sexta-feira, 16 de novembro de 2018

A ADORAÇÃO QUE DEUS QUER, E A QUE NÃO QUER.



“A ADORAÇÃO QUE DEUS QUER, E A QUE NÃO QUER”
(Amós 5.21-23)
Sermão preparado para a PIB Linhares, em 15/11/18, quinta-feira noite. Mês da música.

Boa noite.

Continuamos com nossos pensamentos voltados para o tema da adoração neste mês da música

No último domingo pela manhã nós refletimos sobre o que é adoração, nesta noite vamos pensar na forma da adoração, e na última quinta-feira do mês sobre quem deve ser adorado.

Nós vimos que adoração é um estilo de vida; que não é vinculada à ideia de lugar; ou de expectação, mas à ideia de algo que vem do coração e é um estilo de vida.

E a Bíblia possui uma grande quantidade de textos que mostram que não é qualquer tipo de adoração que Deus deseja, nem adoração de qualquer jeito, por isso precisamos pensar qual é a forma de adoração que agrada o coração do Senhor.

E para nossa reflexão nós vamos usar um texto do Livro do Profeta Amós, capítulo 5, versos 21 a 23, por gentileza, abram suas Bíblias no texto e assim que o encontrarem se coloquem em pé para ouvir a leitura:

“21. Eu detesto e desprezo as vossas festas; não me agrado das vossas assembleias solenes.
22. Ainda que me ofereçais sacrifícios com as vossas ofertas de cereais, não me agradarei deles; nem olharei para as ofertas pacíficas de vossos animais de engorda.
23. Afastai de mim o som dos vossos cânticos, porque não ouvirei as melodias das vossas liras.” (Amós 5.21-23).

A ADORAÇÃO QUE DEUS QUER, E A QUE NÃO QUER!

Vamos orar mais uma vez.

A primeira coisa que pode nortear nossa reflexão sobre qual a adoração que Deus quer, e a que não quer, é que...

1) A ADORAÇÃO DEVE SER BÍBLICA.

A Reforma Protestante restou a música nos cultos. Hinos belíssimos como “Castelo Forte”, composto por Martinho Lutero foram usados pelos reformadores para ensinar a Bíblia ao povo. E o povo teve o louvor restaurado aos seus lábios, depois de séculos afastado dele.

E a Reforma Protestante resgatou também um dos princípios que é um dos cinco pilares das igrejas protestantes: Sola scriptura! Somente a Bíblia é nossa regra de fé!

Toda a adoração deve estar fundada na Bíblia, o que contrariar a Bíblia deve ser rejeitada. É o chamado Princípio Regulador, que foi definido no século 19 pelo historiador escocês Willian Cunningham:

É injustificável e ilegal introduzir no governo e na adoração da igreja de qualquer coisa que não seja a aprovação positiva das Escrituras”.

Este é um dos calcanhares de Aquiles da adoração nas igrejas evangélicas dos nossos dias: Tantas coisas que não estão aprovadas nas escrituras e outras que não são proibidas, mas os crentes as proíbem, baseadas em seus próprios pensamentos ou sentimentos.

Quem não já ouviu falar dos grandes conflitos vividos nas igrejas batistas há algumas décadas para sabermos se bateria era do diabo ou não? Ou se as mulheres podiam usar calça, ou não?

Igrejas foram divididas por baterias! E isso quando lemos no Salmo 150, versos 3-6 que todos os instrumentos e vozes humanas devem louvar ao Senhor:

“3. Louvai-o ao som da trombeta; louvai-o com saltérios e harpas!
4. Louvai-o com danças e tamborins; louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas!
5. Louvai-o com címbalos sonoros; louvai-o com címbalos retumbantes!
6. Todo ser que respira louve o Senhor. Aleluia!” (Sl 150.3-6).

Mas não tinha escrito que bateria podia... então surgiu a controvérsia (engraçado que órgão e piano também não estavam na lista, assim como a bateria, estes também não existiam à época que o Salmo 150 foi composto, mas ninguém discutia se podia usar piano no culto)!

