sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

O PERDÃO QUE LIBERTA

“O PERDÃO QUE LIBERTA”
(Mateus 18.21-35)
Sermão preparado para a PIB Linhares, em 14/01/16, quinta-feira, noite.

Boa noite irmãos.

Nesta noite eu gostaria de refletir sobre um dos temas cristãos mais difíceis para se colocar em prática: O Perdão!

Colocar o ensino de Jesus sobre o perdão em prática é humanamente tão complexo, que os apóstolos pediram que Jesus lhes aumentasse a fé.

Interessante, não?! Jesus disse aos doze que pregassem o evangelho por todo o mundo; que eles sofreriam por isso; que seriam perseguidos e até mortos; e eles não pediram nada a Jesus para passar por essas situações; mas quando Ele lhes ensinou sobre o perdão eles disseram (Lucas 17.5): “Aumenta a nossa fé

Então esta noite também vai ser um exercício de expansão da fé, porque humanamente falando é impossível compreender o perdão, nos moldes em que Jesus ensinou.

A mente humana, a racionalidade humana, o pecado humano, não permite compreender o princípio do perdão; só pela fé isso é possível.

E para isso, eu peço que você abra a sua Bíblia no Evangelho segundo Mateus, capítulo 18, versos 21-35:

“21.(...).” (Mateus 18.21-35).

O perdão que liberta!

Vamos orar mais uma vez.

O primeiro ensino sobre o Perdão que liberta, é que...
        
1) DEUS É O PRINCÍPIO DO PERDÃO (v. 27).

“27. Comovido, o senhor daquele servo soltou-o, e perdoou-lhe a dívida.” (Mt 18.27).

O ensino de Jesus sobre o perdão começa com uma fala de Pedro. Ele, como sempre, o mais ousado dos apóstolos, perguntou a Jesus (verso 21):

“21. Então Pedro, aproximando-se dele, perguntou-lhe: Senhor, até quantas vezes deverei perdoar meu irmão que pecar contra mim? Até sete vezes?” (Mt 18.21).

Parece que Pedro estava diminuindo o ensino sobre o perdão: -Perdoar só sete vezes, fala sério né Pedro?

Mas na verdade quando Pedro pergunta a Jesus se ele deveria perdoar até sete vezes ele estava indo muito além do que era ensinado aos Judeus.

Para um judeu a regra geral era a Lei de Talião (Ex 21.23-25):

“23. mas, se causar dano, então pagarás vida por vida,
24. olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé,
25. queimadura por queimadura, ferimento por ferimento, golpe por golpe.” (Ex 21.23-25).

É a regra do “bateu-levou”.

Mas, em razão da manifestação do perdão de Deus, os judeus desenvolveram a sua doutrina sobre o perdão, de que era lícito perdoar até três vezes, mas esse era o limite do perdão.

Eles basearam essa doutrina nos textos de Jó 22.28-29: “28. Mas Deus livrou a minha alma da cova, e a minha vida verá a luz. 29. Tudo isso Deus faz duas e três vezes ao homem.

E, ainda, no texto do Profeta Amós, capítulo 2, verso 1º: “1. Assim diz o Senhor: Pelas três transgressões de Moabe; sim, e pela quarta, não retirarei o castigo; pois queimou os osso do rei de Edom até reduzi-los a cinzas.

Então quando Pedro pergunta a Jesus se deveria perdoar até sete vezes, na mente de Pedro ele estava sendo muito generoso com o seu ofensor. De três vezes para sete, é o dobro e mais uma vez. Show de bola.

Então Jesus diz que o perdão deve ser setenta vezes sete. E conta uma parábola para ilustrar como devemos perdoar as pessoas.

A parábola começa com um rei que decidiu acertar contas com seus servos.

O rei é a figura de Deus. Todos os seres humanos vão ter que lhe prestar contas, não há como escapar desse ajuste, mas nossa grande confiança é a disposição de Deus em nos perdoar quando nosso coração se arrepende genuinamente.

E Jesus diz que o rei perdoa o seu servo em uma dívida de dez mil talentos O equivalente a sessenta milhões de denários). O denário equivalia a um dia de trabalho.

