“AS DIMENSÕES DA CEIA DO SENHOR”
(1 Coríntios 11.17-25)
Sermão
preparado para a PIB Linhares, em 26/10/14, domingo, manhã.
Bom dia irmãos.
Na última oportunidade em que falamos sobre a
Ceia do Senhor, pudemos ver o significado da Páscoa Judaica e o momento em que
Jesus instituiu a Ceia, fazendo então a nova “aliança em seu sangue”.
O Judaísmo ficou para trás, o Templo, os
sacrifícios, a circuncisão, a guarda do sábado. Jesus tinha uma nova aliança
para os seus seguidores, os que seriam conhecidos inicialmente como “os do
caminho” e depois como “cristãos”.
Nesta manhã nós vamos meditar nas dimensões
da Ceia do Senhor.
Por gentileza, abra sua Bíblia na Primeira
Carta de Paulo aos Coríntios, no capítulo 11, a partir do verso 17, eu vou ler
até o verso 25:
“17.
Entretanto, não vos elogio nesta instrução que vos dou agora, pois as vossas reuniões causam mais mal do
que bem.
18.
Porque, em primeiro lugar,
ouço dizer que há divisões entre vós
quando vos reunis como igreja; e em parte acredito nisso.
19. E
é até necessário que haja divergência entre vós, para que os aprovados se
tornem manifestos em vosso meio.
20.
Portanto, quando vos reunis no mesmo lugar, não é para comer a Ceia do Senhor.
21.
Pois, quando comeis, cada um toma antes a sua própria refeição. Assim, um fica
com fome, e o outro se embriaga.
22.
Será que não tendes casa onde comer e beber? Ou desprezais a igreja de Deus e
envergonhais os que nada têm? Que vos direis? Irei elogiar-vos? Não, nisso não
vos elogio.
23. Pois recebi do Senhor o que também vos
entreguei: o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão
24.
e, depois de ter dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo que é dado
por vós. Fazei isto em memória de mim.
25.
Do mesmo modo, depois de comer, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é a nova
aliança no meu sangue. Fazei isto todas as vezes que o beberdes, em memória de
mim.
26.
Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice proclamais a morte do Senhor,
até que ele venha.
27.
Por essa razão, quem comer do pão ou beber do cálice do Senhor de maneira
indigna será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor.
28.
Examine, pois, o homem a si mesmo, e dessa forma como do pão e beba do cálice.
29. Pois quem come e bebe sem ter
consciência do corpo do Senhor, como e bebe para sua própria condenação.”
(1 Coríntios 11.17-29).
Este é o texto em que o Apóstolo Paulo
disciplina a Ceia do Senhor para a Igreja de Corinto.
E Paulo não estava simplesmente ensinado
sobre a Ceia, pois a igreja em Corinto praticava muitas coisas que contrariavam
a palavra do Senhor.
Aqui no caso da Ceia, eles se reuniam, e
muitos deles não para proclamar a “morte do Senhor, até que Ele venha”, como
diz o verso 26, mas para encher a pança.
Era aquele ditado: “quem chega primeiro bebe água
limpa”. Por isso Paulo diz nos versos 20 a 22 que alguns tomavam a
refeição de forma que outros ficavam com fome.
A visão que alguns desses membros da igreja
de Corinto tinham da ceia é que era simplesmente uma refeição, em que eles iam simplesmente
para saciar a fome.
Paulo então ensina que a Ceia do Senhor tem
um significado muito mais espiritual que material, o que nós vamos pensar nesta
manhã como sendo as dimensões da Ceia do Senhor, ou aspectos da Ceia do Senhor.
E o primeiro aspecto que eu destaco é...
1) O NOSSO RELACIONAMENTO COM DEUS (vv. 25-26)
“25.
Do mesmo modo, depois de comer, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue.
Fazei isto todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.
26.
Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice proclamais a morte do Senhor,
até que ele venha.” (1 Cor 11.25-26)
A primeira dimensão da Ceia do Senhor é o
nosso relacionamento com Deus.
Isso precisa estar impregnado nas nossas
mentes, ou este momento será só mais uma liturgia da Igreja, como nós vemos em
outras denominações. Pessoas se reunindo para um momento mágico, com ar de
espiritualidade, mas que não tem a menor ideia do que está acontecendo.
Conosco não pode acontecer isto. Cada pessoa
aqui presente precisa estar convicta que a Ceia do Senhor é um memorial deixada
pelo próprio Jesus para nós nunca nos esquecermos o motivo da nossa fé, ou em
quem nós depositamos a nossa fé: Jesus Cristo!
