sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

O PERDÃO QUE LIBERTA

“O PERDÃO QUE LIBERTA”
(Mateus 18.21-35)
Sermão preparado para a PIB Linhares, em 14/01/16, quinta-feira, noite.

Boa noite irmãos.

Nesta noite eu gostaria de refletir sobre um dos temas cristãos mais difíceis para se colocar em prática: O Perdão!

Colocar o ensino de Jesus sobre o perdão em prática é humanamente tão complexo, que os apóstolos pediram que Jesus lhes aumentasse a fé.

Interessante, não?! Jesus disse aos doze que pregassem o evangelho por todo o mundo; que eles sofreriam por isso; que seriam perseguidos e até mortos; e eles não pediram nada a Jesus para passar por essas situações; mas quando Ele lhes ensinou sobre o perdão eles disseram (Lucas 17.5): “Aumenta a nossa fé

Então esta noite também vai ser um exercício de expansão da fé, porque humanamente falando é impossível compreender o perdão, nos moldes em que Jesus ensinou.

A mente humana, a racionalidade humana, o pecado humano, não permite compreender o princípio do perdão; só pela fé isso é possível.

E para isso, eu peço que você abra a sua Bíblia no Evangelho segundo Mateus, capítulo 18, versos 21-35:

“21.(...).” (Mateus 18.21-35).

O perdão que liberta!

Vamos orar mais uma vez.

O primeiro ensino sobre o Perdão que liberta, é que...
        
1) DEUS É O PRINCÍPIO DO PERDÃO (v. 27).

“27. Comovido, o senhor daquele servo soltou-o, e perdoou-lhe a dívida.” (Mt 18.27).

O ensino de Jesus sobre o perdão começa com uma fala de Pedro. Ele, como sempre, o mais ousado dos apóstolos, perguntou a Jesus (verso 21):

“21. Então Pedro, aproximando-se dele, perguntou-lhe: Senhor, até quantas vezes deverei perdoar meu irmão que pecar contra mim? Até sete vezes?” (Mt 18.21).

Parece que Pedro estava diminuindo o ensino sobre o perdão: -Perdoar só sete vezes, fala sério né Pedro?

Mas na verdade quando Pedro pergunta a Jesus se ele deveria perdoar até sete vezes ele estava indo muito além do que era ensinado aos Judeus.

Para um judeu a regra geral era a Lei de Talião (Ex 21.23-25):

“23. mas, se causar dano, então pagarás vida por vida,
24. olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé,
25. queimadura por queimadura, ferimento por ferimento, golpe por golpe.” (Ex 21.23-25).

É a regra do “bateu-levou”.

Mas, em razão da manifestação do perdão de Deus, os judeus desenvolveram a sua doutrina sobre o perdão, de que era lícito perdoar até três vezes, mas esse era o limite do perdão.

Eles basearam essa doutrina nos textos de Jó 22.28-29: “28. Mas Deus livrou a minha alma da cova, e a minha vida verá a luz. 29. Tudo isso Deus faz duas e três vezes ao homem.

E, ainda, no texto do Profeta Amós, capítulo 2, verso 1º: “1. Assim diz o Senhor: Pelas três transgressões de Moabe; sim, e pela quarta, não retirarei o castigo; pois queimou os osso do rei de Edom até reduzi-los a cinzas.

Então quando Pedro pergunta a Jesus se deveria perdoar até sete vezes, na mente de Pedro ele estava sendo muito generoso com o seu ofensor. De três vezes para sete, é o dobro e mais uma vez. Show de bola.

Então Jesus diz que o perdão deve ser setenta vezes sete. E conta uma parábola para ilustrar como devemos perdoar as pessoas.

A parábola começa com um rei que decidiu acertar contas com seus servos.

O rei é a figura de Deus. Todos os seres humanos vão ter que lhe prestar contas, não há como escapar desse ajuste, mas nossa grande confiança é a disposição de Deus em nos perdoar quando nosso coração se arrepende genuinamente.