Para termos uma ideia, ainda que bem grosseira, de quanto era o valor, podemos pegar um dia do trabalho de um brasileiro (com base no salário mínimo, basta dividir R$ 880,00 por trinta dias), que é R$ 29,33. Multiplicando isso por 60 milhões, a dívida do homem era algo aproximado a R$ 1.759.800,00 (um bilhão, setecentos e cinquenta e nove milhões e oitocentos mil reais), e esta dívida em um país que remunera mal os trabalhadores, se fosse na Austrália, que tem o maior salário mínimo do mundo a dívida seria muito maior (Mínimo mensal R$ 6.136,00, com o dólar a quatro reais – a dívida seria de 12 bilhões de reais).

O rei talvez até tivesse essa quantia, mas um de seus servos não teria. Com isso Jesus queria mostrar na parábola que a dívida daquele homem era impagável.

Nossa dívida com Deus também é impagável. Não há bondade, não há boas obras, não há velas suficientes para serem queimadas, ou caridade suficiente, que possa quitar nosso débito com Deus.

Por isso o perdão de Deus é baseado na sua própria graça. “Efésios 2.8: Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus”.

Este é o modelo de perdão de Deus. Infinito, imensurável, como o amor de Deus por nós. Basta arrependimento e fé (coisas internas, não externas).

Esse é o tipo de perdão que Jesus estabelece como padrão os seus discípulos.

Por isso o segundo ensino sobre o Perdão que liberta é que...

2) PRECISAMOS APLICAR O PRINCÍPIO DO PERDÃO DO SENHOR AOS NOSSOS OFENSORES (v. 28-30).

“28. Ao sair, porém, aquele servo encontrou um dos seus conservos , que lhe devia cem denários; agarrando-o, sufocava-o, dizendo: Paga o que me deves.
29. Então, caindo aos seus pés, o seu companheiro lhe suplicava: Tem paciência comigo, te pagarei.
30. Ele, porém, não quis; antes mandou colocá-lo na prisão, até que pagasse a dívida.” (Mt 18.28-30).

Nesta parte da parábola Jesus se dedica aos relacionamentos humanos.

Como nós somos pródigos quando queremos o perdão de Deus: –Senhor, eu fiz isso, fiz aquilo, mas o Senhor sabe que eu erro, sou humano, o Senhor sonda o meu coração, me perdoa.

Essa fala é nossa quando pedimos o perdão de Deus, e se houver arrependimento sincero Deus vai perdoar.

Essa fala é quando Deus é o ofendido (quando pecamos Deus sempre é o ofendido).

Mas e quando somos nós os ofendidos?

É aqui que as coisas se complicam. Nós temos muita dificuldade em perdoar as ofensas que nós sofremos.

Em grande número de vezes, nossa primeira reação é fazer como Pedro, decepar a orelha do adversário.

Ou então a gente faz diferente. Diz que perdoou (-há, eu já perdoei, sabe), mas fica relembrando com mágoa a ofensa ao longo dos anos.

Isso acontece porque nós esquecemos quem somos. Esquecemos o que Deus fez conosco.

O nosso pecado é uma formiga aos nossos olhos. Há sempre uma desculpa, um atenuante, uma justificativa.

Os pecados dos outros é um elefante. Não tem desculpa, não tem justificativa, não tem compreensão, e muitas vezes não tem o nosso perdão.

Mas quando olhamos para Deus, para o perdão que recebemos, para a dívida impagável que Deus perdoou, o que é o erro do nosso próximo contra nós?

Não é nada.

Lembra, que eu calculei a dívida do primeiro servo de 60 milhões de denários em quase 2 bilhões de reais?! A dívida do conservo, o que foi para a cadeira, era de apenas cem denários, que daria hoje aproximadamente R$ 2.933,00 reais.

É como se nós fossemos ao banco, com uma dívida de 2 bilhões de reais, o Presidente do Banco nos perdoasse (vai, a sua dívida está paga), e ao sair do banco, na esquina da rua, engarguelássemos um outro correntista do banco, porque ele me deve três mil reais.

Um absurdo, alguém que foi perdoado em R$ 2 bilhões, mandando alguém para a cadeia por R$ 3.000,00.

Nós olharíamos uma situação dessas com profundo desprezo pela ganância, pela maldade, pela insensibilidade daquele homem. É dessa forma que Deus vai olhar para mim e para você quando nós deixamos de perdoar as pessoas que nos ofendem.

Mas e o meu orgulho, e a minha dignidade, a minha honra?

E a dignidade, a honra e a glória de Deus, é menor ou maior que a nossa?

