sexta-feira, 24 de outubro de 2014

A CEIA DO SENHOR

“A CEIA DO SENHOR”
(1 Coríntios 11.23-25)
Sermão preparado para pregação na PIB Linhares, em 28/07/14, domingo, manhã.

Bom dia.

Por gentileza, abra sua Bíblia na Primeira Carta de Paulo aos Coríntios, no capítulo 11, a partir do verso 23, eu vou ler até o verso 25:

“23. Pois recebi do Senhor o que também vos entreguei: o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão
24. e, depois de ter dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim.
25. Do mesmo modo, depois de comer, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue. Fazei isto todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.
26. Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice proclamais a morte do Senhor, até que ele venha.” (1 Coríntios 11.23-26).

Este é o texto em que o Apóstolo Paulo disciplina a Ceia do Senhor para a Igreja de Corinto.

Mas como vamos celebrar hoje a ceia do Senhor eu gostaria que nós refletíssemos nesta manhã um pouco sobre três aspectos da ceia do Senhor. Porque como nós celebramos a ceia como um memorial até que Jesus volte, como diz o verso 26, é muito importante que nós tenhamos conhecimento sobre a origem da ceia, a sua natureza, o seu simbolismo, e a sua finalidade.

Em um primeiro momento eu quero falar sobre a origem da Ceia do Senhor que vai nos ajudar a compreender o porquê de Jesus ter instituído esse memorial.

1) A ORIGEM DA CEIA DO SENHOR (v. 23).

“23. Pois recebi do Senhor o que também vos entreguei: o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão” (1 Cor 11.23)

O Apóstolo Paulo nos mostra claramente a origem da ceia quando diz que “a recebeu do Senhor e a entregou aos Coríntios”.

Foi o próprio Jesus quem determinou que a ceia fosse celebrada como um memorial, até que ele voltasse.

Por isso eu quero mostrar a você como foi essa ordem de Jesus que Paulo recebeu e que chegaria até nós, sendo transmitida a quase dois mil anos.

Deixe sua Bíblia marcada no texto de Coríntios 11 e vá até ao Evangelho segundo Lucas, no capítulo 22, a partir do verso 7

Este foi o momento em que foi instituído esse memorial que nós chamamos de “Ceia do Senhor”, e que para alguns Teólogos é a Certidão de Nascimento da Igreja, quando ela se desliga do Judaísmo e começa a trilhar seu próprio caminho.

Nesse dia Jesus disse que nós tínhamos uma NOVA ALIANÇA no sangue dele. A aliança não era mais a que foi firmada com Moisés, nem com Davi, mas com Jesus, o Cristo e escrita com o seu próprio sangue vertido na cruz do Calvário.

Mas uma coisa importante para nós compreendermos a “Ceia do Senhor” é a informação preciosa do porquê Jesus se reuniu com seus discípulos para esse jantar, na verdade um jantar de despedida, porque logo em seguida Jesus seria preso, julgado, condenado e executado, e não teria mais a companhia dos discípulos.

No verso 8 Jesus fala com todas as letras o motivo do jantar: “preparai-nos a refeição da Páscoa, para que a comamos”.

Então a Ceia do Senhor, instituída por Jesus, tem o que nós podemos chamar de suas “raízes”, na páscoa Judaica (esse é um bom lembrete de que a Páscoa não é uma festa Cristã, mas Judaica, nós celebramos a Ceia do Senhor).

Os Judeus chamam a “Páscoa” de Pêssach, que é uma palavra derivada da raiz hebraica passôach, que significa literalmente “passar por cima”.

Você deve se recordar que a Páscoa foi instituída por ocasião da libertação do povo judeu do cativeiro egípcio, quando Deus chama Moisés para liderar o povo à terra prometida (a mesma terra onde nós temos ouvido falar do conflito entre o Estado de Israel e o Grupo Terrorista Hamas).

No capítulo 12 do livro do Êxodo você vai encontrar a instituição do Pêssach (a Páscoa), o povo judeu era escravo no Egito e Deus ouviu o seu clamor e decidiu libertá-los da escravidão, por isso a Páscoa celebra a liberdade, por isso um outro nome para essa festa é Chág Zemán Kerutênu (a época da nossa libertação).

Êxodo 12 mostra que Deus determinou ao povo judeu que matasse um cordeiro sem defeito algum, e o sangue deste cordeiro fosse aspergido nos batentes das casas em que a refeição fosse tomada.

