sábado, 4 de julho de 2015

“TRÊS FORMAS DE ENXERGAR A CRUZ”

“TRÊS FORMAS DE ENXERGAR A CRUZ”
(Marcos 15.21)
Sermão preparado para a PIB Linhares, em 16/11/14, domingo, noite.

Boa noite irmãos e amigos.

Como este é o mês do homem batista vou usar mais uma vez a experiência de um personagem Bíblico masculino para nossa reflexão.

Ressalto que o aprendizado servirá a todos nós, homens e mulheres.

E, para começar nossa meditação, abra sua Bíblia no evangelho segundo Marcos, Capítulo 15, verso 21, quando encontrar o texto se coloque de pé para ouvir a leitura que farei do mesmo:

“21. E obrigaram um homem que passava por ali, vindo do campo, a carregar-lhe a cruz. Era Simão de Cirene, pai de Alexandre e Rufo.” (Marcos 15.21).

Três formas de enxergar a cruz. Vamos orar mais uma vez. Os irmãos podem se sentar.

Este é um daqueles textos que lemos como parte de um enredo muito mais chamativo, muito mais importante aos nossos olhos, que é o processo da crucificação de Jesus, e por isso nós o tratamos até com curiosidade às vezes (afinal, alguém carregou fisicamente a cruz de Jesus), mas acabamos por passar batido na leitura e não nos detemos a meditar em todas as implicações que o texto possui.

Há muitas coisas a aprender aqui.

Simão, que era natural de Cirene, no norte da África. Uma cidade que possuía uma enorme população judaica à época.

Por ser uma cidade africana alguns comentaristas chegaram a afirmar que Simão seria negro.

Todavia a cor da pele de uma pessoa é indiferente ao evangelho.

E essa é uma das belezas da cruz de Cristo: ela não faz distinção entre brancos, negros, amarelos ou vermelhos, ela distingue o coração de cada pessoa, é a sua decisão diante da cruz que importa, não a cor da sua pele.

Outra coisa a pensarmos é crueldade, a barbárie da cruz.

Essa invenção cartaginesa que foi adotada pelos romanos como forma de execução dos piores criminosos, em especial os que eram acusados de sedição, rebelião, contra o então poderoso império romano.

A cruz era uma forma de execução tão brutal que Cícero, o conhecido poeta romano, disse que: “O próprio nome (da cruz) deveria ser excluído não só do corpo, mas também dos pensamentos, dos olhos e dos ouvidos dos cidadãos romanos”.

A palavra grega para cruz, staurós, originalmente significava um poste para empalhamento. Jogava-se o condenado em cima da estaca pontiaguda e esperava-se que ele morresse.

Nos dias de Jesus a cruz já era usada no formado que conhecemos, com uma estaca na vertical e outra na horizontal, a chamada cruz latina.

O condenado após uma sessão longa de tortura, com requinte de crueldade no uso do chicote, era então obrigado a carregar não toda a cruz, como vemos em alguns filmes, mas apenas o patibulum, a parte horizontal da cruz, do local de julgamento até o local da crucificação, onde já o esperava o stipes, a parte vertical da cruz.

Então o texto mostra um homem chamado Simão, natural de Cirene, “que passava por ali, vindo do campo” a quem os soldados romanos “obrigaram (...) a carregar-lhe a cruz”.

Há sempre ao menos três formas de se enxergar a cruz de Cristo. É sobre isso que nós vamos meditar nesta noite, e Simão o Cireneu vai nos ajudar.

E a primeira forma de enxergar a cruz é...

1) COMO UM EXPECTADOR (v. 21)

“21. E obrigaram um homem que passava por ali, vindo do campo, a carregar-lhe a cruz. Era Simão de Cirene, pai de Alexandre e Rufo.” (Marcos 15.21).

Os comentaristas bíblicos especulam que Simão, sendo de Cirene estava em Jerusalém por ocasião dos festejos da Páscoa, porque era dever dos Judeus comparecerem a Jerusalém nesta data, para que pudessem oferecer sacrifícios no templo e terem seus pecados perdoados.

Outros dizem que ele já morava em Jerusalém, e estava regressando do trabalho no campo, e encontrou o cortejo que acompanhava Jesus.

Independente do motivo pelo qual Simão estava na cidade, o fato é que ele passava, viu a movimentação toda e desejou dar uma olhada no que acontecia. Foi a curiosidade que o levou a se aproximar da Cruz de Cristo.

Aliás na cultura que nós brasileiros vivemos, em que oficialmente não há pena de morte, parece que é algo absurdo alguém se deter para assistir a execução de um criminoso.

Nas cidades americanas que nós conhecemos como “velho oeste”, a execução de um criminoso era um acontecimento local: O culto acabava mais cedo, as famílias faziam piquenique para assistir a um enforcamento.

