, profanando assim o meu santo nome. (Amós 3.4-7).

Israel e Judá sofreram por “rejeitaram a lei do Senhor e não obedeceram aos seus estatutos” (verso 4). Por isso praticaram a idolatria e a injustiça social.

E o povo de Deus dos nossos dias, entre os quais nós estamos, como podemos desagradar a Deus?

Porque podemos chegar ao ponto, espiritualmente tão equivocado de oferecer adoração, louvor, música, que Deus não quer ouvir (como lemos em Amós 5.23)?

Porque abandonamos as escrituras!

Um povo sem um conhecimento profundo da Bíblia, uma igreja que não é dirigida exclusivamente pela Bíblia, é como um carro em alta velocidade, mas sem o seu volante! Está sem direção!

Nossa adoração, nossa música, que é uma das expressões da adoração, devem ser fundamentadas exclusivamente na Bíblia!

Sabendo que é o Santo Espírito quem deve nos conduzir em uma adoração em espírito e em verdade, uma segunda coisa a pensar sobre a adoração que Deus quer e a que Deus não quer, é que...

2) ADORAÇÃO É CONTEÚDO E NÃO FORMA (v. 23).

Como estamos no mês da música vou reler apenas o verso 23, mas sabendo que os versos 21 e 22 também falam sobre adoração:

23. Afastai de mim o som dos vossos cânticos, porque não ouvirei as melodias das vossas liras.” (Amós 5.21-23).

A Bíblia tem uma grande quantidade de textos que demonstram que adoração é conteúdo e não apenas forma.

Como disse o poeta T. S. Eliot, Prêmio Nobel de Literatura de 1948:

“(...) não há maior heresia do que fazer a coisa certa por um motivo errado.

Não basta pregar, cantar, tocar, fazer teatro, coreografia, trabalhar na mesa de som, filmagem, transmissão do culto etc.; é preciso ter um coração de adorador.

a) Deus rejeitou aceitou a adoração de Abel, mas rejeitou a adoração de Caim (Gn 4.3-5). Porque o coração de Caim estava longe da adoração que ele pensava que estava prestando.

Às vezes pensamos que estamos oferecendo a “cereja do bolo” da adoração para Deus, quando na verdade é algo que não está no nosso coração, e Deus rejeita!

Poderíamos, ainda, falar do povo de Israel e de Judá, que ofereciam sacrifícios, dízimos, música, tudo ao Senhor, mas praticavam a idolatria e a injustiça social, por isso Deus rejeitava as formas.

Voltemos a Amós 4.4:

“4. Vinde a Betel e transgredi; vinde a Gilgal e multiplicai as transgressões! Trazei os vossos sacrifícios a cada manhã, e os vossos dízimos de três em três dias.” (Amós 4.4).

O seu dízimo não compra Deus! Seja o valor ou a frequência com que você o entrega, Deus quer o seu coração e a sua mente submissos à vontade Dele!

É isso que Deus diz pela boca do profeta Oseias (Os 6.6):

“6. Pois quero misericórdia (hesed: amor sincero e constante) e não sacrifícios (atos de culto); e o conhecimento de Deus (leitura/meditação na Bíblia e oração), mais do que os holocaustos (oferta, serviço de culto).” (Os 6.6).

-Ah pastor, mas no Novo Testamento vivemos pela graça” (e alguns filmes sobre Jesus retratam o Senhor como alguém que parece que estava com dengue, meio abobado), quando na verdade o Senhor Jesus nunca deixou de exigir daqueles que o seguiam adoração baseada na obediência às suas palavras (Lucas 6.46):

“46. E por que me chamais: Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu vos mando?” (Lc 6.46).

Jesus só é Senhor do adorador que o obedece!

b) Uma outra observação sobre forma e conteúdo na adoração, é que quando o povo estava no deserto, e a adoração era feita no Tabernáculo, Deus eliminou do meio do povo Nadabe e Abiú, por oferecerem “fogo estranho” (Levítico 10.1-2).

“Fogo estranho” é uma expressão que os teólogos ainda não chegaram a uma concordância sobre do que se trata, alguns dizem que era um tipo de incenso diferente do que Deus havia determinado, ou que os dois sacerdotes estavam embriagados quando foram acender o incensário, o fato é que Nadabe e Abiú morreram porque acreditaram que podiam oferecer adoração de qualquer jeito, ou do jeito deles, e não do jeito que Deus queria.

Nós não podemos cair no grande engano de que Deus aceita qualquer coisa! De qualquer jeito! Sem santificação (muitas pessoas mistificam a “santificação”, quando santificação é pensar, falar e fazer as coisas do jeito de Deus, é viver do jeito que Deus quer).

Não pense que você pode levar uma vida do seu jeito fora dessas paredes, fazendo coisas que Deus abomina, e depois vir pregar, cantar, tocar, fazer teatro coreografia sem primeiro se arrepender sinceramente e pedir perdão ao Senhor.

Adoração sem santificação é fogo estranho, e Deus abomina fogo estranho!