Essa refeição seria a carne do cordeiro, assada no fogo, acompanhada de pães sem fermento (e não deveria haver nem uma migalha de pão com fermento na casa), além disso a refeição teria ainda “ervas amargas”.

A casa que não tivesse a marca do sangue do cordeiro o anjo da morte passaria e todos os primogênitos daquela casa seriam mortos.

No verso 14 do capítulo 12 de Êxodo, Deus diz assim:

14. E este dia será um memorial. Vós o celebrareis como uma festa ao Senhor e como estatuto perpétuo através de todas as vossas gerações.

Como essa festa foi, e ainda hoje é um dos principais mandamentos do judaísmo (o que eles chamam de mitzvá = mandamento), quando Jesus escolheu Pedro e João (você viu isso no verso 8 de Lucas 22) para preparem a Páscoa para que eles comessem, eles com certeza seguiram as orientações do judaísmo para isso.

Por isso eu quero mostrar para você; tendo como fundamento a forma como os judeus celebram a Páscoa hoje; como foi a refeição que Jesus teve com seus doze Apóstolos.

A Páscoa judaica segue uma ordem de serviço chamada “Sêder” (que literalmente significa “ordem”).

E algumas coisas não podem faltar em uma Páscoa Judaica:

a) Vinho;

b) Matsá (que é o pão sem fermento, deve ter ao menos três desses pães, para relembrar Abrahão, Isaac e Jacob, os patriarcas – como é exigido o mínimo de três pães o conjunto é chamado de matsót, plural de matsá);

c) Carpás: um vegetal verde, que pode ser por exemplo a salsa, para simbolizar a primavera e o renascimento (a Páscoa também é chamada de “a festa da primavera”;

d) Charósset: uma mistura de maçãs cortadas, nozes, vinho e temperos, para simbolizar a argamassa que os escravos preparavam para fazer os tijolos no Egito;

e) Marór: ervas amargas, símbolo da amargura da escravidão;

f) Betsá: um ovo bem cozido, símbolo de um sacrifício festivo que era feito à época do templo;

g) Zerôa: um osso chamuscado, normalmente da perna do animal, símbolo do cordeiro pascal;

h) Água salgada: símbolo das lágrimas dos antepassados, cujo clamor foi atendido por Deus;

i) Copo de Elias: pois os judeus creem que o profeta Elias irá aparecer no Pêssach para anunciar a redenção final e a chegada do messias;

j) A Hagadá: O livro que conta a história da tragédia da escravidão, para refletir sobre a beleza da santidade e a gratidão a Deus pelas bênçãos que ele concedeu.

De tudo isso que estava presente na Páscoa judaica, Jesus manteve dois elementos simbólicos: O pão e o vinho. Só isso.

Nossos antepassados não foram escravos no Egito, ao menos eu acredito que não tenhamos nenhum descendente de judeu aqui; e como eu disse, nossa aliança não é aquela firmada com Abraão, Moisés ou Davi, mas firmada diretamente com o Deus filho, Jesus Cristo, que morreu em nosso lugar.

A ceia do Senhor manteve os elementos simbólicos daquilo que era mais importante na Páscoa: a libertação e o preço que foi pago pela liberdade.

Um cordeiro foi morto. E o apóstolo João escreveu no Apocalipse, capítulo 13, verso 8, que o cordeiro foi morto desde a fundação do mundo.

A morte do cordeiro Jesus, que o outro João, o Batista chamou de “o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1.29) foi simbolizada pelo pão (sua carne) e pelo vinho (seu sangue).

Mas Pastor, porque falar tanto da Páscoa Judaica se nós não a celebramos, se no nosso negócio é a Ceia do Senhor?

Há duas coisas preciosas da Páscoa Judaica além do simbolismo do pão e do vinho (nós vamos tratar melhor do simbolismo daqui a pouco) que nós precisamos sempre resgatar: a primeira delas é a reverência pela Ceia do Senhor (um judeu tem a Páscoa como um dos eventos mais marcantes na sua vida), muitas pessoas não tem o menor interesse pela Ceia, ou hoje nós teríamos quase todos os membros da igreja aqui; a segunda é a compreensão do que a ceia significa, que a morte de Jesus (o cordeiro de Deus) para que eu e você possamos ser livres da escravidão do pecado, este é o maior evento das nossas vidas, o dia em que nós nos arrependemos dos nossos pecados e cremos em Jesus, e hoje temos convicção de que quando findar esta vida estaremos com juntos de Deus.

