“A ADORAÇÃO QUE DEUS QUER, E A QUE NÃO QUER”
(Amós 5.21-23)
Sermão preparado para a PIB Linhares, em 15/11/18, quinta-feira
noite. Mês da música.
Boa noite.
Continuamos com nossos
pensamentos voltados para o tema da adoração neste mês da música
No último domingo pela manhã
nós refletimos sobre o que é adoração, nesta noite vamos pensar na forma da
adoração, e na última quinta-feira do mês sobre quem deve ser adorado.
Nós vimos que adoração é um
estilo de vida; que não é vinculada à ideia de lugar; ou de expectação, mas à
ideia de algo que vem do coração e é um estilo de vida.
E a Bíblia possui uma grande
quantidade de textos que mostram que não é qualquer tipo de adoração que Deus
deseja, nem adoração de qualquer jeito, por isso precisamos pensar qual é a forma
de adoração que agrada o coração do Senhor.
E para nossa reflexão nós
vamos usar um texto do Livro do Profeta Amós, capítulo 5, versos 21 a 23, por
gentileza, abram suas Bíblias no texto e assim que o encontrarem se coloquem em
pé para ouvir a leitura:
“21. Eu detesto e desprezo as vossas festas; não me
agrado das vossas assembleias solenes.
22. Ainda que me ofereçais sacrifícios com as vossas
ofertas de cereais, não me agradarei deles; nem olharei para as ofertas
pacíficas de vossos animais de engorda.
23. Afastai de mim
o som dos vossos cânticos, porque não ouvirei as melodias das vossas
liras.” (Amós 5.21-23).
A ADORAÇÃO QUE DEUS QUER, E A QUE NÃO
QUER!
Vamos orar mais uma vez.
A primeira coisa que pode
nortear nossa reflexão sobre qual a adoração que Deus quer, e a que não quer, é
que...
1) A ADORAÇÃO DEVE SER BÍBLICA.
A Reforma Protestante restou
a música nos cultos. Hinos belíssimos como “Castelo Forte”, composto por
Martinho Lutero foram usados pelos reformadores para ensinar a Bíblia ao povo.
E o povo teve o louvor restaurado aos seus lábios, depois de séculos afastado
dele.
E a Reforma Protestante
resgatou também um dos princípios que é um dos cinco pilares das igrejas
protestantes: Sola scriptura! Somente a Bíblia é nossa regra de fé!
Toda a adoração deve estar
fundada na Bíblia, o que contrariar a Bíblia deve ser rejeitada. É o chamado Princípio Regulador, que foi definido
no século 19 pelo historiador escocês Willian Cunningham:
“É injustificável e ilegal introduzir no
governo e na adoração da igreja de qualquer coisa que não seja a
aprovação positiva das Escrituras”.
Este é um dos calcanhares de
Aquiles da adoração nas igrejas evangélicas dos nossos dias: Tantas coisas que
não estão aprovadas nas escrituras e outras que não são proibidas, mas os
crentes as proíbem, baseadas em seus próprios pensamentos ou sentimentos.
Quem não já ouviu falar dos
grandes conflitos vividos nas igrejas batistas há algumas décadas para sabermos
se bateria era do diabo ou não? Ou se as mulheres podiam usar calça, ou não?
Igrejas
foram divididas por baterias! E isso quando lemos no
Salmo 150, versos 3-6 que todos os instrumentos e vozes humanas devem louvar ao
Senhor:
“3. Louvai-o ao som da trombeta; louvai-o com saltérios
e harpas!
4. Louvai-o com danças e tamborins; louvai-o com instrumentos
de cordas e com flautas!
5. Louvai-o com címbalos
sonoros; louvai-o com címbalos
retumbantes!
6. Todo ser que
respira louve o Senhor. Aleluia!” (Sl 150.3-6).
Mas não tinha escrito que
bateria podia... então surgiu a controvérsia (engraçado que órgão e piano
também não estavam na lista, assim como a bateria, estes também não existiam à
época que o Salmo 150 foi composto, mas ninguém discutia se podia usar piano no
culto)!