Não há como dizer quão infinitamente superior é a honra do nome do Senhor! Mas mesmo assim ele é capaz de perdoar as nossas ofensas contra ele, por isso Jesus morreu por nós naquela cruz do calvário.

Quem sou eu para negar o perdão a outra pessoa, quando Deus não negou o seu perdão a mim?

Nesta noite eu não sei se há alguém aqui que guarda mágoa, rancor, ou tristeza no coração, por uma ofensa que sofreu.

Eu não estou dizendo que você não foi ofendido; eu não estou dizendo que você não tenha sofrido com isso, e eu não estou dizendo que o seu ofensor não esteja errado. Mas o que Jesus nos diz, e eu preciso repetir isso, é que você deve perdoar essa pessoa, porque em primeiro lugar você foi perdoado por uma dívida infinitamente maior que a ofensa que você mesmo sofreu.

Deus me perdoou, eu não tenho o direito de não perdoar outra pessoa, seja qual for a ofensa que eu sofri.

E Deus me manda fazer isso para o meu próprio bem.

Esta é a terceira e última observação desta noite.

3) O PERDÃO NOS LIBERTA (v. 33-35).

“33. Tu também não devias ter compaixão do teu companheiro, assim como tive de ti?
34. E, irado, entregou-o aos carrascos, até que ele pagasse tudo o que lhe devia.
35. Assim também vos fará meu Pai celestial, se cada um de vós não perdoar de coração ao seu irmão.” (Mt 18.33-35).

Na parábola contada por Jesus o rei entregou o servo sem compaixão para ser torturado pelos carrascos, até que pagasse a dívida.

Uma coisa a ser esclarecida é que Jesus não está falando que perdemos a salvação se não perdoarmos as pessoas. O ensino aqui não é sobre salvação, mas sobre perdão.

Mas Jesus disse que aquele que não perdoa é também entregue aos “carrascos” pelo Pai Celestial.

De que “carrascos” Jesus estava falando? O que é que pode nos “torturar” enquanto não perdoamos aquele que nos ofendeu?

É simples. Como você se sente quando lembra de uma ofensa que ainda não perdoou?

Você fica feliz? “-nossa, aquele mulher falou mal de mim no trabalho, inventou um monte de mentiras para minha supervisora, que alegria, estou felicíssimo com isso!

Você sente paz? “-aquele sujeito me chamou de fracassado, eu estou sentido uma paz invadir meu coração por isso!

Ninguém que não tenha perdoado seu ofensor vai sentir paz ou contentamento. O sentimento de quem não perdoou sempre vai ser de mágoa, rancor, raiva, tristeza, dor.

Vocês acham que existe um carrasco pior que esse? Toda vez que se lembrar da ofensa, voltar a sentir os mesmos sentimentos do momento em que ela aconteceu, toda a dor, frustração, raiva.

Eu acho que não.

Por isso somente quem perdoa é livre. Aquele que não perdoa é como se estivesse algemado àquela situação, como alguém algemado a um cadáver.

Para onde vai o defunto está ali: malcheiroso, desagradável, incômodo, pesado, prendendo você, e arrastando aquela situação pela vida afora.

É como uma ferida que não cicatriza, que volta a doer toda vez que você mexe nela.

Por isso Jesus mandou aos seus discípulos que perdoassem todas as vezes que fossem ofendidos.

Jesus não deseja que nós fiquemos presos a uma situação que só vai nos fazer mal, enquanto estivermos nesta vida, tirando a alegria da nossa salvação, do perdão que nós recebemos pela dívida que tínhamos com Deus antes de Ele nos perdoar, quando entregamos nossas vidas a Jesus.

Ninguém vai tirar a alegria da salvação que Deus me deu enquanto eu perdoar os meus ofensores.

Jesus ensinou isso para que tivéssemos vida e vida em abundância, como diz o texto de João 10.10.

Há um exemplo de pessoas que escolheram o caminho do perdão e não da vingança na África do Sul.

No período de 1910 a 1994 a minoria branca governou aquele pais oprimindo a maioria composta por negros.

Os mais jovens talvez não conheçam a expressão “apartheid” (apartáid), que significa “separação”.

Imagine uma país onde uma pessoa não pode comprar terras, votar, frequentar determinados locais públicos, nem receber o mesmo tipo de serviço público que o resto da população, nem mesmo se casar com uma pessoa branca, só porque é negro.

Ver seus filhos sofrendo, sem escolas, saúde; sem oportunidades, só porque são negros.