Por isto, neste momento em que nós estamos nos preparando para cumprir mais uma vez a ordem de Jesus tenha isso na sua mente: Você não está simplesmente comendo um pedacinho de pão e um cálice de suco de uva que os irmãos Diáconos vão lhe entregar, nós estamos aqui hoje, reunidos como igreja para relembrar que um dia fomos escravos, mas Jesus morreu no nosso lugar, por isso compreendamos a importância do que estamos prestes a fazer.

Com a Ceia do Senhor nós deixamos para trás a Páscoa, e por isso precisamos nos voltar totalmente para a natureza da ceia do Senhor e o seu simbolismo.

2) A natureza da Ceia do Senhor e seu simbolismo (vv. 23-b a 26).

Quando eu falo em natureza eu quero que nós pensemos o que é a ceia do Senhor e quando pensamos em simbolismo, o que está envolvido, é o que significa partir o pão e comer, e beber o suco das uvas.

Paulo ensinou à igreja em Corinto o que aprendeu de Jesus, que deveríamos partir o pão juntos e beber do cálice, e isso deve ser feito em memória dele (versos 24 e 25).

Por isso nós batistas cremos que a Ceia do Senhor é um memorial, algo para nos recordarmos de forma muito especial do que Cristo fez em nosso favor.

Uma determinada igreja crê que o pão e o vinho (e eles usam vinho mesmo) se tornam o corpo e o sangue de Cristo após a benção do sacerdote, é a chamada “transubstanciação”.

Jesus em momento algum ensinou isso. Ele só disse: Fazei isso em memória de mim. Digam as palavras que eu estou dizendo, repartam o pão, lembrem-se o meu sangue vertido na cruz do calvário. Por isso a ceia é com toda certeza um memorial, a ser observado de forma consciente e com a devida reverência.

O simbolismo do pão foi mudado da Páscoa para a ceia. Lá o pão era sem fermento, simbolizando a rapidez com que Deus iria libertar o povo de Israel do cativeiro.

Com Jesus o pão passa a simbolizar o seu próprio corpo, que foi chicoteado, esbofeteado, e perfurado.

Como escrito pelo profeta Isaías (53.5) “ele foi ferido por causa das nossas transgressões e esmagado por causa das nossas maldades”.

Você não faz pão sem que antes o grão de trigo tenha sido triturado e esmagado.

Por isso quando você receber este pequenino pedaço de pão, lembre-se que assim como os grãos de trigo foram feridos e esmagados para que o pão chegasse às suas mãos, Jesus foi ferido por causa da minha e da sua transgressão e esmagado por causa das nossas maldades.

O vinho, deixou de significar alegria na “Páscoa Judaica”, para simbolizar o próprio sangue de Jesus na “Ceia do Senhor”, que foi vertido quando ele foi chicoteado, esbofeteado e quando foi crucificado.

O sangue na concepção judaica tem um significado importantíssimo: ele significa a própria vida.

Por isso, com fundamento no texto de Gênesis 9.4 “Mas não comereis a carne com sua vida, isto é, com seu sangue” até hoje os judeus não consomem nada que tenha sangue. Até a carne dos animais que eles consideram próprios para consumo (ou no hebraico, a comida casher - talvez você tenha ouvido a palavra cosher, que tem o mesmo significado, só que cosher é yiddish[1]).
Muito embora a maioria dos Cristãos não observem a dieta cosher (como por exemplo fazem uma denominação sabatista, e eu ressalto que nós não fazemos isso com fundamento no texto de 1 Tm 4.1-5, Rm 14.1, entre tantos outros textos), mas é importante pensarmos que o simbolismo de que os judeus criam e creem, que o sangue simboliza a própria vida de uma pessoa (lembre-se que Jesus foi criado segundo a cultura judaica), quando Jesus diz que você vai beber o sangue dele, simbolizado pelo suco da uva, Ele está dizendo que eu e você vamos receber a própria vida dele.

Você não obtém suco de uva se ela não tiver o seu invólucro (a casca) rompido, e isso era feito na época de Jesus pisando nos cachos de uva.

Jesus se submeteu a ser pisado e morto, para que eu e você pudéssemos receber a sua vida, vida que é simbolizada pelo sangue, que por sua vez, Jesus disse que seria simbolizado pelo suco de uva que você vai receber daqui a pouco.

Este é o simbolismo da ceia do Senhor.

A morte eterna, longe de Deus, estava reservada para cada um de nós, em razão do pecado. Paulo diz isso no texto de Romanos 6.23-a: “O salário do pecado é a morte”.

Por isso Jesus morreu por mim e por você e por isso nós recebemos vida e não morte, vida eterna junto de Deus.