Igrejas
já foram divididas até por calças (já falei aqui da história
que ouvi da boca de um irmão, colega de seminário, que disse que duas igrejas
de uma cidade aqui do norte do Espírito Santo, que eram conhecidas como a
igreja de calças e a igreja sem calças, a primeira igreja havia se dividido e
surgido a segunda igreja na cidade, esta última que aceitava que as mulheres
usassem calças durante os cultos).
Muitas igrejas ainda proíbem
que as irmãs usem maquiagem, pintem os cabelos, depilem as axilas, cortem o
cabelo, usem calças, etc. Coisas biblicamente sem qualquer relevância!
Proibições
que tem origem no coração humano e não na palavra de Deus!
Isso não quer dizer que
“liberou geral”, a Bíblia mostra que Deus não autoriza todo tipo de prática cultual
na sua Palavra, à revelia da própria Palavra. No texto de Amós, Capítulo 3.4-7
vemos que a rejeição da Palavra era um dos motivos para Israel e Judá perecerem
(bem como a idolatria e injustiça social):
“4. Assim diz o Senhor: Pelas três transgressões de Judá (Reino do Sul), sim, e pela
quarta, não retirarei o castigo; pois
rejeitaram a lei do Senhor e não obedeceram aos seus estatutos, mas se
deixaram enganar por suas ilusões, atrás das quais seus pais andaram.
5. Por isso atearei fogo a Judá, e ele consumirá os palácios de Jerusalém.
6. Assim diz o Senhor: Pelas três transgressões de Israel (Reino do Norte), sim, e
pela quarta, não retirarei o castigo; pois
vendem o justo por prata, e o necessitado, por um par de sandálias.
7. Esmagaram a
cabeça dos pobres no pó da terra, pervertem o caminho dos oprimidos; um homem e
seu pai deitam-se com a mesma moça, profanando assim o meu santo nome.
(Amós 3.4-7).
Israel e Judá sofreram por “rejeitaram
a lei do Senhor e não obedeceram aos seus estatutos” (verso 4). Por
isso praticaram a idolatria e a injustiça social.
E o povo de Deus dos nossos
dias, entre os quais nós estamos, como podemos desagradar a Deus?
Porque
podemos chegar ao ponto, espiritualmente tão equivocado de oferecer
adoração, louvor, música, que Deus não quer ouvir (como lemos em Amós 5.23)?
Porque
abandonamos as escrituras!
Um
povo sem um conhecimento profundo da Bíblia, uma igreja que não é dirigida
exclusivamente pela Bíblia, é como um carro em alta velocidade, mas sem o seu
volante! Está sem direção!
Nossa adoração, nossa música,
que é uma das expressões da adoração, devem ser fundamentadas exclusivamente na
Bíblia!
Sabendo que é o Santo
Espírito quem deve nos conduzir em uma adoração em espírito e em verdade, uma
segunda coisa a pensar sobre a adoração que Deus quer e a que Deus não quer, é
que...
2) ADORAÇÃO É CONTEÚDO E NÃO FORMA (v. 23).
Como estamos no mês da
música vou reler apenas o verso 23, mas sabendo que os versos 21 e 22 também
falam sobre adoração:
23. Afastai de mim
o som dos vossos cânticos, porque não ouvirei as melodias das vossas
liras.” (Amós 5.21-23).
A
Bíblia tem uma grande quantidade de textos que demonstram que adoração é
conteúdo e não apenas forma.
Como disse o poeta T. S.
Eliot, Prêmio Nobel de Literatura de 1948:
“(...) não há maior heresia do que fazer a coisa
certa por um motivo errado.”
Não basta pregar, cantar,
tocar, fazer teatro, coreografia, trabalhar na mesa de som, filmagem,
transmissão do culto etc.; é preciso ter um coração de adorador.
a)
Deus
rejeitou aceitou a adoração de Abel, mas rejeitou a adoração de Caim (Gn
4.3-5). Porque o coração de Caim estava longe da adoração que ele pensava que
estava prestando.