E Jesus diz que o rei perdoa o seu servo em uma dívida de dez mil talentos O equivalente a sessenta milhões de denários). O denário equivalia a um dia de trabalho.

Para termos uma ideia, ainda que bem grosseira, de quanto era o valor, podemos pegar um dia do trabalho de um brasileiro (com base no salário mínimo, basta dividir R$ 880,00 por trinta dias), que é R$ 29,33. Multiplicando isso por 60 milhões, a dívida do homem era algo aproximado a R$ 1.759.800,00 (um bilhão, setecentos e cinquenta e nove milhões e oitocentos mil reais), e esta dívida em um país que remunera mal os trabalhadores, se fosse na Austrália, que tem o maior salário mínimo do mundo a dívida seria muito maior (Mínimo mensal R$ 6.136,00, com o dólar a quatro reais – a dívida seria de 12 bilhões de reais).

O rei talvez até tivesse essa quantia, mas um de seus servos não teria. Com isso Jesus queria mostrar na parábola que a dívida daquele homem era impagável.

Nossa dívida com Deus também é impagável. Não há bondade, não há boas obras, não há velas suficientes para serem queimadas, ou caridade suficiente, que possa quitar nosso débito com Deus.

Por isso o perdão de Deus é baseado na sua própria graça. “Efésios 2.8: Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus”.

Este é o modelo de perdão de Deus. Infinito, imensurável, como o amor de Deus por nós. Basta arrependimento e fé (coisas internas, não externas).

Esse é o tipo de perdão que Jesus estabelece como padrão os seus discípulos.

Por isso o segundo ensino sobre o Perdão que liberta é que...

2) PRECISAMOS APLICAR O PRINCÍPIO DO PERDÃO DO SENHOR AOS NOSSOS OFENSORES (v. 28-30).

“28. Ao sair, porém, aquele servo encontrou um dos seus conservos , que lhe devia cem denários; agarrando-o, sufocava-o, dizendo: Paga o que me deves.
29. Então, caindo aos seus pés, o seu companheiro lhe suplicava: Tem paciência comigo, te pagarei.
30. Ele, porém, não quis; antes mandou colocá-lo na prisão, até que pagasse a dívida.” (Mt 18.28-30).

Nesta parte da parábola Jesus se dedica aos relacionamentos humanos.

Como nós somos pródigos quando queremos o perdão de Deus: –Senhor, eu fiz isso, fiz aquilo, mas o Senhor sabe que eu erro, sou humano, o Senhor sonda o meu coração, me perdoa.

Essa fala é nossa quando pedimos o perdão de Deus, e se houver arrependimento sincero Deus vai perdoar.

Essa fala é quando Deus é o ofendido (quando pecamos Deus sempre é o ofendido).

Mas e quando somos nós os ofendidos?

É aqui que as coisas se complicam. Nós temos muita dificuldade em perdoar as ofensas que nós sofremos.

Em grande número de vezes, nossa primeira reação é fazer como Pedro, decepar a orelha do adversário.

Ou então a gente faz diferente. Diz que perdoou (-há, eu já perdoei, sabe), mas fica relembrando com mágoa a ofensa ao longo dos anos.

Isso acontece porque nós esquecemos quem somos. Esquecemos o que Deus fez conosco.

O nosso pecado é uma formiga aos nossos olhos. Há sempre uma desculpa, um atenuante, uma justificativa.

Os pecados dos outros é um elefante. Não tem desculpa, não tem justificativa, não tem compreensão, e muitas vezes não tem o nosso perdão.

Mas quando olhamos para Deus, para o perdão que recebemos, para a dívida impagável que Deus perdoou, o que é o erro do nosso próximo contra nós?

Não é nada.

Lembra, que eu calculei a dívida do primeiro servo de 60 milhões de denários em quase 2 bilhões de reais?! A dívida do conservo, o que foi para a cadeira, era de apenas cem denários, que daria hoje aproximadamente R$ 2.933,00 reais.