Igrejas já foram divididas até por calças (já falei aqui da história que ouvi da boca de um irmão, colega de seminário, que disse que duas igrejas de uma cidade aqui do norte do Espírito Santo, que eram conhecidas como a igreja de calças e a igreja sem calças, a primeira igreja havia se dividido e surgido a segunda igreja na cidade, esta última que aceitava que as mulheres usassem calças durante os cultos).

Muitas igrejas ainda proíbem que as irmãs usem maquiagem, pintem os cabelos, depilem as axilas, cortem o cabelo, usem calças, etc. Coisas biblicamente sem qualquer relevância!

Proibições que tem origem no coração humano e não na palavra de Deus!

Isso não quer dizer que “liberou geral”, a Bíblia mostra que Deus não autoriza todo tipo de prática cultual na sua Palavra, à revelia da própria Palavra. No texto de Amós, Capítulo 3.4-7 vemos que a rejeição da Palavra era um dos motivos para Israel e Judá perecerem (bem como a idolatria e injustiça social):

“4. Assim diz o Senhor: Pelas três transgressões de Judá (Reino do Sul), sim, e pela quarta, não retirarei o castigo; pois rejeitaram a lei do Senhor e não obedeceram aos seus estatutos, mas se deixaram enganar por suas ilusões, atrás das quais seus pais andaram.
5. Por isso atearei fogo a Judá, e ele consumirá os palácios de Jerusalém.
6. Assim diz o Senhor: Pelas três transgressões de Israel (Reino do Norte), sim, e pela quarta, não retirarei o castigo; pois vendem o justo por prata, e o necessitado, por um par de sandálias.
7. Esmagaram a cabeça dos pobres no pó da terra, pervertem o caminho dos oprimidos; um homem e seu pai deitam-se com a mesma moça, profanando assim o meu santo nome. (Amós 3.4-7).

Israel e Judá sofreram por “rejeitaram a lei do Senhor e não obedeceram aos seus estatutos” (verso 4). Por isso praticaram a idolatria e a injustiça social.

E o povo de Deus dos nossos dias, entre os quais nós estamos, como podemos desagradar a Deus?

Porque podemos chegar ao ponto, espiritualmente tão equivocado de oferecer adoração, louvor, música, que Deus não quer ouvir (como lemos em Amós 5.23)?

Porque abandonamos as escrituras!

Um povo sem um conhecimento profundo da Bíblia, uma igreja que não é dirigida exclusivamente pela Bíblia, é como um carro em alta velocidade, mas sem o seu volante! Está sem direção!

Nossa adoração, nossa música, que é uma das expressões da adoração, devem ser fundamentadas exclusivamente na Bíblia!

Sabendo que é o Santo Espírito quem deve nos conduzir em uma adoração em espírito e em verdade, uma segunda coisa a pensar sobre a adoração que Deus quer e a que Deus não quer, é que...

2) ADORAÇÃO É CONTEÚDO E NÃO FORMA (v. 23).

Como estamos no mês da música vou reler apenas o verso 23, mas sabendo que os versos 21 e 22 também falam sobre adoração:

23. Afastai de mim o som dos vossos cânticos, porque não ouvirei as melodias das vossas liras.” (Amós 5.21-23).

A Bíblia tem uma grande quantidade de textos que demonstram que adoração é conteúdo e não apenas forma.

Como disse o poeta T. S. Eliot, Prêmio Nobel de Literatura de 1948:

“(...) não há maior heresia do que fazer a coisa certa por um motivo errado.

Não basta pregar, cantar, tocar, fazer teatro, coreografia, trabalhar na mesa de som, filmagem, transmissão do culto etc.; é preciso ter um coração de adorador.

a) Deus rejeitou aceitou a adoração de Abel, mas rejeitou a adoração de Caim (Gn 4.3-5). Porque o coração de Caim estava longe da adoração que ele pensava que estava prestando.