Foi Jesus quem nos deu essa nova vida. Por isso estamos reunidos aqui hoje para nos lembrarmos de tudo isso.

Para nos lembrarmos dessa aliança com Deus, que foi selada com o sangue do próprio “Cordeiro de Deus” (Jesus Cristo), que tirou os nossos pecados.

Mas a ceia do Senhor tem ainda uma finalidade, algo muito especial que é...

3) Proclamar a morte de Jesus até a sua volta (v. 26).

26. Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice proclamais a morte do Senhor, até que ele venha.” (1 Coríntios 11.26).

Quando nós nos reunimos para celebrar a ceia do Senhor outra coisa espetacular acontece: Nós proclamamos (anunciamos) a morte de Jesus.

Não só que ele morreu, mas que morreu por nós, e ainda podemos dizer que ele ressuscitou e venceu a morte, por isso o sangue simboliza vida, e não só morte.

Isso é, ou não é, o que podemos chamar de “EVANGELISMO”?

Com certeza podemos!!!

Por isso querido visitante que porventura esteja conosco nesta manhã, quando você observar os irmãos receberem os elementos da ceia, o pão e o suco de uva, nós queremos dizer a você: JESUS MORREU PELOS NOSSOS PECADOS, E MORREU PELOS SEUS PECADOS TAMBÉM!!!

E ele venceu a própria morte e ressuscitou, e você também pode vencer a morte se você se arrepender dos seus pecados e entregar sua vida a ele, que é o próprio Autor da vida.

Por isso nós não podemos permitir que alguém que não seja Cristão participe da Ceia do Senhor, porque somente aqueles que um dia se arrependeram de seus pecados e entregaram suas vidas a Jesus podem proclamar o que Jesus fez em suas vidas.

Da mesma forma, nós só podemos permitir que crentes, membros de uma igreja batista da mesma fé e ordem (ou seja, igrejas arroladas na Convenção Batista do Estado do Espírito Santo e Convenção Batista Brasileira), que estejam em plena comunhão com suas igrejas (por isso a necessidade de autoexame) participem da Ceia do Senhor aqui na Primeira Igreja Batista de Linhares, é o que chamamos de “Ceia Restrita”.

Por que isso. Nós assim fazemos segundo o entendimento Bíblico de que a Ceia do Senhor é um momento de íntima comunhão daqueles que tenham um mesmo entendimento sobre as verdades Bíblicas.

Se nós pensarmos na Páscoa Judaica, ela foi celebrada a primeira vez lá no Egito em família, dentro das casas. Era um momento íntimo.

Jesus ao Celebrar a Ceia do Senhor convidou somente seus apóstolos. Ele tinha muitos discípulos, mas somente os que tinham o maior grau de intimidade e compartilhavam os seus ensinos (os doze) foram convidados para a ceia.

Por isso se você não é membro de uma Igreja Batista da mesma fé e ordem ou não esteja em comunhão com a sua igreja não se sinta constrangido em não participar da Ceia do Senhor, mas use este momento para refletir sobre o sacrifício de Jesus por você e faça uma reflexão introspectiva de como você tem respondido ao sacrifício de Jesus. Qual tem sido o seu relacionamento com Jesus? Qual tem sido o seu compromisso com Jesus?

Por isso o nosso convite é que você receba Jesus como Senhor e Salvador da sua vida e se desejar, seja membro desta igreja por meio do batismo, para que juntos possamos então Proclamar a Morte de Jesus em nosso favor em todos os momentos de ceia, até que ele volte para nos levar para junto de Deus.

Enquanto estivermos cantando esta música os irmãos diáconos estarão distribuindo o primeiro elemento da ceia. Todos que vão receber este primeiro alimento, por gentileza se coloquem de pé.
  
O Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e deu graças , oremos neste momento.

“Depois de ter dado graças o partiu e disse: Este é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim.” Em memória de Jesus, comamos todos deste pão.

Do mesmo modo, depois de comer, tomou o cálice dizendo. Este cálice é a nova aliança no meu sangue. Vamos orar.

“Este cálice é a nova aliança no meu sangue. Fazei isso todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.” Em memória de Jesus, bebamos do cálice.

Vamos orar neste momento.

Linhares, 28 de julho de 2014.

Pr. Marcos José Milagre



[1] Língua semelhante ao hebraico falada pelos judeus da Europa a partir do 2º Século d.C.

sábado, 11 de outubro de 2014

“NÃO TEMAS!”








“NÃO TEMAS!”