É como se nós fossemos ao banco, com uma dívida de 2 bilhões de reais, o Presidente do Banco nos perdoasse (vai, a sua dívida está paga), e ao sair do banco, na esquina da rua, engarguelássemos um outro correntista do banco, porque ele me deve três mil reais.

Um absurdo, alguém que foi perdoado em R$ 2 bilhões, mandando alguém para a cadeia por R$ 3.000,00.

Nós olharíamos uma situação dessas com profundo desprezo pela ganância, pela maldade, pela insensibilidade daquele homem. É dessa forma que Deus vai olhar para mim e para você quando nós deixamos de perdoar as pessoas que nos ofendem.

Mas e o meu orgulho, e a minha dignidade, a minha honra?

E a dignidade, a honra e a glória de Deus, é menor ou maior que a nossa?

Não há como dizer quão infinitamente superior é a honra do nome do Senhor! Mas mesmo assim ele é capaz de perdoar as nossas ofensas contra ele, por isso Jesus morreu por nós naquela cruz do calvário.

Quem sou eu para negar o perdão a outra pessoa, quando Deus não negou o seu perdão a mim?

Nesta noite eu não sei se há alguém aqui que guarda mágoa, rancor, ou tristeza no coração, por uma ofensa que sofreu.

Eu não estou dizendo que você não foi ofendido; eu não estou dizendo que você não tenha sofrido com isso, e eu não estou dizendo que o seu ofensor não esteja errado. Mas o que Jesus nos diz, e eu preciso repetir isso, é que você deve perdoar essa pessoa, porque em primeiro lugar você foi perdoado por uma dívida infinitamente maior que a ofensa que você mesmo sofreu.

Deus me perdoou, eu não tenho o direito de não perdoar outra pessoa, seja qual for a ofensa que eu sofri.

E Deus me manda fazer isso para o meu próprio bem.

Esta é a terceira e última observação desta noite.

3) O PERDÃO NOS LIBERTA (v. 33-35).

“33. Tu também não devias ter compaixão do teu companheiro, assim como tive de ti?
34. E, irado, entregou-o aos carrascos, até que ele pagasse tudo o que lhe devia.
35. Assim também vos fará meu Pai celestial, se cada um de vós não perdoar de coração ao seu irmão.” (Mt 18.33-35).

Na parábola contada por Jesus o rei entregou o servo sem compaixão para ser torturado pelos carrascos, até que pagasse a dívida.

Uma coisa a ser esclarecida é que Jesus não está falando que perdemos a salvação se não perdoarmos as pessoas. O ensino aqui não é sobre salvação, mas sobre perdão.

Mas Jesus disse que aquele que não perdoa é também entregue aos “carrascos” pelo Pai Celestial.

De que “carrascos” Jesus estava falando? O que é que pode nos “torturar” enquanto não perdoamos aquele que nos ofendeu?

É simples. Como você se sente quando lembra de uma ofensa que ainda não perdoou?

Você fica feliz? “-nossa, aquele mulher falou mal de mim no trabalho, inventou um monte de mentiras para minha supervisora, que alegria, estou felicíssimo com isso!

Você sente paz? “-aquele sujeito me chamou de fracassado, eu estou sentido uma paz invadir meu coração por isso!

Ninguém que não tenha perdoado seu ofensor vai sentir paz ou contentamento. O sentimento de quem não perdoou sempre vai ser de mágoa, rancor, raiva, tristeza, dor.

Vocês acham que existe um carrasco pior que esse? Toda vez que se lembrar da ofensa, voltar a sentir os mesmos sentimentos do momento em que ela aconteceu, toda a dor, frustração, raiva.

Eu acho que não.

Por isso somente quem perdoa é livre. Aquele que não perdoa é como se estivesse algemado àquela situação, como alguém algemado a um cadáver.

Para onde vai o defunto está ali: malcheiroso, desagradável, incômodo, pesado, prendendo você, e arrastando aquela situação pela vida afora.

É como uma ferida que não cicatriza, que volta a doer toda vez que você mexe nela.

