terça-feira, 4 de dezembro de 2018

O SALVADOR NASCEU. E ELE NASCEU EM UMA MANJEDOURA!



*“O SALVADOR NASCEU. E ELE NASCEU EM UMA MANJEDOURA!”
(Lucas 2.1-20)
Sermão preparado para a PIB Linhares, em 02/12/18, domingo, manhã.

Bom dia irmãos.

Estamos iniciando o mês em que celebramos o nascimento de Jesus. É tão especial pensar que Deus nos ama tanto que se fez homem, deixando o Céu para nascer na poeirenta Belém, no fim do mundo da Palestina!

Por isso vamos refletir nesta manhã sobre a vinda de Deus ao mundo como um recém-nascido, para ser o nosso Salvador e o que este nascimento deve representar nas nossas vidas.

E para tanto eu peço a todos que abram suas Bíblias no evangelho segundo Lucas, no capítulo 2º, a partir do verso 1º, e eu vou fazer a leitura até o verso 20:

“1.” (Lucas 2.1-20).

O SALVADOR NASCEU. E ELE NASCEU EM UMA MANJEDOURA!

Vamos orar mais uma vez.

Nesta manhã nós vamos meditar neste capítulo 2º do Evangelho de Lucas, e a primeira coisa que podemos aprender é que...

1) JESUS QUER ENTRAR NA NOSSA VIDA DO JEITO QUE ELA ESTÁ! (v. 6-7).

*“6. Enquanto estavam lá, chegou o tempo de ela dar à luz,
7. e ela teve o filho primogênito; envolveu-o em pano e o colocou em uma manjedoura, pois não havia lugar para ele na hospedaria.” (Lucas 2.6-7).

*Quando imaginamos o nascimento de Jesus não é mais ou menos esse quadro que imaginamos: um presépio!


Imaginamos um curral, talvez dentro de uma espécie de estrebaria, uma cabaninha, ou uma caverna usada como estrebaria.

Mas eu quero apresentar algumas colocações para nosso crescimento no conhecimento do relato bíblico.

Em primeiro lugar, devemos nos lembrar que José estava voltando para a sua aldeia de origem. No Oriente Médio a memória das pessoas sobre as suas origens e parentesco é muito importante, pode-se perder um pouco o contato, mas a história de família, o “sangue do meu sangue”, sempre vai ser muito importante!

José poderia ter aparecido em Belém e dito: “-Olá, eu sou José, filho de Eli, filho de Matate, o filho de Levi”, que a maioria das casas da aldeia na cidade  abriria as portas para ele.

Além disso, José era um “nobre”, ele era da família do rei Davi. A família de Davi era tão famosa em Belém que o povo local aparentemente chamava a cidade de “Cidade de Davi” (Lc 2.4).

Uma segunda coisa importante, toda cultura dá atenção especial a uma mulher grávida. Belém não era uma exceção!

Nossa compreensão é que José e Maria foram rejeitados em uma espécie de pensão ou pousada. José chegou, tocou aquela campainha, o funcionário veio, chegou a lista dos quartos, a lotação estava esgotada, e eles foram dispensados.

Mas vocês acham que toda a aldeia de Belém iria virar as costas para um descendente de Davi, na “Cidade de Davi”, com sua mulher grávida, prestes a dar à luz?

Isso seria uma vergonha inimaginável para todo o povoado!

Se você começou a perceber que tem algo complicado com a nossa visão de como a história ocorreu, você está certo.

Uma terceira questão: Maria tinha parentes em uma vila próxima. Poucos meses antes do nascimento de Jesus, Maria foi visitar sua prima Isabel, que morava em “uma cidade na região montanhosa de Judá” (Lucas 1.39), ora, Belém ficava no centro da Judeia, se não houvesse hospedagem para eles em Belém, bastaria viajar mais alguns quilômetros e se hospedar com Isabel e Zacarias (onde Maria poderia dar à luz na companhia da prima que já sabia da real natureza do bebê que Maria tinha no ventre).

Uma quarta observação, e eu encerro com esta, olhe o que diz o verso 6: “Enquanto estavam lá, chegou o tempo de ela dar à luz,”.

Nós imaginamos que José chegou com Maria em um jumentinho, no meio da noite, procurou a hospedaria, não tinha vaga e por causa da urgência, ela já sentindo as contrações da gravidez, aceitou a primeira oferta que foi feita de abrigo que era um estábulo!