(Isaías 41.8-14)
Sermão preparado para a PIB Linhares, em 31/07/14, quinta-feira, noite.

Boa noite.

Por gentileza, fique de pé e abra sua Bíblia no Livro do Profeta Isaías, capítulo 41, a partir do verso 8. Eu farei a leitura até o verso 14:

“8. Mas tu, ó Israel, servo meu; tu Jacó, a quem escolhi, descendência de Abraão, meu amigo;
9. tu, a quem tirei dos confins da terra, chamei desde os seus cantos e te disse: Tu és o meu servo, eu te escolhi e não te rejeitei;
10. não temas, porque estou contigo; não te assustes, porque sou o teu Deus; eu te fortaleço, ajudo e sustento com a minha mão direita e fiel.
11. Todos os que se revoltam contra ti serão envergonhados e frustrados; serão reduzidos a nada; e os que se opõe a ti perecerão.
12. Ainda que busques os que lutam contra ti, não os encontrarás; e os que guerreiam contigo serão reduzidos a nada e perecerão.
13. Porque eu, o Senhor teu Deus, te seguro pela mão direita e te digo: Não temas; eu te ajudarei.
14. Não temas, ó bichinho de Jacó, nem vós povozinho de Israel; eu te ajudo, diz o Senhor, e o teu redentor é o Santo de Israel.” (Isaias 41.8-14).

Eu quero orar mais uma vez.

Este texto precioso da palavra de Israel em que, por três vezes, Deus diz ao seu povo: NÃO TEMAS, NÃO TEMAS, e NÃO TEMAS! (A repetição de algo na cultura judaica significava uma verdade absoluta, ou algo completo).

Mas não temas o que? Não temas porquê? As primeiras pessoas a ouvirem essas palavras foram os judeus, mais ou menos no ano 700 a 720 antes de Cristo.

- Será que esse negócio ainda se aplica? Será que Deus ainda fala comigo e com você hoje: não temas!

É sobre isso que nós vamos meditar nessa noite: Sobre a segurança que temos quando confiamos em Deus!

Porque segurança é um problema sério, sempre foi e até Jesus voltar sempre será. Há algum tempo atrás aqui em Linhares um rapaz foi rendido quando chegava em casa, foi levado para uma região atrás do Fórum e para tentar se livrar do assalto, ou da morte, jogou o carro morro abaixo, quase parou dentro do Rio Pequeno.

Mesmo quem tem alarme, cachorro no quintal, cerca eletrificada, arame farpado, mil e uma trancas na portar, pode não se sentir seguro dentro de casa. E isso falando de segurança física e ou patrimonial, mas e a insegurança emocional, aquele sentimento de que não se está pisando em terreno firme (medo de perder o emprego, medo de não passar na prova, medo de não conseguir assegurar um futuro).

Tem tanta coisa que pode dar medo, e o medo traz insegurança.

O contexto do livro de Isaías não era o mais tranquilizador para o povo de Israel. Aliás, na época em que esse texto que lemos foi escrito, nós nem podemos falar em Reino de Israel. O Reino já estava dividido, e o Reino do Norte chamado de Israel (onde ficava a região de Samaria que aparece tantas vezes no Ministério de Jesus) havia sido dominado pelos Assírios em 722 a.C., só restava o reino do sul, chamado de Judá, onde Isaías exerceu o seu ministério profético.

O Reino da Assíria havia tentado dominar Judá alguns anos antes, no tempo do Rei Ezequias, nos capítulos 36 e 37. Deus deu um livramento extraordinário ao povo.

Mas ainda pesava sobre o Reino de Judá a ameaça de invasão do império assírio. Seria algo semelhante àquela tensão entre Israel e a faixa de gaza. A qualquer hora pode cair um foguete sobre a sua casa, ou explodir uma bomba, ou levar um tiro. Em algumas regiões de Israel as pessoas têm de 60 a 90 segundos para chegar a um abrigo antiaéreo. Nós podemos chamar isso de muita insegurança.

É em uma situação como esta que Deus fala: “Não temas, porque eu estou contigo; não te assustes, porque sou o teu Deus; eu te fortaleço, ajudo e sustento com a minha mão direita fiel.” (v. 10).

Agora então nós precisamos trazer essa realidade para nossas vidas, para os momentos em que nós sentimos fragilizados, inseguros, com medo, ansiosos.

Em momentos como vivemos nestes últimos dias com meu sogro, por exemplo, em que ele estava com o fêmur quebrado, internado no Hospital Roberto Silvares, sem qualquer previsão de prazo para realizar a cirurgia que era necessária.