Mas que dizer das pessoas que ainda hoje acessam vídeos no youtube sobre homicídios ou acidentes fatais, será que é tão diferente só porque é gravado?

Simão também não quis perder o espetáculo que a execução proporcionava, então ele deve ter se aproximado para assistir, como quem assiste há um jogo de futebol, como seria a caminhada daquele vivo-morto até o calvário.

A trajetória de Simão foi mudada, contra sua vontade, mas muitos outros expectadores curiosos deveriam estar ao lado de Simão para ver a crucificação de Jesus.

E muitas pessoas ainda hoje enxergam a cruz de Cristo com curiosidade, como um expectador.

Muitos passam pelos bancos das igrejas, exatamente como esses em que você está sentado. Olham a mensagem da cruz, assistem ao culto e voltam para suas casas, com o mesmo vazio no coração com que entraram na igreja.

Isto porque são expectadores, aquela cruz não lhes pertence, cruz requer compromisso, requer uma boa dose de abnegação.

Há pessoas que não querem nem mesmo que seus nomes constem em um rol de membros de igreja, quanto mais tomar sobre seus ombros a cruz do Senhor Jesus, que implicaria em um compromisso eterno, uma transformação que só quem já tomou voluntariamente esta cruz pode experimentar.

Mas a cruz de Cristo, para os fins espirituais que Deus tem reservado, não pode apenas ser objeto de curiosidade.

E se você pensa que veio aqui nesta noite apenas para assistir a um culto você está redondamente engando, pode tirar seu cavalinho da chuva, como diziam meus conterrâneos do Patrimônio do Bis.

Todo contato com a cruz de cristo, ainda que você pense que é só um expectador, na verdade é uma oportunidade que Deus está lhe dando.

Não há um encontro sequer com a Cruz de Jesus que não seja uma oportunidade dada por Deus, de tornar essa cruz sua também.

Como disse o apóstolo Paulo ao escrever aos Gálatas, capítulo 2.19-b e 20:

19. (...) já estou crucificado com Cristo. 20. Portanto, não sou mais eu quem vive, mas é Cristo quem vive em mim. E essa vida que vivo agora no corpo, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.” (Gl 2.19-b e 20).

Se você veio como um expectador da Cruz, nesta noite eu te digo, Deus tem uma proposta para você: de paz, de esperança e de vida eterna na presença dele, e tudo isso passa pela Cruz de Jesus, que pode ser sua também, basta que você aceite Jesus como seu Senhor e Salvador.

Mas há também uma segunda forma de enxergar a cruz, e é...

2) COMO QUEM É OBRIGADO A CARREGÁ-LA (v. 21).

“21. E obrigaram um homem que passava por ali, vindo do campo, a carregar-lhe a cruz. Era Simão de Cirene, pai de Alexandre e Rufo.” (Marcos 15.21).

Simão passava, Jesus já com o corpo extremamente debilitado pela noite de torturas a que havia sido submetido deve ter caído, e os soldados romanos com receio que o condenado não chegasse ao local da crucificação decidiram nomear alguém do povo para carregar aquele travessão da cruz.

Você pode estar pensando, mas não era só o travessão da cruz, será que pesava tanto assim. Há evidências históricas de que o peso médio apenas daquele travessão era de cerca de cinquenta quilos.

Parece pouco, alguns irmãos aqui certamente carregariam com tranquilidade cinquenta quilos.

 Dizem que um certo irmão, que eu não vou mencionar o nome para não o constranger, apenas de jabuticabas que ele consumiu no sítio do irmão Jeremias, por ocasião do evangelismo de ontem, dariam quase esses cinquentas quilos, sem falar nos dois lanches que ele tomou depois.

(...)

Mas carregar cinquenta depois de ser torturado, chicoteado, espancado, de ter ficado sem dormir, e sabendo o que o aguardava para o fim da caminhada, certamente a sensação deveria ser de que aquele madeiro pesava muito mais de cinquenta quilos.

Por isso os soldados romanos pegaram alguém do povo. Um soldado romano, segundo a ótica daquele momento, jamais se rebaixaria a carregar aquele madeiro.

E Simão foi o escolhido.

Ainda nestes dias, nos nossos dias, há pessoas que enxergam a Cruz de Cristo com uma obrigação, como algo que lhes é imposta.

Na história do cristianismo nós já tivemos muitas experiências de grupos de pessoas sendo obrigados a carregar a Cruz de Cristo: Após a suposta conversão do imperador romano Constantino, em 312 d.C., o cristianismo se tornou a religião oficial do império romano, o paganismo foi proibido, e todo um império, da noite para o dia, passou a ser chamado, ao menos formalmente, de cristão, porque seu imperador assim havia determinado.

Que dizer então da idade média, em especial em Portugal e na Espanha, em que os judeus eram obrigados a se converterem, sob pena da inquisição lança-los na fogueira.