Porém o verso 6 diz: “enquanto estavam lá, chegou o tempo de ela dar à luz”.

Então eles já estavam na cidade há algum tempo quando chegou a hora da concepção de Jesus. Não foi uma urgência. José teria tempo de procurar hospedagem em uma casa ou de ir a Isabel e Zacarias para se hospedar na casa deles em uma comunidade vizinha.
O que aconteceu então?

Precisamos conhecer um pouco a arquitetura dos vilarejos do Oriente Médio dos dias de Jesus.

*As casas simples das aldeias da Palestina em geral não tinham mais que dois cômodos. Um deles era exclusivamente para visitantes: Ou ficava em anexo ou ser um “quarto para profetas” na parte superior das casas, como na história de Elias (1 Reis 17.19).



O cômodo principal era o “cômodo da família”, onde toda a família cozinhava, comia, dormia, enfim, vivia!


*Esse espaço da família ficava cerca de um metro mais alto que o restante desse cômodo, a parte que ficava mais baixa era cercada com madeira pesada, e à noite os animais da família, como a vaca, o burro, algumas ovelhas, eram conduzidas para essa área mais baixa, dentro da casa.


*Na manhã seguinte a família colocava os animais para fora da casa e limpava esse estábulo.



Kenneth Bailey, autor de um livro sobre os costumes nos dias de Jesus[1] diz que viu com seus próprios olhos esse tipo de construção que existiu dos dias de Davi até mais ou menos 1950.

Esse tipo de casa pode ser encontrado em algumas narrativas bíblicas, eu separei uma no Antigo Testamento e outra no Novo Testamento:

*Em 1 Samuel 28, quando o rei Saul se hospedou na casa da vidente de Endor e se recusava a comer, a vidente pegou um “novilho cevado que tinha em sua casa” (1 Samuel 28.24):

“24. A mulher tinha em casa um bezerro de engorda e depressa o matou; pegou também farinha, amassou-a e assou pães sem fermento.” (1 Sm 28.24).

*Outro exemplo está no Novo Testamento, Mateus 5.14-15 (nosso texto de reflexão da última quinta-feira):

“14. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte.
15. nem os que acendem uma candeia a colocam debaixo de um cesto, mas no velador, e assim ilumina a todos que estão na casa.” (Mt 5.14-15).

Uma lamparina ilumina a casa inteira porque só tinha um cômodo.

Esse tipo de casa se encaixa perfeitamente na narrativa dos Evangelhos sobre o nascimento de Jesus.

*Dois homens que viveram na Palestina, um deles presbiteriano, William Thompson, por volta de 1.850 d.C. e um estudioso anglicano, E. F.F. Bishop, em 1.920 d.C., descreveram esse tipo de casa: Os animais na parte baixa, as “manjedouras” no começo da parte alta do espaço da família, e depois, o cômodo da família.

Mas, e porquê Lucas disse no verso 7 “que não havia lugar para eles na hospedaria”?

*Lucas usa a palavra grega “Katalúmati” que é traduzida para hospedaria, não era uma palavra própria para um lugar alugado para hospedagem, tanto é que na parábola do “Bom Samaritano”, Jesus usa a palavra “Pandokeíon” para designar o lugar onde o Samaritano deixou o homem ferido para ser cuidado (a hospedaria).

Assim, “katalúmati” significa simplesmente “um lugar para ficar”!

Para corroborar essa ideia, quando Jesus pede que seus discípulos preparem a páscoa, onde foi celebrada a primeira ceia do Senhor, a palavra usada é “kataluma” (Lucas 22.10-12):

*“10. Ele respondeu: Quando entrardes na cidade, um homem sairá ao vosso encontro, carregando um jarro de água; segui-o até a casa em que ele entrar.
11. E direi ao dono da casa: O Mestre manda perguntar-te: Onde fica o aposento (kataluma) em que comerei a refeição da Páscoa com meus discípulos?
*12. Então ele vos mostrará uma grande sala mobiliada; fazei ali os preparativos.” (Lc 22.10-12).

*Depois dessa extensão análise, e é extensa porque estamos acostumados com a imagem do presépio desde que nascemos, e apresentar uma imagem diferente requer maiores explicações, mas a história na narrativa de Lucas mostra que a família que recebeu José e Maria não ofereceu um curralzinho meia-boca para o Deus menino, essa família ofertou o que eles podiam e era o melhor que possuíam: o quarto da própria família foi usado para o nascimento de Jesus, porque o quarto de hóspedes (Kataluma) estava ocupado, provavelmente por outros hóspedes que foram para o recenseamento.