Por isso Jesus mandou aos seus discípulos que perdoassem todas as vezes que fossem ofendidos.

Jesus não deseja que nós fiquemos presos a uma situação que só vai nos fazer mal, enquanto estivermos nesta vida, tirando a alegria da nossa salvação, do perdão que nós recebemos pela dívida que tínhamos com Deus antes de Ele nos perdoar, quando entregamos nossas vidas a Jesus.

Ninguém vai tirar a alegria da salvação que Deus me deu enquanto eu perdoar os meus ofensores.

Jesus ensinou isso para que tivéssemos vida e vida em abundância, como diz o texto de João 10.10.

Há um exemplo de pessoas que escolheram o caminho do perdão e não da vingança na África do Sul.

No período de 1910 a 1994 a minoria branca governou aquele pais oprimindo a maioria composta por negros.

Os mais jovens talvez não conheçam a expressão “apartheid” (apartáid), que significa “separação”.

Imagine uma país onde uma pessoa não pode comprar terras, votar, frequentar determinados locais públicos, nem receber o mesmo tipo de serviço público que o resto da população, nem mesmo se casar com uma pessoa branca, só porque é negro.

Ver seus filhos sofrendo, sem escolas, saúde; sem oportunidades, só porque são negros.

Para um homem negro que estuprasse uma branca a pena era a morte. Para um branco que estuprasse uma negra a pena máxima era uma multa, isso quando ocorria.

Isso certamente suscitaria muita raiva, muito rancor. Como perdoar os policiais que mataram uma esposa, ou um marido, ou um filho em um regime tão perverso como esse?

Como seria possível perdoar alguém que tivesse tirado a vida daqueles que amamos?

Mas foi esse tipo de perdão que a África do Sul experimentou depois de 1994, quando Nelson Mandela foi eleito presidente pelo voto livre.

Após ser eleito presidente da África do Sul e depois de 27 anos de prisão, convidou seu carcereiro a juntar-se a ele no palanque da posse. Então convidou o arcebispo Desmond Tutu para chefiar uma equipe do governo chamada: Comissão da Verdade e Reconciliação – CVR.
Durante os dois anos e meio seguintes, os sul-africanos ouviram relatos de atrocidades chegando às audiências da Comissão da Verdade e Reconciliação. As Regras eram simples: Se um policial, ou oficial do exército, branco, enfrentasse voluntariamente seus acusadores, confessasse seu crime e reconhecesse totalmente a culpa, poderia não ser julgado e punido por aquele crime. Partidários de procedimentos mais duros reclamaram da evidente injustiça de deixar criminosos sair livres, mas Mandela insistiu que o país precisava muito mais de restauração que de justiça.

Em uma audiência, um policial chamado Van de Broek relatou um incidente no qual ele e outros policiais fuzilaram um garoto de 18 anos de idade e incendiaram o corpo, virando-o sobre o fogo como um pedaço de churrasco a fim de destruir qualquer evidência. Oito anos mais tarde, Van de Broek, voltou à mesma casa e capturou o pai do rapaz. A esposa foi forçada a assistir a tudo, enquanto policiais amarravam seu marido a uma pilha de madeira, jogavam gasolina em seu corpo e ateavam fogo.

A sala do tribunal ficou em absoluto silêncio quando a mulher, já idosa, que perdera o primeiro filho e depois o marido, teve a oportunidade de responder.

O juiz perguntou: “O que a senhora deseja do sr. Van de Broek?”. Ela disse que queria que Van de Broek fosse ao lugar onde tinha queimado o marido dela e reunisse suas cinzas, de modo que ela pudesse lhe dar um funeral decente. Cabisbaixo, o policial balançou a cabeça concordando.

Ela então fez um pedido adicional: “O sr. Van de Broek tirou minha família inteira, mas ainda tenho muito amor para dar. Duas vezes por mês, gostaria que ele viesse ao gueto e passasse um dia comigo, a fim de que eu possa ser uma mãe para ele. E gostaria que o sr. Van de Broek soubesse que foi perdoado por Deus, e que também lhe perdoo. Eu gostaria de abraça-lo para que ele soubesse que meu perdão é verdadeiro”. 