Ou como a irmã Elza, que foi diagnosticada com nódulos na vesícula, não sabia se eram benignos ou malignos, mas precisava fazer uma cirurgia para extração.

E eu poderia ficar aqui a noite toda citando exemplos de irmãos e familiares que perderam o emprego, que o relacionamento conjugal passa por um abalo, enfermidades e tantas outras coisas que trazem insegurança e medo.

Mas eu quero investir este tempo em que estamos juntos, para meditarmos na resposta de Deus ao nosso medo, à  nossa ansiedade e ao nosso clamor.

Deus nos diz claramente, e em primeiro lugar: Não temas...

1) PORQUE EU CONHEÇO AS SUAS LIMITAÇÕES (v. 14).

14. Não temas, ó bichinho de Jacó, nem vós povozinho de Israel; eu te ajudo, diz o Senhor, e o teu redentor é o Santo de Israel.” (Isaias 41.14).

Aqui Deus chama o seu povo de “bichinho de Jacó” e “povozinho de Israel”.

A palavra “bichinho” que aparece aqui na versão de Almeida Século XXI recebeu uma aliviada na tradução. Na verdade o hebraico Tôla’at significa “verme”, até hoje, se buscar um dicionário hebraico-português ou mesmo usar a ferramenta de tradução do google, o significado é verme.

Mas porque Deus chama o seu povo de “verme”? Será que Deus estava bravo com o povo: - Seus vermes!”. Será que Deus me chamaria de verme?

Deus chamou o povo judeu de verme e também pode muito bem nos chamar de vermes porque no contexto da mensagem que Deus estava falando ao povo pela boca do profeta Isaias, “verme” era o bichinho mais desamparado, mais desprotegido que Deus podia usar como comparação ao povo.

Verme não é rápido (o bichinho se arrasta);

Verme não é forte (alguns insetos têm ferrão ou tem uma casquinha mais dura -  o exoesqueleto -  ou tem alguma forma de defesa como a lagarta de fogo que ninguém vai botar a mão intencionalmente; mas o verme não, qualquer pisadinha que você der já era); e

 Verme não se sustenta (ele não tem a capacidade de produzir o próprio alimento, sempre depende de outro para se alimentar).

Se nós pensarmos dessa forma, então nós podemos ser chamados por Deus, somente por Deus, de vermes.

 Porque quando nós olhamos para nossas vidas e olhamos para a onipotência, todo esse poder que Deus tem, então é fácil nos compararmos a vermes. Deus provê nosso sustento, nos dá o emprego, uma forma honesta de ganharmos o pão de cada dia; Deus nos dá saúde, ou recupera a nossa saúde.

Mas o ponto principal em comparação com o verme é a nossa fragilidade. Basta um vírus, que seja da gripe, e podemos até ficar de cama; como no caso do meu sogro, bastou um tombo e o fêmur se partiu e colocou até a vida dele em risco em razão da idade (ele tem 83 anos).

O que Deus quer nos dizer quando nos chama de vermes é: Eu conheço a fragilidade de vocês. Conheço seus medos; conheço a ansiedade que toma conta das suas mentes e dos seus corações quando vocês não conseguem enxergar o que vai acontecer.

Há um texto no livro de Hebreus que mostra como é profundo e experiencial o conhecimento de Deus sobre a nossa limitação. Hebreus 4.15:

“15. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas alguém que, à nossa semelhança, foi tentado em todas as coisas, porém sem pecado.” (Hb 4.15).

Deus não conhece a fome, o frio, o abandono, a dor, o medo só porque ouviu falar ou porque ele é onisciente, Deus conhece tudo isso que acontece conosco porque um dia ele se fez homem e habitou entre nós. Jesus Cristo conhece tudo aquilo que eu e você podemos passar em matéria de medo e de ansiedade.

Deus sabe perfeitamente o que é perder um amigo. Quando Lázaro morreu, ainda que ele tenha ressuscitado, o texto Bíblico, na verdade o menor versículo da Bíblia (João 11.35), mostra Jesus chorando.

Quando Deus nos chama de vermes ele não está nos ofendendo, Ele só está nos lembrando que nós somos muito limitados e frágeis, e que Ele conhece bem essa fragilidade, porque ele sofreu na própria pele tudo aquilo que nós sofremos quando escolheu se fazer homem de Jesus Cristo.