Deus não exigiu daquela família o quarto de hóspedes, ou a construção de um novo cômodo para si.

Deus não exigiu daquela família que eles deixassem sua casa para que Ele entrasse.

Deus, na pessoa de Jesus Cristo, foi acolhido por aquela família em seu meio, da forma em que estavam, porque este era o seu melhor, era o mais íntimo que eles podiam fazer.

Há famílias que se encontram apenas em dias especais do ano: Natal, aniversário de um patriarca ou matriarca idoso e por aí vai.

Nestas datas as casas são limpas, arrumadas, enfeitadas, e no Natal mais especialmente com luzes, enfeites, árvores etc., como se fosse para receber o aniversariante, Jesus Cristo.

Mas Deus não pretende ser um visitante de fim de ano, nem que você precise “arrumar” a sua casa antes de recebê-lo.

O melhor que eu e você podemos oferecer a Jesus neste Natal é que ele seja nosso hóspede o ano todo, naquilo que é o nosso melhor: A nossa família, a nossa intimidade, do jeito que ela estiver!

Porquê do jeito que ela estiver?
(...)
Porque é Jesus quem muda a nossa rotina!

Quem já teve bebê em casa sabe como um recém-nascido muda a rotina da casa inteira!

Jesus, e somente Jesus, o aniversariante que celebramos, é quem pode mudar a nossa rotina para melhor; pode mudar o casamento, para melhor; pode mudar os relacionamentos, sempre para melhor, nunca para pior!

Não há família que receba Jesus em sua intimidade que não seja grandemente abençoada pela sua presença!

Que as nossas famílias possam hospedar Jesus na intimidade do lar, do jeito que o lar estiver, porque o Senhor vai mudar o que Ele entender que deve ser mudado, sempre para o nosso benefício!

Mas uma segunda afirmação que podemos fazer é que...

*2) NINGUÉM É DESPREZADO POR JESUS. (v. 8-9).

*“8. Naquela mesma região, havia pastores que estavam no campo, à noite, tomando conta do rebanho.
9. E um anjo do Senhor apareceu diante deles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor; e ficaram com muito medo.” (Lucas 2.8-9).

Eu sempre gostei dessa parte da narrativa: os reis estavam nos palácios (inclusive o Imperador em Roma); nobres estavam em suas ricas e luxuosas casas; os sacerdotes estavam no Templo de Jerusalém (realizando as práticas religiosas prescritas pela Lei); mas os primeiros ouvintes da boa nova do nascimento de Jesus, notícia dada por um anjo foram alguns pastores no campo, na província da Judeia, nas cercanias de um povoadozinho chamado Belém!

*Nós romantizamos a figura do “Pastor”, principalmente porque Davi usa a figura do pastor no Salmo 23 para falar do cuidado de Deus. Davi havia sido pastor, ele sabia porque considerava a Deus o seu pastor.

Em João 10.11, o Senhor Jesus atribui a si mesmo a figura do Bom Pastor, que dá a vida para suas ovelhas!

Por isso nós não conseguimos compreender como os pastores eram vistos pela sociedade nos dias do nascimento de Jesus.

A literatura rabínica mostra que à época do nascimento de Jesus os pastores não eram vistos com confiança, havendo até mesmo um ditado popular que incluía a profissão de pastor entre as profissões que os judeus não deviam ensinar a seus filhos[2].

Era considerada uma profissão “desprezível” pelos judeus. Fora as passagens do Antigo Testamento, como o Salmo 23, entre outras, e nas palavras de Jesus, os escritos dos rabinos apontavam os pastores sempre desfavoravelmente, como desonestos (pastoreavam o rebanho em propriedade alheia), não guardavam os rituais de purificação que os fariseus tanto valorizavam, desconfiava-se que eles roubassem um ou outro animal.

Mas o nascimento do Salvador do Mundo foi anunciado a esta classe considerada desprezível pelos seus compatriotas, e foi anunciado por um anjo enviado por Deus!

Isto é muito importante neste período de Natal para entendermos como Deus olha para cada um de nós: Não existem pessoas desprezíveis aos olhos de Deus!

*Como diz o apóstolo Paulo (Gálatas 3.28):

“28. Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher, porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” (Gl 3.28).