Naquele instante algumas pessoas na sala do tribunal começaram a cantar “Amazing grace” (Maravilhosa Graça), enquanto aquela senhora se dirigia até o local das testemunhas, mas Van de Broek não conseguiu ouvir o hino. Havia desmaiado, pasmo com o que acontecera.

Aquela mulher ficou livre quando perdoou aquele homem que lhe tinha causado tanta dor e sofrimento.

O apóstolo Paulo, ao escrever a Carta aos Romanos disse (Rm 12.21): “21. Não te deixes vencer pelo mal, mas vença o mal com o bem.

CONCLUSÃO:

Nesta noite talvez o seu coração guarde mágoa, tristeza, talvez até ódio de alguém que tenha te ferido.

E se você ainda pensa na situação e tem esses sentimentos (tristeza, mágoa), se ainda dói quando você pensa, é preciso que você perdoe essa pessoa, para que você se liberte desses “carrascos” que te torturam, e possa experimentar a paz e a alegria que Jesus pode dar.

Isso é vencer o mau com o bem!

Quando perdoamos nós mesmos somos libertos. É difícil perdoar, é, mas é possível, pela fé. Por isso os apóstolos pediram a Jesus “aumenta a nossa fé” (Lucas 17.5).

Eu quero orar neste momento para que Deus nos ajude a perdoar, com o mesmo perdão que recebemos do Senhor, pela graça que recebemos.

Linhares, 13 de janeiro de 2016.

Pr. Marcos José Milagre

PIB Linhares

NOS PASSOS DA IGREJA: PROCLAMAÇÃO

“NOS PASSOS DA IGREJA: PROCLAMAÇÃO”
(Atos 1.1-11)
Sermão preparado para a PIB Linhares, em 02/01/16, domingo, manhã.

Bom dia.

Esse é nossa primeira reunião como Primeira Igreja Batista de Linhares no ano de 2016, por isso eu quero voltar aos nossos primeiros passos como igreja de Cristo.

Para tanto eu quero dar uma olhada no livro de Atos, que é chamado por alguns teólogos como “Atos dos Apóstolos”, em razão da narrativa da atuação de alguns apóstolos.

Outros teólogos preferem o nome “Atos do Espírito Santo”, em razão de que este livro narra o começo da era do Espírito Santo, após a ascensão de Jesus, porque, na verdade, é o Espírito Santo quem dirige a ação dos apóstolos e dos demais discípulos.

E a ação de todas essas pessoas, na forma em que é narrado o livro de Atos por Lucas, tem uma única finalidade: a Proclamação do Evangelho.

Por gentileza, abra sua Bíblia no Livro de Atos, capítulo 1, a partir do verso 1º:

“1.(...).” (Atos 1.1-11).

O verso primeiro mostra que o Livro de Atos foi escrito para “Teófilo”. A maioria dos escritores acredita que Teófilo tenha sido realmente uma pessoa uma pessoa a quem Lucas dirigiu seu escrito, mas parte acredita que Teófilo na verdade sejam todos os crentes, porque seu nome significa “amigo de Deus”, então o livro de Atos teria sido dirigido a todos os amigos de Deus.

O Livro de Atos é um relato vivo da igreja logo depois que Jesus regressou ao Céu e de quando iniciou o tempo do Espírito Santo.

Assim como Deus Pai se mostrou mais intensamente no Antigo Testamento, e Jesus, havia se revelado aos homens, como foi registrado nos evangelhos, agora era o tempo do Espírito Santo colocar-se mais em evidência.

Mas é muito interessante que Lucas tenha iniciado sua narrativa ainda pegando o gancho da despedida de Jesus de seus discípulos.

Até o verso 9 Jesus ainda está com os discípulos, e é no verso 8 que Lucas insere o que é chamado de “a chave do livro de Atos”.