Não devemos tentar enganar Deus, adoração é algo sério, e Deus leva a sério!

Por isso, vamos nos santificar para oferecer ao nosso Deus uma adoração que agrade ao nosso Deus, porque, por último...

3) A ADORAÇÃO É VOLTADA PARA DEUS E NÃO PARA O ADORADOR!

Esta eu deixei por último, porque é voltado para nossa eclesiologia do dia-a-dia.

Uma pergunta para começarmos a pensar: A adoração que prestamos é destinada a quem?

(A Deus!)

E porque nos comportamos tantas vezes como se a adoração fosse para nosso deleite, para nossa alegria, para aliviar nossos problemas emocionais, para sairmos mais leves dos cultos?

Já contei de uma igreja batista que estava fazendo trenzinho durante o culto e o irmão perguntou ao pastor se aquilo estava certo, e o pastor disse que “a Convenção Batista tinha flexibilizado essas coisas”.

“- Como assim?” Eu perguntei.

Fazer trenzinho no culto é para adorar a Deus ou é para os que fazem o trenzinho se divertirem um pouco? “Adoração lúdica???

Não estou dizendo que a adoração deva ser ritualística, fria, indiferente à presença de Deus, de Jesus; indiferente à condução de todos os atos de culto pelo Espírito Santo, mas há muitas igrejas que estão priorizando os sentimentos dos “adoradores” (colocando como o alvo do culto) em detrimento da adoração ao Deus soberano!

Já presenciei em igrejas batistas, momentos de louvor, em que as luzes foram apagadas, o telão mostrava imagens de florestas, rios, e as músicas (repetitivas, parecidas com mantras) melodiosas eram cantadas com pessoas de olhos fechados, de pé, muitos de braços levantados, outros tantos às lágrimas.

Depois de quase uma hora nessa cantoria repetitiva, chegava o momento da pregação, as luzes eram acessas, todos sentavam, já cansados pelo “momento de louvor” e o pregador podia usar o tempo restante “para fazer a sua parte” (os irmãos já com cara de sono).

Esse tipo de culto que eu acabei de descrever era para Deus ou era um momento de relaxamento para as pessoas? Uma experiência sensorial de catarse emocional? (um “Rivotril espiritual”).

A pergunta que deve ser feita: É para Deus ou é para as pessoas?

“-Há pastor, mas Deus se alegra quando estamos bem!”.

A alegria do adorador não é o propósito da adoração! O propósito da adoração é adorar a Deus!

A alegria, nosso sentimento de que fizemos o que é certo, o bem-estar que sentimos depois de um culto, é um subproduto que vem do ato de adorar, porque fizemos a vontade a vontade de Deus, porque fizemos aquilo para o que fomos criados!

Há uma confusão entre “objetivo” e “consequência”. O objetivo é adorar a Deus, o resto (alegria, paz, esperança) é consequência de quem adora em espirito e em verdade.

Precisamos tomar muito cuidado para não confundir o desejo do nosso coração com adoração. Como nas palavras do Senhor, por meio do profeta Jeremias (Jr 17.9): “O coração é enganoso e incurável, mais que todas as coisas; quem poderá conhecê-lo?”.

Portanto, que a nossa adoração, em espírito, em verdade e  seja direcionada a Deus, seja dirigida à sua honra, glória e louvor, não a nós; e, como disse João Batista, que cada adorador aqui nesta noite possa dizer sobre Jesus (João 3.30): “É necessário que ele cresça e eu diminua”.

Conclusão:

Eu quero concluir esta noite com um breve resumo do que vimos até agora:

1) A adoração que Deus quer é aquela prestada por pessoas apaixonadas pela sua palavra, que colocam a Bíblia em prática nas suas vidas.

2) A adoração que Deus quer é aquela que a sua expressão (a forma), é forjada por um coração contrito, piedoso, submisso à vontade do próprio Deus.

3) A adoração que Deus quer é aquela que seja voltada para Deus e não para os desejos do adorador, porque Deus não partilha a sua glória com ninguém.

E eu encerro este momento me dirigindo especialmente aos músicos: cantores e instrumentistas que estão aqui nesta noite, ou que nos ouvem pelo Facebook, com uma frase que um Pastor Batista norte-americano muito conhecido, que costuma dizer a si mesmo antes de falar às multidões que iam ouvi-lo, o Pr. Martin Luther King:

Deixe Martin Luther King no pátio dos fundos, e Deus em primeiro plano. Você é apenas o instrumento, e não a fonte. [1]

Continuemos a oferecer uma adoração agradável ao nosso Deus, uma adoração sincera, de mente e coração, sabendo que todos nós que pregamos, tocamos ou cantamos, somos meros instrumentos a serviço do Senhor, e isso deve nos bastar.

Vamos orar neste momento.

Linhares, 15 de novembro de 2018.

Pr. Marcos José Milagre
PIB Linhares


[1] FOIX, Alain. Martin Luther King. Porto Alegre, RS: L&M Pocket, 2018, p. 216.