Às
vezes pensamos que estamos oferecendo a “cereja do bolo” da adoração para Deus,
quando na verdade é algo que não está no nosso coração, e Deus rejeita!
Poderíamos, ainda, falar do
povo de Israel e de Judá, que ofereciam sacrifícios, dízimos, música, tudo ao
Senhor, mas praticavam a idolatria e a injustiça social, por isso Deus
rejeitava as formas.
Voltemos a Amós 4.4:
“4. Vinde a Betel e transgredi; vinde a Gilgal e multiplicai as transgressões! Trazei os vossos sacrifícios a cada manhã,
e os vossos dízimos de três em três dias.” (Amós 4.4).
O seu dízimo não compra
Deus! Seja o valor ou a frequência com que você o entrega, Deus quer o seu
coração e a sua mente submissos à vontade Dele!
É isso que Deus diz pela
boca do profeta Oseias (Os 6.6):
“6. Pois quero misericórdia (hesed: amor sincero e
constante) e não sacrifícios (atos
de culto); e o conhecimento de Deus (leitura/meditação
na Bíblia e oração), mais do que os holocaustos (oferta, serviço de culto).”
(Os 6.6).
“-Ah pastor, mas no Novo
Testamento vivemos pela graça” (e alguns filmes sobre Jesus retratam o
Senhor como alguém que parece que estava com dengue, meio abobado), quando na
verdade o Senhor Jesus nunca deixou de exigir daqueles que o seguiam adoração baseada na obediência às suas
palavras (Lucas 6.46):
“46. E por que me chamais: Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu vos mando?” (Lc 6.46).
Jesus
só é Senhor do adorador que o obedece!
b) Uma
outra observação sobre forma e conteúdo na adoração, é que quando o povo estava
no deserto, e a adoração era feita no Tabernáculo, Deus eliminou do meio do
povo Nadabe e Abiú, por oferecerem “fogo estranho” (Levítico 10.1-2).
“Fogo estranho” é uma
expressão que os teólogos ainda não chegaram a uma concordância sobre do que se
trata, alguns dizem que era um tipo de incenso diferente do que Deus havia
determinado, ou que os dois sacerdotes estavam embriagados quando foram acender
o incensário, o fato é que Nadabe e Abiú morreram porque acreditaram que podiam
oferecer adoração de qualquer jeito, ou do jeito deles, e não do jeito que Deus
queria.
Nós não podemos cair no
grande engano de que Deus aceita qualquer coisa! De qualquer jeito! Sem santificação (muitas pessoas
mistificam a “santificação”, quando santificação é pensar, falar e fazer as
coisas do jeito de Deus, é viver do jeito que Deus quer).
Não pense que você pode
levar uma vida do seu jeito fora dessas paredes, fazendo coisas que Deus
abomina, e depois vir pregar, cantar, tocar, fazer teatro coreografia sem primeiro se arrepender
sinceramente e pedir perdão ao Senhor.
Adoração
sem santificação é fogo estranho,
e Deus abomina fogo estranho!
Não devemos tentar enganar
Deus, adoração é algo sério, e Deus leva a sério!
Por isso, vamos nos
santificar para oferecer ao nosso Deus uma adoração que agrade ao nosso Deus,
porque, por último...
3) A ADORAÇÃO É VOLTADA PARA DEUS E NÃO PARA O ADORADOR!
Esta eu deixei por último,
porque é voltado para nossa eclesiologia do dia-a-dia.
Uma pergunta para começarmos
a pensar: A adoração que prestamos é
destinada a quem?
(A
Deus!)
E porque nos comportamos
tantas vezes como se a adoração fosse para nosso deleite, para nossa alegria,
para aliviar nossos problemas emocionais, para sairmos mais leves dos cultos?
Já contei de uma igreja
batista que estava fazendo trenzinho durante o culto e o irmão perguntou ao
pastor se aquilo estava certo, e o pastor disse que “a Convenção Batista tinha
flexibilizado essas coisas”.
“-
Como assim?” Eu perguntei.