Não há castas, ou classes sociais aos olhos de Deus.

As pessoas têm desenvolvido um gosto estranho pela cultura oriental. A cultura valoriza a separação eterna das pessoas em classes sociais, as castas.

Outras culturas orientais também valorizam muito a distinção social. O Ocidente também valoriza as distinções: econômica (ricos e pobres), famosos e anônimos etc.

Mas Deus nos olha com os mesmos olhos de amor, mesmo que nenhum de nós seja merecedor desse amor.

O Natal (o nascimento de Jesus), proclamado por um anjo a simples pastores, deve nos trazer a memória que nossa tarefa enquanto igreja é proclamar essa boa nova a todas as pessoas, ricos e pobres, cidadãos das cidades e da roça; proclamar o Evangelho da Salvação aos moradores de casas ricas, mas também a quem porventura more em um barraquinho de papelão.

Os pastores de Belém estavam no campo, cuidando do rebanho, não estavam no Templo de Jerusalém, ou na sinagoga local. O anjo foi até eles para anunciar-lhes que o Salvador havia chegado.

Talvez as pessoas que precisam ouvir a mensagem do Evangelho, aquelas que Deus quer que eu e você falemos que Jesus nasceu, não esteja neste templo, ou em qualquer outro templo cristão, mas esteja “cuidando das ovelhas”, na nossa vizinhança, na escola que frequentamos, nas fábricas, na periferia ou nos bairros nobres.

*Eles precisam de pessoas que se disponham a ir até eles. Jesus deixou o Céu e veio até nós. Deus enviou o anjo até os pastores. As perguntas que ficam para cada um de nós é:

A quem Deus quer me enviar?

Eu estou disposto a ir?

Deus não despreza ninguém, Ele ama a todos, e não quer que ninguém e perca.
Por isso cada um de nós precisa responder se vai ou se não vai anunciar:

-Jesus nasceu, eu o conheço e quero apresentá-lo a vocês!

E por fim, chegando ao final...

*3) NÓS ADORAMOS APENAS O MENINO DEUS (Mateus 2.11).

*“11. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra.” (Mateus 2.11).

Encerramos na quinta-feira o mês da música, um mês em que refletimos muito sobre adoração, sobre louvor.

E este versículo mostra que os magos (provavelmente sacerdotes persas) viajaram uma grande distância para encontrar o “rei dos judeus”.

Antes de encontrarem Jesus, eles se encontraram com o rei Herodes (Mateus 2.7), mas eles não adoraram Herodes.

Eles foram até a casa em que José, Maria e Jesus estavam hospedados (Mateus 2.11), e prostrando-se adoraram o menino.

Eles viram a mãe com o menino, mas adoraram o menino.

Não quero polemizar, mas nós precisamos ser fieis à Bíblia.

Nós não adoramos a mãe. Ela tem o nosso respeito, certamente era a melhor mulher da sua época, mas o único que foi adorado foi “o menino”.

Nós também adoramos apenas “o menino”.
Os magos não foram os únicos a adorarem a pessoa certa.

Da mesma forma, os pastores viram a glória do Senhor e ouviram o anjo do Senhor, mas eles não adoraram o anjo, (Lucas 2, verso 20) eles “voltaram glorificando e louvaram a Deus por tudo que tinham visto e ouvido”.

*Quando você estive cercado de enfeites de Natal, luzes de Natal, ceias de natal, presentes de natal, shows de natal, não sei mais o que de Natal, lembre-se: o único que é digno de receber a nossa adoração, o nosso tempo, o nosso amor, a nossa dedicação; o único a quem dobramos os nossos joelhos é ao menino que nasceu naquela manjedoura, no pequeno povoado de Belém, MAS DIANTE DE QUEM TODO JOELHO UM DIA SE DOBRARÁ E TODA LÍNGUA CONFESSARÁ QUE SOMENTE ELE É O SENHOR!

*E assim nós começamos a refletir sobre o nascimento do Nosso Senhor Jesus neste mês de dezembro, que o Senhor nos abençoe! Amém!

Vamos orar.

Linhares, 1º de dezembro de 2018.

Pr. Marcos José Milagre


[1] BAILEY, Kenneth E. Jesus pela ótica do Oriente Médio. São Paulo: Vida Nova, 2016, p. 31.
[2] DANIEL-ROPS, Daniel. A vida diária nos tempos de Jesus. São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 263.