Porque todo livro é destinado a mostrar o cumprimento da palavra de Jesus, de que o evangelho deveria ser pregado por todo o mundo.

E Lucas mostra o evangelho sendo proclamado pela igreja, de Jerusalém a Roma, quando acaba o livro de Atos, Paulo está em prisão domiciliar em
Roma, pregando o evangelho (foi a primeira prisão do apóstolo).

Mas nesta manhã, para falar sobre proclamação do evangelho, eu gostaria de nos identificar com os discípulos de Jesus, para que nós possamos perceber que eles também tinham as suas dificuldades.

Mas a despeito das dificuldades culturais (pregar a não judeus); dificuldades de comunicação (a palavra era pregada a viva voz, sem internet ou redes sociais); dificuldades de liberdade de culto (o cristianismo não era perseguido pelos judeus não convertidos e depois pelos romanos).

A despeito de todas essas dificuldades o evangelho foi levado ao mundo então conhecido.

E esses versículos vão nos guiar um pouco sobre como foi possível essa proclamação fantástica do evangelho.

Mas eu quero inicialmente mostrar uma dificuldade que os discípulos tinham, e que nós também podemos ter nos nossos dias, que pode certamente dificultar muito a proclamação do evangelho, que é...

1) A NOSSA DIFICULDADE EM ENTENDER A VONTADE DO SENHOR (v. 6-8).

“6. E os que se haviam reunido perguntaram-lhe: Senhor, é este tempo em que restaurarás o reino de Israel?
7. Ele lhes respondeu: Não vos compete saber os tempos ou as épocas que o Pai reservou por sua autoridade.
8. Mas recebereis poder quando o Espírito Santo descer sobre vós; e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra.” (At 1.6-8).

Como nós seres humanos temos dificuldade em compreender a vontade de Deus, que agora está escrita em sua palavra.

Os apóstolos estiveram durante um tempo de aproximadamente três anos convivendo diariamente com Jesus.

Eles já haviam ouvido Jesus dizer que seu reino não era terreno. João 18.36 nos mostra isso:

“36. Jesus respondeu: O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus servos lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Entretanto o meu reino não é daqui.” (João 18.36).

Mesmo conhecendo esta verdade os olhos dos discípulos ainda estavam na restauração do reino físico, político de Israel.

Parece insistência, não é?!

Jesus disse: O meu reino não é deste mundo! Antes de Jesus voltar ao céu, lá vem os discípulos com a pergunta de novo: “é este tempo em que restaurarás o reino de Israel?

Insistência humana em que Deus cumpra a nossa agenda.

Mas a agenda de Jesus era outra. Ele diz aos discípulos: Este assunto não diz respeito a vocês. Mas vocês vão receber poder do Espírito Santo para pregar o Evangelho.

Queridos irmãos, este texto mostra como nós seres humanos somos; mesmo nós que somos crentes; quanta dificuldade nós temos em entender e fazer a vontade do Senhor.

Os discípulos já sabiam que o reino de Jesus não era Israel, um país. Eles já tinham recebido a Grande Comissão, mas ainda estavam perseguindo sua própria ideia do que deveria ser o reino de Deus.

Jesus já estava se despedindo e eles ainda não tinham compreendido o que tinham ouvido durante três anos. (thau, boa viagem, mas e aquele negócio que a gente conversou, é assim?).

Ainda hoje parece que muitos crentes estão perguntando a Jesus: “Senhor, eu posso pregar o evangelho ganhando mais dinheiro, ou sendo promovido, ou tendo uma comunhão bem legal com os meus amigos da igreja, daí as pessoas vão ver que é bom ser crente e vão querer conhecer mais o Senhor?

Sucesso, amizades, comunhão com os amigos não são a prioridade na agenda de Deus. A proclamação do evangelho é.

Os versículos que lemos mostram claramente isso. A prioridade no plano de Deus é a salvação das pessoas por meio da proclamação do evangelho pelos crentes.

Mas a grande pergunta é: Quando os crentes vão entender isso? Quando os crentes vão obedecer isso?