Fazer trenzinho no culto é
para adorar a Deus ou é para os que fazem o trenzinho se divertirem um pouco? “Adoração
lúdica???”
Não estou dizendo que a
adoração deva ser ritualística, fria, indiferente à presença de Deus, de Jesus;
indiferente à condução de todos os atos de culto pelo Espírito Santo, mas há
muitas igrejas que estão priorizando os sentimentos dos “adoradores” (colocando
como o alvo do culto) em detrimento da adoração ao Deus soberano!
Já presenciei em igrejas
batistas, momentos de louvor, em que as luzes foram apagadas, o telão mostrava
imagens de florestas, rios, e as músicas (repetitivas, parecidas com mantras)
melodiosas eram cantadas com pessoas de olhos fechados, de pé, muitos de braços
levantados, outros tantos às lágrimas.
Depois de quase uma hora
nessa cantoria repetitiva, chegava o momento da pregação, as luzes eram
acessas, todos sentavam, já cansados pelo “momento de louvor” e o pregador
podia usar o tempo restante “para fazer
a sua parte” (os irmãos já com cara de sono).
Esse
tipo de culto que eu acabei de descrever era para Deus ou era um momento de
relaxamento para as pessoas? Uma experiência sensorial de catarse emocional?
(um “Rivotril espiritual”).
A pergunta que deve ser
feita: É para Deus ou é para as pessoas?
“-Há pastor, mas Deus se
alegra quando estamos bem!”.
A
alegria do adorador não é o propósito da adoração! O propósito da adoração é
adorar a Deus!
A alegria, nosso sentimento
de que fizemos o que é certo, o bem-estar que sentimos depois de um culto, é um subproduto que vem do ato de adorar,
porque fizemos a vontade a vontade de Deus, porque fizemos aquilo para o que
fomos criados!
Há uma confusão entre “objetivo” e “consequência”. O objetivo é
adorar a Deus, o resto (alegria, paz, esperança) é consequência de quem adora
em espirito e em verdade.
Precisamos tomar muito
cuidado para não confundir o desejo do nosso coração com adoração. Como nas
palavras do Senhor, por meio do profeta Jeremias (Jr 17.9): “O
coração é enganoso e incurável, mais que todas as coisas; quem poderá
conhecê-lo?”.
Portanto, que a nossa
adoração, em espírito, em verdade e seja
direcionada a Deus, seja dirigida à sua honra, glória e louvor, não a nós; e,
como disse João Batista, que cada adorador aqui nesta noite possa dizer sobre
Jesus (João 3.30): “É necessário que ele
cresça e eu diminua”.
Conclusão:
Eu
quero concluir esta noite com um breve resumo do que vimos até agora:
1)
A
adoração que Deus quer é aquela prestada por pessoas apaixonadas pela sua
palavra, que colocam a Bíblia em prática nas suas vidas.
2)
A
adoração que Deus quer é aquela que a sua expressão (a forma), é forjada por um
coração contrito, piedoso, submisso à vontade do próprio Deus.
3)
A
adoração que Deus quer é aquela que seja voltada para Deus e não para os
desejos do adorador, porque Deus não partilha a sua glória com ninguém.
E eu encerro este momento me
dirigindo especialmente aos músicos: cantores e instrumentistas que estão aqui
nesta noite, ou que nos ouvem pelo Facebook, com uma frase que um Pastor
Batista norte-americano muito conhecido, que costuma dizer a si mesmo antes de falar às multidões que iam
ouvi-lo, o Pr. Martin Luther King:
“Deixe Martin Luther King no pátio dos
fundos, e Deus em primeiro plano. Você é apenas o instrumento, e não a fonte.” [1]
Continuemos
a oferecer uma adoração agradável ao nosso Deus, uma adoração sincera, de mente
e coração, sabendo que todos nós que pregamos, tocamos ou cantamos, somos
meros instrumentos a serviço do Senhor, e isso deve nos bastar.
Vamos orar neste momento.
Linhares, 15 de novembro de
2018.
Pr.
Marcos José Milagre
PIB
Linhares
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