No
antigo testamento nós encontramos alguns memoriais das antigas alianças
firmadas por Deus com seu povo.
E a palavra
hebraica para aliança é berit da raiz barah, que significa carne (carne porque a aliança só
poderia ser desfeita pela morte (a destruição da carne) de quem firmava a
aliança, não é assim na aliança do casamento – “até que a morte nos separe”).
Mas como Deus não morre, a aliança da parte de Deus é eterna.
Outro significado
aceito pelos estudiosos para a origem da palavra hebraica berit (aliança) é que ela está relacionada com a palavra acadiana birtu, que significa laço ou vínculo, ou seja, estabelecer
uma situação legal por meio de um testemunho acompanhado de juramento. Por isso seu caráter perpétuo que também não
pode ser quebrado.
Como exemplos de alianças firmadas no antigo
testamento, nós temos depois do dilúvio, a aliança firmada por Deus com Noé e
seus descendentes (Gênesis 9.8), de que Ele não destruiria a humanidade
novamente com o dilúvio, e o memorial
dessa aliança foi o arco-íris (Gn 9.13).
Depois nós temos a aliança do Monte Sinai
(Êxodo 19.5), em que Israel seria seu povo, sua propriedade exclusiva dentre
todos os povos. Os memoriais dessa aliança foram
dois: O primeiro deles era “A LEI”, entregue aos Israelitas por meio de
Moisés, cujo livro é chamado de “Livro da Aliança” em Êxodo 24.7.
E segundo memorial da aliança mosaica ou
aliança do Monte Sinais foi o “Sangue”, ou o “Sangue da Aliança” que o Senhor
fez com os Israelitas (Êxodo 24.8).
Então chegamos ao Novo Testamento, onde Jesus
diz que a Ceia do Senhor é “A Nova Aliança”, no seu sangue.
Nesta
manhã em que celebramos este memorial chamado de Ceia do Senhor tenha na sua
mente que você está reafirmando a sua aliança com Deus. E Deus está te
lembrando que você tem uma aliança com ele.
E
uma aliança que não pode ser quebrada, porque foi firmada com o Eterno Deus,
selada com o sangue do seu próprio filho.
Agora eu e você, que um dia recebemos Jesus
como Senhor e Salvador das nossas vidas é que somos povo de propriedade
exclusiva de Deus, como diz o apóstolo Pedro, na sua 1ª Carta, capítulo 2,
verso 9:
“9. Mas vós sois geração eleita, sacerdócio
real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, para que
anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para sua maravilhosa
luz.” (1 Pedro 2.9).
Por isso Paulo ensinou aos crentes de Corinto
que a Ceia do Senhor não era só uma refeição.
E nós também não podemos nos esquecer disso: Este
é um momento de nós lembrarmos que temos uma aliança com o próprio Deus,
inquebrável, e não só lembrarmos, mas reafirmarmos nossa aliança, nosso
compromisso com Deus por meio do sangue de Jesus, vertido em nosso favor.
Mas além do aspecto da aliança com Deus,
Paulo também chama a atenção dos Crentes em Corinto e também a nossa atenção
para outro aspecto da Ceia do Senhor, que é...
2) A NOSSA ALIANÇA COM O CORPO DE CRISTO – A IGREJA (vv. 21-22).
21.
Pois, quando comeis, cada um toma antes a sua própria refeição. Assim, um fica
com fome, e o outro se embriaga.
22.
Será que não tendes casa onde comer e beber? Ou desprezais a igreja de Deus e envergonhais os que nada
têm? Que vos direis? Irei elogiar-vos? Não, nisso não vos elogio.
Nós temos uma aliança pessoal com Deus, e
está é uma das dimensões da Ceia do Senhor, mas nós também temos uma aliança
coletiva com Deus, como Igreja do Senhor.
A Igreja é a instituição mais fantástica da
Terra, porque é por meio dela que Deus escolheu proclamar as boas novas de
salvação por meio de Jesus Cristo unicamente. Deus poderia ter feito isso de
muitas formas, mas nós, como igreja do Senhor, é que fomos escolhidos para ter
este privilégio.
E o pior é que tem muita gente desprezando a
igreja do Senhor, envergonhando a igreja do Senhor. Tem gente que diz que é
Cristão e ao mesmo tempo diz que não acredita na igreja do Senhor.