Portanto, quando você se sentir só, abandonado ou até mesmo traído por alguém; quando você sentir medo; quando você estiver ansioso, seja pelo motivo que for; lembre-se: Deus conhece exatamente o sentimento que você tem no seu coração e os pensamentos que se passam na sua cabeça. Além de se onisciente (de saber todas as coisas), um dia ele também passou exatamente por todas essas coisas.

E por nos conhecer desta forma experiencial, tão intima, Deus nos diz mais uma vez, NÃO TEMAS...

2) EU TE AJUDAREI (vv. 14-b).

“14. (...); eu te ajudo, diz o Senhor, e o teu redentor é o Santo de Israel.” (Isaías 41.14-b).

Mas Deus não diz só que conhece a nossa limitação, em contrapartida, Deus diz no mesmo versículo em que nos chama de vermes (verso 14), Ele ainda diz: eu te ajudo, diz o Senhor, e o teu redentor é o Santo de Israel”.

É muito interessante que Deus use a palavra “redentor”, aplicando a si mesmo, em relação ao seu povo.

A palavra usada para redentor é o hebraico “go’el”, a mesma que é usada em Números 35.19, para a pessoa que é encarregada de ser o vingador do sangue, aquele que poderia matar um homicida.

Mas “go’el” também é a palavra usada também para aquele que resgata o prisioneiro por dívidas e aquele que deve defender o direito da viúva, essa palavra é usada com este sentido no texto de Rute 2.20:

“20. E Noemi disse à sua nora: Seja ele abençoado pelo Senhor, que não deixou de mostrar benevolência nem para com os vivos nem para com os mortos. Noemi ainda lhe disse: Esse homem é parente nosso, um dos nossos resgatadores.” (Rt 2.20).

Neste texto Boaz é apontado como sendo o resgatador dos direitos hereditários da família de Noemi, sogra de Rute.

Então quando aplicada neste texto de Isaías 41.14, Deus está dizendo de si mesmo, que ele é o protetor do oprimido e libertador do seu povo.

Quando Deus diz: NÃO TEMAS, o que fica subtendido no texto é que eu e você não devemos temer nenhuma das situações que nos aprisionam ou que tiram nossa alegria de viver, porque é o nosso Deus quem vai nos libertar e nos resgatar das garras desse medo.

Quando Deus chama o seu povo de verme, Ele nos diz para compreendermos que somos limitados diante das adversidades, mas quando ele se autodenomina de “redentor” Ele está dizendo para nós pararmos de olhar para nossas limitações, afinal de contas, ficar dizendo o tempo todo que nós somos limitados não vai ajudar em muita coisa; mas quando ele diz para nós olharmos para Ele é para que nós enxerguemos que um Deus todo-poderoso é quem está cuidando de nós.

Vocês são limitados, mas Eu sou ilimitado, Deus diz. Aí as coisas mudam de figura.

Deus também é o seu ajudador. Ele conhece a nossa fragilidade, e como isso pode nos dar medo, por isso Deus nos convida a olhar para Ele: - Vocês são frágeis, mas sou Eu que os ajudo; vocês são fracos, por isso Eu é que sou o redentor de vocês (o libertador).

É a esse Deus todo poderoso que eu convido você a confiar, porque ele é quem pode nos ajudar em todos os momentos das nossas vidas, em especial naquelas em que sentimos medo e desamparo.

Por fim, eu gostaria que nós pensássemos que quando Deus nos diz: NÃO TEMAS...

3) Porque eu te fortaleço quando você está fraco (v. 10).

“10. não temas, porque estou contigo; não te assustes, porque sou o teu Deus; eu te fortaleço, ajudo e sustento com a minha mão direita e fiel.” (Isaias 41.10)

Uma última coisa que eu gostaria que nós pensássemos nesta noite é sobre a oportunidade que temos de ser fortalecidos por Deus quando estamos necessitados para atravessarmos a dificuldade.

Porque existem situações em que não vai haver uma cura.

Por exemplo, Jesus não ressuscitou a João Batista, ele morreu e como todo aquele que espera em Jesus, ele vai ressuscitar somente quando Jesus voltar.

Existem situações em que nós teremos um doente terminal e nós vamos orar por ele, para que Deus o cure se for da vontade do Senhor, mas pode ser que não seja da vontade de Deus que ele se cure. Então ele vai morrer. E a família vai estar enlutada. E o que vamos dizer a essa família?

No texto que nós lemos, Isaías está transmitindo a mensagem do próprio Deus ao povo: não temas, não temas, não temas....

Mas quantas pessoas destas que ouviram o profeta anunciando a mensagem de Deus acabariam indo para o cativeiro babilônico mais tarde, a grande maioria morreria sem rever Jerusalém.