Às vezes pensamos que estamos oferecendo a “cereja do bolo” da adoração para Deus, quando na verdade é algo que não está no nosso coração, e Deus rejeita!

Poderíamos, ainda, falar do povo de Israel e de Judá, que ofereciam sacrifícios, dízimos, música, tudo ao Senhor, mas praticavam a idolatria e a injustiça social, por isso Deus rejeitava as formas.

Voltemos a Amós 4.4:

“4. Vinde a Betel e transgredi; vinde a Gilgal e multiplicai as transgressões! Trazei os vossos sacrifícios a cada manhã, e os vossos dízimos de três em três dias.” (Amós 4.4).

O seu dízimo não compra Deus! Seja o valor ou a frequência com que você o entrega, Deus quer o seu coração e a sua mente submissos à vontade Dele!

É isso que Deus diz pela boca do profeta Oseias (Os 6.6):

“6. Pois quero misericórdia (hesed: amor sincero e constante) e não sacrifícios (atos de culto); e o conhecimento de Deus (leitura/meditação na Bíblia e oração), mais do que os holocaustos (oferta, serviço de culto).” (Os 6.6).

-Ah pastor, mas no Novo Testamento vivemos pela graça” (e alguns filmes sobre Jesus retratam o Senhor como alguém que parece que estava com dengue, meio abobado), quando na verdade o Senhor Jesus nunca deixou de exigir daqueles que o seguiam adoração baseada na obediência às suas palavras (Lucas 6.46):

“46. E por que me chamais: Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu vos mando?” (Lc 6.46).

Jesus só é Senhor do adorador que o obedece!

b) Uma outra observação sobre forma e conteúdo na adoração, é que quando o povo estava no deserto, e a adoração era feita no Tabernáculo, Deus eliminou do meio do povo Nadabe e Abiú, por oferecerem “fogo estranho” (Levítico 10.1-2).

“Fogo estranho” é uma expressão que os teólogos ainda não chegaram a uma concordância sobre do que se trata, alguns dizem que era um tipo de incenso diferente do que Deus havia determinado, ou que os dois sacerdotes estavam embriagados quando foram acender o incensário, o fato é que Nadabe e Abiú morreram porque acreditaram que podiam oferecer adoração de qualquer jeito, ou do jeito deles, e não do jeito que Deus queria.

Nós não podemos cair no grande engano de que Deus aceita qualquer coisa! De qualquer jeito! Sem santificação (muitas pessoas mistificam a “santificação”, quando santificação é pensar, falar e fazer as coisas do jeito de Deus, é viver do jeito que Deus quer).

Não pense que você pode levar uma vida do seu jeito fora dessas paredes, fazendo coisas que Deus abomina, e depois vir pregar, cantar, tocar, fazer teatro coreografia sem primeiro se arrepender sinceramente e pedir perdão ao Senhor.

Adoração sem santificação é fogo estranho, e Deus abomina fogo estranho!

Não devemos tentar enganar Deus, adoração é algo sério, e Deus leva a sério!

Por isso, vamos nos santificar para oferecer ao nosso Deus uma adoração que agrade ao nosso Deus, porque, por último...

3) A ADORAÇÃO É VOLTADA PARA DEUS E NÃO PARA O ADORADOR!

Esta eu deixei por último, porque é voltado para nossa eclesiologia do dia-a-dia.

Uma pergunta para começarmos a pensar: A adoração que prestamos é destinada a quem?

(A Deus!)

E porque nos comportamos tantas vezes como se a adoração fosse para nosso deleite, para nossa alegria, para aliviar nossos problemas emocionais, para sairmos mais leves dos cultos?

Já contei de uma igreja batista que estava fazendo trenzinho durante o culto e o irmão perguntou ao pastor se aquilo estava certo, e o pastor disse que “a Convenção Batista tinha flexibilizado essas coisas”.

“- Como assim?” Eu perguntei.

Fazer trenzinho no culto é para adorar a Deus ou é para os que fazem o trenzinho se divertirem um pouco? “Adoração lúdica???