Para um homem negro que estuprasse uma branca a pena era a morte. Para um branco que estuprasse uma negra a pena máxima era uma multa, isso quando ocorria.

Isso certamente suscitaria muita raiva, muito rancor. Como perdoar os policiais que mataram uma esposa, ou um marido, ou um filho em um regime tão perverso como esse?

Como seria possível perdoar alguém que tivesse tirado a vida daqueles que amamos?

Mas foi esse tipo de perdão que a África do Sul experimentou depois de 1994, quando Nelson Mandela foi eleito presidente pelo voto livre.

Após ser eleito presidente da África do Sul e depois de 27 anos de prisão, convidou seu carcereiro a juntar-se a ele no palanque da posse. Então convidou o arcebispo Desmond Tutu para chefiar uma equipe do governo chamada: Comissão da Verdade e Reconciliação – CVR.
Durante os dois anos e meio seguintes, os sul-africanos ouviram relatos de atrocidades chegando às audiências da Comissão da Verdade e Reconciliação. As Regras eram simples: Se um policial, ou oficial do exército, branco, enfrentasse voluntariamente seus acusadores, confessasse seu crime e reconhecesse totalmente a culpa, poderia não ser julgado e punido por aquele crime. Partidários de procedimentos mais duros reclamaram da evidente injustiça de deixar criminosos sair livres, mas Mandela insistiu que o país precisava muito mais de restauração que de justiça.

Em uma audiência, um policial chamado Van de Broek relatou um incidente no qual ele e outros policiais fuzilaram um garoto de 18 anos de idade e incendiaram o corpo, virando-o sobre o fogo como um pedaço de churrasco a fim de destruir qualquer evidência. Oito anos mais tarde, Van de Broek, voltou à mesma casa e capturou o pai do rapaz. A esposa foi forçada a assistir a tudo, enquanto policiais amarravam seu marido a uma pilha de madeira, jogavam gasolina em seu corpo e ateavam fogo.

A sala do tribunal ficou em absoluto silêncio quando a mulher, já idosa, que perdera o primeiro filho e depois o marido, teve a oportunidade de responder.

O juiz perguntou: “O que a senhora deseja do sr. Van de Broek?”. Ela disse que queria que Van de Broek fosse ao lugar onde tinha queimado o marido dela e reunisse suas cinzas, de modo que ela pudesse lhe dar um funeral decente. Cabisbaixo, o policial balançou a cabeça concordando.

Ela então fez um pedido adicional: “O sr. Van de Broek tirou minha família inteira, mas ainda tenho muito amor para dar. Duas vezes por mês, gostaria que ele viesse ao gueto e passasse um dia comigo, a fim de que eu possa ser uma mãe para ele. E gostaria que o sr. Van de Broek soubesse que foi perdoado por Deus, e que também lhe perdoo. Eu gostaria de abraça-lo para que ele soubesse que meu perdão é verdadeiro”. 

Naquele instante algumas pessoas na sala do tribunal começaram a cantar “Amazing grace” (Maravilhosa Graça), enquanto aquela senhora se dirigia até o local das testemunhas, mas Van de Broek não conseguiu ouvir o hino. Havia desmaiado, pasmo com o que acontecera.

Aquela mulher ficou livre quando perdoou aquele homem que lhe tinha causado tanta dor e sofrimento.

O apóstolo Paulo, ao escrever a Carta aos Romanos disse (Rm 12.21): “21. Não te deixes vencer pelo mal, mas vença o mal com o bem.

CONCLUSÃO:

Nesta noite talvez o seu coração guarde mágoa, tristeza, talvez até ódio de alguém que tenha te ferido.

E se você ainda pensa na situação e tem esses sentimentos (tristeza, mágoa), se ainda dói quando você pensa, é preciso que você perdoe essa pessoa, para que você se liberte desses “carrascos” que te torturam, e possa experimentar a paz e a alegria que Jesus pode dar.

Isso é vencer o mau com o bem!

Quando perdoamos nós mesmos somos libertos. É difícil perdoar, é, mas é possível, pela fé. Por isso os apóstolos pediram a Jesus “aumenta a nossa fé” (Lucas 17.5).

Eu quero orar neste momento para que Deus nos ajude a perdoar, com o mesmo perdão que recebemos do Senhor, pela graça que recebemos.

Linhares, 13 de janeiro de 2016.

Pr. Marcos José Milagre

PIB Linhares

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