O mais recente senso do IBGE mostra que nós
temos no Brasil a assustadora quantia de 4 milhões de pessoas que afirmaram ser
Cristãos e não são membros de nenhuma igreja Cristã. É o movimento conhecido
como “os sem igreja”. Cerca de 10% dos “evangélicos” do país.
Isso me lembrou uma experiência pessoal.
Em 2002 eu era Terceiro Sargento do Exército,
e apesar de trabalhar no 19º Batalhão Logístico que ficava em Niterói, no Rio
(hoje ele foi transferido para outra localidade) os terceiros sargentos tiravam
serviço de Comandante da Guarda na Brigada, que ficava no Forte Gragoatá,
próximo ao Campus da Universidade Federal Fluminense.
Ao render um colega que era de outro Batalhão
eu vi a Bíblia dele aberta em cima da cama, no alojamento de Comandante da
Guarda, e perguntei de qual igreja ele era. Ele me respondeu que não era de
igreja nenhuma, e que não acreditava que um Crente precisava estar em uma
igreja.
Isso
me soou tão estanho como alguém dizer que existe um quadrado redondo. Um crente
sem igreja é algo ilógico, não há fundamento
Bíblico para isso.
A menos é claro que o crente ele esteja
isolado fisicamente, como por exemplo os nossos irmãos presos em solitárias na
China por serem cristãos. Ou em uma parte do mundo que a perseguição seja tão
grande que ele não possa se reunir para cultuar, mas ser um “sem igreja” por
opção não é algo compreensível.
A presença de cada um de nós na igreja é tão
importante que Paulo disse em 1 Coríntios 12.17 que:
“17.
Vós sois o corpo de Cristo e,
individualmente, membros desse corpo.” (1 Cor 12.27).
Não
existe privilégio maior que ser chamado de “membro
do corpo de Cristo”.
Paulo ainda vai nos chamar em 1 Cor 2.9 de
“lavoura de Deus” e “Edifício de Deus”.
Deus cultiva os crentes na lavoura que é a
igreja, nos edifica mutuamente, como edifício de Deus.
A igreja é tão importante no plano histórico
de Deus, que o livro do apocalipse foi entregue “às igrejas”, não a pessoas
individualmente (Apocalipse 22.16):
“16.
Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testemunhar
essas coisas em favor das igrejas. Eu sou a raiz e geração de Davi,
a resplandecente estrela da manhã.” (Ap 22.16).
Esse é outro aspecto da Ceia do Senhor que
nós podemos destacar, de que ela é um evento de culto coletivo a ser prestado
como memorial, algo que nós não podemos esquecer de fazer como Igreja do
Senhor, até que o Senhor da Igreja volte.
E uma das preocupações de Paulo ao escrever
este texto que lemos para a igreja em Corinto, foi a forma como alguns crentes
estavam encarando a sua presença na igreja: Um local de satisfação de suas necessidades pessoais e não um lugar de crescer em santidade e serviço
ao Senhor junto com outros crentes.
A declaração doutrinária da Convenção Batista
Brasileira, que é a forma como nós Batistas interpretamos a Bíblia, diz o
seguinte sobre a igreja:
“Tais
congregações são constituídas por livre vontade dessas pessoas com
finalidade de prestarem culto a Deus, observarem as ordenanças de Jesus,
meditarem nos ensinamentos da Bíblia para a edificação mútua e para a propagação
do evangelho.”
Por isso a Ceia do Senhor também é uma
oportunidade para cada um de nós, cada parte do “Corpo de Cristo”, que é a
Igreja, avaliar (1) porque eu escolhi
fazer parte desse corpo; e (2) qual
o meu compromisso com esse corpo.
Nós somos responsáveis uns pelos outros, para
cuidar uns dos outros, para crescermos juntos em santidade. Juntos, sempre
juntos, nos momentos difíceis, nos momentos alegres. Do berçário ou túmulo,
como dizia o Pr. Nilson do Amaral Fanini, mas juntos.
Nós precisamos rememorar isso também enquanto
estamos na Ceia do Senhor.
Por fim, a terceira dimensão da Ceia do
Senhor é que ela...
3) É UMA AUTO ANÁLISE ESPIRITUAL (v. 26).
27.
Por essa razão, quem comer do pão ou beber do cálice do Senhor de maneira
indigna será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor.
28. Examine, pois, o homem a si mesmo,
e dessa forma como do pão e beba do cálice.
Esta é a terceira dimensão da Ceia do Senhor,
a auto análise dos que participam deste memorial.
É o momento de reflexão que você faz a auto
análise da sua vida como cristão.