O próprio profeta Isaías foi uma dessas pessoas, que precisou ser fortalecido por Deus para suportar a provação, a tradição judaica diz que ele foi morto pelo perverso rei de Judá chamado Manassés, filho do rei Ezequias.

Seria em referência a ele que o autor da carta aos Hebreus ao falar sobre os heróis da fé, disse no capítulo 11, verso 37 que uns foram “serrados ao meio”. A tradição judaica acredita que Isaias ao fugir da perseguição do rei Manassés teria se escondido no tronco oco de uma árvore, e por isso o rei teria determinado que o profeta fosse serrado junto com a árvore.

Há casos em que somente Deus pode nos fortalecer para continuarmos vivendo.

Ao pensar sobre isso, sobre casos em que a provação durou o tempo de vida da pessoa aqui na terra eu me recordei da história de um homem, que perdeu a perna durante a segunda guerra em razão da perseguição nazista.

A história diz que o homem estava orando silenciosamente e um ateu estava do lado dele olhou, viu que ele não tinha uma perna, entendeu que ele estava orando e não satisfeito resolveu tentar defender o ateísmo. O ateu então perguntou para o homem que orava: - Você está orando para Deus devolver sua perna. O homem parou olhou aquele ateu nos olhos e disse: - Não, eu não estou orando para que Deus devolva a minha perna, eu estou orando para que Deus me ensine a viver sem ela.

(...)

Esse homem orava para ser fortalecido por Deus, para ter sabedoria para pedir que Deus mude o que Deus mesmo entenda que deve ser mudado, e para que Deus dê compreensão e força, para as dificuldades que não vão mudar.

Pastor, mas eu quero uma resposta, eu preciso ouvir Deus me falando porque isso aconteceu, porque o acidente, porque essa enfermidade que levou meu ente querido. Porque isso?

Há uma coisa importante que eu preciso dizer irmãos. Há coisas que estão ocultas ao nosso conhecimento, só Deus conhece e nós vamos conhecer, possivelmente, no céu.

Há um texto muito precioso em Deuteronômio 29.29 que diz assim:

“29. As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, mas as reveladas pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que obedeçamos a todas as palavras desta lei. (Dt. 29.29).

As coisas encobertas pertencem unicamente a Deus, mas as coisas reveladas pertencem a nós e a nossos filhos, para sempre.

E Deus se revelou aos homens em Cristo Jesus, e foi Jesus quem disse (Mateus 11.28 e 29):

“28. Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.
29. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma.” (Mt 11.28-29).

Porque aconteceu isso com meu filho Pastor? Não sei. Porque essa situação terrível demora tanto? Não sei. Quando Deus vai responder? Não sei.

As coisas ocultas pertencem a Deus. Mas Deus escolheu se revelar em Cristo Jesus e Jesus me disse que quando eu estiver sobrecarregado com as minhas dúvidas, com minhas aflições, com o meu medo, com a minha ansiedade; quando eu não aguentar mais carregar esse peso psicológico; quando eu não aguentar carregar mais esse peso emocional; e quando eu não aguentar carregar mais esse peso espiritual, Jesus me convida a ir até ele, e então eu vou encontrar descanso para minha alma.

Mesmo quando Deus não muda a situação (e há situações que não vão mudar nesta vida, só na vida eterna) ele pode mudar o nosso coração e nossa mente, para atravessarmos essas dificuldades com a alma descansada.

CONCLUSÃO:

Por todas essas razões Deus nos diz todos os dias: NÃO TEMAS, NÃO TEMAS, NÃO TEMAS.

Por isso eu quero convidar você, que está enfrentando momentos de medo, ansiedade, frustração, que necessita do cuidado de Deus para algo que tem afligido sua alma, quero te convidar, ENQUANTO CANTAMOS ESTA ÚLTIMA MÚSICA, a vir até aqui à frente para que possamos orar juntos, sabendo que somos fracos, mas que reconhecemos que temos um Deus todo poderoso que nos resgata das nossas aflições, ou que nos fortalece para atravessarmos as nossas aflições com a alma descansada, sabendo que é Ele quem tem nossas vidas nas mãos.

É um momento de nós clamarmos juntos ao Senhor, mas também de agradecermos.

Por isso, se você, como a nossa família já recebeu esta benção do Senhor, como a que Deus concedeu ao meu sogro, eu quero convidar você para que juntos agradeçamos a Ele. Porque Ele tem cuidado de nós.

Vamos orar.