No verso 8, eixo central do Livro de Atos, Jesus diz que a vontade do Senhor é que nós sejamos “testemunhas” dEle.

A palavra testemunha tem uma conotação forense.

Durante uma audiência, a testemunha só pode falar daquilo que viu, ou ouviu.

A testemunha não pode expressar sua opinião, porque o que ela “acha” não interessa.

Quando vamos entender que precisamos falar mais daquilo que vimos e ouvimos de Jesus, da transformação que ele fez nas nossas vidas; daquilo que Deus deseja que nós falemos; e que precisamos falar menos daquilo que nós humanamente desejamos falar.

A visão dos apóstolos ainda estava nas coisas deste mundo. Eles pensavam que o batismo no Espírito Santo talvez lhes capacitasse para tornarem Israel o maior reino do mundo, por isso perguntaram a Jesus se quando o Espírito Santo viesse, Israel seria restaurado à glória dos dias de Davi e Salomão.

Eles tinham projetos humanos; tinham desejos humanos.

Não são errados em si mesmos, assim como ser promovido, ganhar mais dinheiro, comprar uma casa melhor, trocar de carro. Não há problema com essas coisas.

Mas o que nós temos que entender, é que isso não é prioridade para Deus.

Não é prioridade para Deus que eu troque de carro, mas que eu me interesse por pessoas, que eu efetivamente pregue a palavra.

E pregar a palavra é falar efetivamente de Jesus às pessoas, é ser uma testemunha de Cristo.

Nós podemos desenvolver a nossa profissão, expandir a nossa empresa, até mesmo tirar férias, ir à praia, passear, são boas coisas, nenhuma dessas coisas nos impede de falar de Jesus.

Mas a nossa falta de compreensão de qual é a vontade do Senhor certamente vai nos impedir de ser uma testemunha de Cristo (onde quer que nós estivermos, fazendo seja lá o que), se eu não entender perfeitamente que a vontade de Jesus é que eu seja sua testemunha, eu não vou falar sobre Jesus.

Esta manhã do primeiro domingo de 2016 é um desafio para cada um de nós, e é um desafio porque até mesmo crentes como os apóstolos tiveram dificuldade com isso.

E é um desafio em compreender que a vontade do Senhor é boa, perfeita e agradável, e que a vontade dele é que nós sejamos testemunhas de Jesus onde nós estivermos, falando do que vimos, ouvimos e da transformação que Ele, Jesus, fez nas nossas vidas.

E um problema merece uma resposta. Se o problema é saber qual a vontade do Senhor e como fazer a vontade do Senhor, o texto nos dá essa resposta, em como superar as dificuldades para proclamação da palavra.

E a resposta é...

2) MANTENDO UM RELACIONAMENTO COM JESUS (v. 12-14).

“12. Então eles voltaram para Jerusalém, vindo do monte chamado das Oliveiras, que fica perto de Jerusalém, à distância de um sábado.
13. Quanto chegaram à cidade, subiram ao aposento superior, onde estavam Pedro e João, Tiago e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus; Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, filho de Tiago.
14. E, unidos, todos se dedicavam à oração, juntamente com as mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele. ” (At 1.12-14).

Jesus já havia voltado ao Céu, e os seus discípulos haviam ficado na terra. Receberam a ordem para esperar em Jerusalém, até que fossem batizados com o Espírito Santo e, então depois, seriam testemunhas de Jesus até os confins da terra.

O interessante é o modo como eles esperaram.

Segundo o texto, Jesus ascendeu ao Céu no monte das Oliveira, que ficava à distância de um sábado. Mais ou menos um quilômetro, era a distância que um judeu podia caminhar no dia de sábado, segundo as normas judaicas.

Chegaram em uma casa, indicada como sendo a casa da mãe de João Marcos, um grande salão no segundo andar.

E o que eles se dedicaram a fazer? Verso 14.

ORAR!

Uma lição preciosa: Não há como ser testemunha de Jesus, sem uma vida de intimidade com Jesus através da oração.