Não
é momento de um avaliar o outro, por isso Paulo diz no
verso 28 que cada um examine a si mesmo.
O que eu tenho feito da nova vida que o
Senhor me concedeu? Eu tenho amado a Deus sobre todas as coisas? Tenho amado
meu próximo como a mim mesmo? Tenho sido santo, porque Deus é santo?
Para os casados: Tenho amado minha esposa
como Cristo amou a igreja? A esposa: Tem submissa ao seu esposo?
Como filho, eu tenho honrado seus pais?
E por aí vai. Eu tenho colocado em prática
toda a orientação que o Senhor meu deu por meio da sua palavra?
Eu hoje sou um crente melhor do que ontem?
Porque o conceito de santidade é crescer em separação do mundo e separação para
Deus, a cada dia, todos os dias. Isso é santidade, e é isso que Deus espera de
nós.
Por isso a Ceia do Senhor tem também essa
maravilhosa dimensão, de que Deus nos dá a oportunidade de refletirmos sobre a
nossa vida na presença Dele.
E é muito mais precioso este momento do que
apenas refletir ou lembrar do que temos feito ou deixado de fazer, mas é pensar
no porque fazer ou deixar de fazer não para alcançarmos algum favor de Deus,
mas porque primeiramente fomos alcançados pela imerecida e maravilhosa Graça do
Senhor nosso Deus.
É
isso que vai dar sentido à nossa auto reflexão: O
que eu preciso fazer ou deixar de fazer agora que Deus me salvou, e Ele me
salvou não porque eu merecia (porque a Bíblia diz em Romanos 6.23 que nós
merecíamos a morte, não a vida), mas Ele escolheu me salvar pela sua Graça!
Os elementos da Ceia do Senhor têm este
simbolismo: o pão simboliza o corpo de Jesus, moído, assim como o trigo o foi.
O suco da uva só pode se extraído porque ela
foi esmagada, assim como Jesus o foi, por isso ele simboliza o sangue vertido
pelo nosso Salvador.
E a auto análise é essa: Diante do sacrifício
de Jesus por mim, quem eu preciso ser diante dele. Como eu tenho usado a vida
que ele me deu?
Isso cada um de nós precisa fazer neste
momento em que refletimos um pouco sobre as três dimensões da Ceia do Senhor
nas nossas vidas.
Eu quero convidar o grupo de louvor aqui à
frente, e enquanto estivermos cantando esta música os irmãos diáconos estarão
distribuindo o primeiro elemento da ceia. Todos que vão receber este primeiro
alimento, por gentileza se coloquem de pé.
Devem receber os elementos da Ceia os membros
de uma igreja batista da mesma fé e ordem (ou seja, igrejas batistas filiadas à
Convenção Batista Brasileira), que estejam em plena comunhão com a sua igreja,
os queridos visitantes não devem ficar constrangidos por não participarem da
ceia conosco, pois a Ceia do Senhor é um momento de íntima comunhão que devem
participar aqueles que tem um pensamento comum.
Por isso nós partimos do princípio que os
membros de uma igreja batista filiada à Convenção Batista Brasileira tem um
pensamento uniforme sobre como enxergar diversos assuntos Bíblicos, você pode
ler isso em um documento que nós adotamos e que se chama Declaração Doutrinária
da Convenção Batista Brasileira.
Por isso não há motivo nenhum para o querido
visitante ficar constrangido se você não é membro de uma igreja batista que
integra a Convenção Batista Brasileira.
MÚSICA
O Senhor Jesus, na noite em que foi traído,
tomou o pão e deu graças (ORAÇÃO).
Depois de ter dado graças o partiu e disse:
Este é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim.” Em memória
de Jesus, comamos todos deste pão.
Vamos cantar esta próxima música e, enquanto
cantamos, todos que receberam o primeiro elemento da Ceia devem se colocar de
pé para receber o segundo elemento da ceia.
Do
mesmo modo, depois de comer, tomou o cálice dizendo. Este cálice é a nova
aliança no meu sangue. Vamos orar. (ORAÇÃO).
“Este cálice é a nova aliança no meu sangue.
Fazei isso todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.” Em
memória de Jesus, bebamos do cálice.
Os nossos diáconos estarão recebendo os
cálices e os irmãos que trouxeram seus dízimos e ofertas para consagrarem ao
Senhor também virão à frente, este é um privilégio dos membros desta igreja,
nossos visitantes não devem ficar constrangidos de nenhuma forma.
Vamos orar neste momento.
Linhares, 28 de julho de 2014.
Pr.
Marcos José Milagre