Não estou dizendo que a adoração deva ser ritualística, fria, indiferente à presença de Deus, de Jesus; indiferente à condução de todos os atos de culto pelo Espírito Santo, mas há muitas igrejas que estão priorizando os sentimentos dos “adoradores” (colocando como o alvo do culto) em detrimento da adoração ao Deus soberano!

Já presenciei em igrejas batistas, momentos de louvor, em que as luzes foram apagadas, o telão mostrava imagens de florestas, rios, e as músicas (repetitivas, parecidas com mantras) melodiosas eram cantadas com pessoas de olhos fechados, de pé, muitos de braços levantados, outros tantos às lágrimas.

Depois de quase uma hora nessa cantoria repetitiva, chegava o momento da pregação, as luzes eram acessas, todos sentavam, já cansados pelo “momento de louvor” e o pregador podia usar o tempo restante “para fazer a sua parte” (os irmãos já com cara de sono).

Esse tipo de culto que eu acabei de descrever era para Deus ou era um momento de relaxamento para as pessoas? Uma experiência sensorial de catarse emocional? (um “Rivotril espiritual”).

A pergunta que deve ser feita: É para Deus ou é para as pessoas?

“-Há pastor, mas Deus se alegra quando estamos bem!”.

A alegria do adorador não é o propósito da adoração! O propósito da adoração é adorar a Deus!

A alegria, nosso sentimento de que fizemos o que é certo, o bem-estar que sentimos depois de um culto, é um subproduto que vem do ato de adorar, porque fizemos a vontade a vontade de Deus, porque fizemos aquilo para o que fomos criados!

Há uma confusão entre “objetivo” e “consequência”. O objetivo é adorar a Deus, o resto (alegria, paz, esperança) é consequência de quem adora em espirito e em verdade.

Precisamos tomar muito cuidado para não confundir o desejo do nosso coração com adoração. Como nas palavras do Senhor, por meio do profeta Jeremias (Jr 17.9): “O coração é enganoso e incurável, mais que todas as coisas; quem poderá conhecê-lo?”.

Portanto, que a nossa adoração, em espírito, em verdade e  seja direcionada a Deus, seja dirigida à sua honra, glória e louvor, não a nós; e, como disse João Batista, que cada adorador aqui nesta noite possa dizer sobre Jesus (João 3.30): “É necessário que ele cresça e eu diminua”.

Conclusão:

Eu quero concluir esta noite com um breve resumo do que vimos até agora:

1) A adoração que Deus quer é aquela prestada por pessoas apaixonadas pela sua palavra, que colocam a Bíblia em prática nas suas vidas.

2) A adoração que Deus quer é aquela que a sua expressão (a forma), é forjada por um coração contrito, piedoso, submisso à vontade do próprio Deus.

3) A adoração que Deus quer é aquela que seja voltada para Deus e não para os desejos do adorador, porque Deus não partilha a sua glória com ninguém.

E eu encerro este momento me dirigindo especialmente aos músicos: cantores e instrumentistas que estão aqui nesta noite, ou que nos ouvem pelo Facebook, com uma frase que um Pastor Batista norte-americano muito conhecido, que costuma dizer a si mesmo antes de falar às multidões que iam ouvi-lo, o Pr. Martin Luther King:

Deixe Martin Luther King no pátio dos fundos, e Deus em primeiro plano. Você é apenas o instrumento, e não a fonte. [1]

Continuemos a oferecer uma adoração agradável ao nosso Deus, uma adoração sincera, de mente e coração, sabendo que todos nós que pregamos, tocamos ou cantamos, somos meros instrumentos a serviço do Senhor, e isso deve nos bastar.

Vamos orar neste momento.

Linhares, 15 de novembro de 2018.

Pr. Marcos José Milagre
PIB Linhares


[1] FOIX, Alain. Martin Luther King. Porto Alegre, RS: L&M Pocket, 2018, p. 216.

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