Eu e você podemos ser os melhores oradores do mundo. Uma dessas pessoa que quando abre a boca já tem um discurso pronto, tem segurança para falar, quando fala as pessoas param para escutar o que está sendo dito.

Mas mesmo que eu e você sejamos oradores fantásticos, isso não fará a menor diferença em ser uma testemunha de Cristo, se em primeiro lugar nós não tivermos intimidade com Cristo em oração.

Talvez seja por isso que alguns crentes pregam pouco, ou quase nada, sobre Jesus: Porque também oram pouco ou quase nada.

A oração nos traz a coragem para pregar no nome de Jesus. Eu mostro isso a você em Atos 4.31:

“31. E, quando terminaram de orar, o lugar em que estavam reunidos tremeu. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a anunciar com coragem a palavra de Deus.” (At. 4.31).

Oração constante resulta em enchimento pelo Espírito Santo, que resulta em coragem para anunciar a palavra de Deus.

É um processo que começa com oração e resulta na proclamação do evangelho.

É como aquelas linhas de montagem, em que uma esteira vai levando as peças e cada funcionário acrescenta uma parte e no final o produto está pronto para ser usado.

Como igreja do Senhor Jesus nós precisamos aprender que sem oração não haverá pregação.

Se você não orar, você não será cheio do Espírito Santo e por isso não terá coragem para pregar o nome de Jesus.

Coragem para pregar Jesus não vem de nós (não é oratória, não é saber falar, não é falar bonito). É o Espírito Santo quem nos concede.

Há muitos crentes que sabem falar bem, que sabem falar muito bonito, que estudaram nas melhores escolhas, fizeram faculdade, mas infelizmente nunca levaram uma pessoa sequer aos pés de Jesus.

Quantas pessoas sem estudo, que não sabem as regras gramaticais, que não sabem sequer ler, mas que levaram incontáveis vida a conhecerem Jesus, simplesmente porque são pessoas de oração.

Eu não sei qual valor você tem dado à oração, mas ela é uma porta de intimidade com Deus, é uma porta para o Espírito Santo nos dar coragem para fazer aquilo para o que fomos chamados: Sermos testemunhas de Jesus, até os confins da terra (passando pelo nosso trabalho, nossa escola, nossas amizades e pela nossa família).

Quanto mais eu estudo a Bíblia, mais eu me convenço de que nós, toda a igreja do Senhor Jesus dos nossos dias, temos perdido grandes oportunidades de testemunhar o agir de Deus porque temos orado pouco, ou quase nada.

Por isso, seguir os passos da Igreja que Jesus fundou é colocar os joelhos não chão e falar com Deus, para que o Santo Espírito nos capacite a sermos usados como testemunhas de Jesus.

Oração, enchimento pelo Espírito Santo, coragem para pregação do nome de Jesus, esse é o caminho de intimidade que precisamos seguir, e pode começar comigo e com você, hoje mesmo.

Eu não quero me estender muito hoje em palavras, mas eu quero orar e quero convidar você a orar comigo, por isso eu reservei uma parte do tempo deste último tópico da mensagem para termos um tempo de oração.

A bíblia nos diz que oração resulta em enchimento do Espírito Santo e Ele nos dá coragem para pregar o evangelho, então eu gostaria que você orasse agora pedindo a Deus que encha você com o Espírito Santo, que lhe dê coragem para pregar o nome de Jesus ao sair por aquela porta.

Eu sei que muitas pessoas têm dificuldade em orar por mais tempo. Mas eu peço a você que não abra seus olhos enquanto eu não orar finalizando este momento.

Eu gostaria de pedir a todos os irmãos que orassem agora, todos. Se você tem outros motivos de oração, coloque-os diante de Deus também, família, trabalho, saúde.

Pela conversão de familiares ou amigos.

Mas vamos orar por um tempo irmãos, é a parte prática da mensagem desta manhã.

Vamos orar neste momento.

Linhares, 02 de janeiro de 2016.


Pr. Marcos José Milagre