Hoje nós temos oficialmente o direito de crer da forma que entendemos correta, mas também de não crer.

E essa é exatamente a posição Bíblica: O ser humano tem liberdade em escolher servir a Jesus e a de não servir a Jesus (o texto de apocalipse 3.20 diz que “Jesus está à porta, e ele bate, mas que só vai entrar na sua vida se você abrir a porta”, por isso tomar a cruz é uma decisão minha e uma decisão pessoal sua).

O grande problema é que algumas pessoas ainda se comportam como se houvessem sido obrigadas a tomar a cruz sobre seus ombros, como se elas não houvessem liberalmente escolhido fazer isso.

Uma pessoa age dessa forma quando, mesmo dizendo que recebeu Jesus como seu Senhor e Salvador, caminha por esta vida como se não houvesse sobre seus ombros a mesma cruz que Jesus carregou, como se não houvesse sido crucificada com Cristo, e ressuscitado com Cristo.

Simão foi obrigado a carregar a cruz de Jesus, hoje ninguém pode dizer que foi obrigado a carregar a cruz de Jesus.

A cruz de Cristo não é um peso qualquer, não é um saco de compras, de bugigangas que se joga nas costas: era um instrumento de morte, mas Deus o transformou em instrumento de vida, para todo aquele que escolhe livremente toma-la sobre seus ombros.

Por isso quem afirma que está em Cristo, que serve a Deus, deve ter uma vida diferente de quem não faz essa afirmação.

Se é pelo fruto que se conhece a árvore, então é pela transformação causada pela Cruz de Cristo que se conhece um cristão.

Eu e você somos livres para aceitar Jesus como nosso Senhor e Salvador, mas precisamos viver como pessoas que foram libertas por Jesus da escravidão do pecado, que verdadeiramente escolheram tomar sobre si a cruz, a negar-se a si mesmo e a seguir Jesus.

E, por fim, a última forma pela qual podemos enxergar a cruz, é...

3) COMO JESUS A ENXERGOU (v. 21)

“21. E obrigaram um homem que passava por ali, vindo do campo, a carregar-lhe a cruz. Era Simão de Cirene, pai de Alexandre e Rufo.” (Marcos 15.21).

O evangelista Marcos fez questão de destacar o nome do homem que foi obrigado a carregar a cruz, a sua naturalidade e ainda o nome de seus dois filhos.

Porque tudo isso?

A explicação dada por todos os comentaristas é que esta família era cristã e que Marcos os conhecera pessoalmente, e por isso fez questão de mencioná-los no evangelho.

O argumento é muito forte, porque Marcos não mencionaria um desconhecido, muito menos seus filhos, considerando que uma das marcas da sua escrita é a concisão de informações.

Marcos não gastaria tinta e pena para escrever sobre pessoas que não fossem importantes para ele.

Há comentaristas que chegam a afirmar que o “Rufo” citado por Paulo em Romanos 16.13 seria o mesmo Rufo filho de Simão o Cireneu.

Mas o fato importante é que Simão, que foi em um primeiro momento foi obrigado a carregar a Cruz de Cristo, depois tenha escolhido carregar esta cruz voluntariamente, ao aceitar servir a Jesus.

Este é o ensino de Jesus e eu quero ler o texto de Lucas 9.23 para mostrar a você:

“23. Jesus dizia a todos: Se alguém quiser vir após mim, negue a si mesmo, tome a cada dia a sua cruz e siga-me.” (Lc 9.23).

Enxergar a Cruz de Cristo como Jesus a enxergou é pensar em primeiro lugar que ela é uma opção.

O texto de Apocalipse 13.8 diz que o cordeiro de Deus, Jesus, “foi morto desde a fundação do mundo”.

Se nós queremos seguir a Jesus precisamos escolher tomar nossa cruz, e Jesus disse que é tomar esta cruz a cada dia.

Foi assim que Jesus enxergou a cruz: Como oportunidade de libertação para cada um de nós, como oportunidade de reconciliação com Deus, para cada um de nós.

Mas para isso precisamos fazer esta escolha, de seguir a Jesus.

CONCLUSÃO:

Nesta noite, neste pouco tempo em que estivemos refletindo sobre a cruz de Cristo, pensamos nas três formas de enxergar essa cruz.

Eu não sei como você enxergava a Cruz de Cristo ao entrar neste local.

Mas se você entendeu que esta noite você precisa enxergar a Cruz como Cristo a enxergou para a humanidade, como uma oportunidade para que a sua vida seja transformada.

Se você quer tomar a cruz de Jesus, e assim enxergar o futuro com esperança, com paz genuína no coração, aceitando Jesus como seu Senhor e Salvador eu gostaria que você levantasse uma de suas mãos, eu quero apenas orar com você.

Fique de pé, vamos orar neste momento.

Linhares, 14 de junho de 2015.


Pr. Marcos José Milagre

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