“A CEIA DO SENHOR”
(1 Coríntios 11.23-25)
Sermão
preparado para pregação na PIB Linhares, em 28/07/14, domingo, manhã.
Bom dia.
Por gentileza, abra sua Bíblia na Primeira
Carta de Paulo aos Coríntios, no capítulo 11, a partir do verso 23, eu vou ler
até o verso 25:
“23.
Pois recebi do Senhor o que também
vos entreguei: o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão
24.
e, depois de ter dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo que é dado
por vós. Fazei isto em memória de mim.
25.
Do mesmo modo, depois de comer, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é a nova
aliança no meu sangue. Fazei isto todas as vezes que o beberdes, em memória de
mim.
26.
Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice proclamais a morte do Senhor,
até que ele venha.” (1 Coríntios 11.23-26).
Este é o texto em que o Apóstolo Paulo
disciplina a Ceia do Senhor para a Igreja de Corinto.
Mas como vamos celebrar hoje a ceia do Senhor
eu gostaria que nós refletíssemos nesta manhã um pouco sobre três aspectos da
ceia do Senhor. Porque como nós celebramos a ceia como um memorial até que
Jesus volte, como diz o verso 26, é muito importante que nós tenhamos
conhecimento sobre a origem da ceia, a
sua natureza, o seu simbolismo, e a sua finalidade.
Em um primeiro momento eu quero falar sobre a
origem da Ceia do Senhor que vai nos ajudar a compreender o porquê de Jesus ter
instituído esse memorial.
1) A ORIGEM DA CEIA DO SENHOR (v. 23).
“23.
Pois recebi do Senhor o que também
vos entreguei: o Senhor Jesus,
na noite em que foi traído, tomou o pão” (1 Cor 11.23)
O Apóstolo Paulo nos mostra claramente a
origem da ceia quando diz que “a recebeu do Senhor e a entregou aos Coríntios”.
Foi o próprio Jesus quem determinou que a
ceia fosse celebrada como um memorial, até que ele voltasse.
Por isso eu quero mostrar a você como foi
essa ordem de Jesus que Paulo recebeu e que chegaria até nós, sendo transmitida
a quase dois mil anos.
Deixe sua Bíblia marcada no texto de
Coríntios 11 e vá até ao Evangelho segundo Lucas, no capítulo 22, a partir do
verso 7
Este foi o momento em que foi instituído esse
memorial que nós chamamos de “Ceia do Senhor”, e que para alguns Teólogos é a
Certidão de Nascimento da Igreja, quando ela se desliga do Judaísmo e começa a
trilhar seu próprio caminho.
Nesse dia Jesus disse que nós tínhamos uma
NOVA ALIANÇA no sangue dele. A aliança não era mais a que foi firmada com Moisés,
nem com Davi, mas com Jesus, o Cristo e escrita com o seu próprio sangue vertido
na cruz do Calvário.
Mas uma coisa importante para nós
compreendermos a “Ceia do Senhor” é a informação preciosa do porquê Jesus se
reuniu com seus discípulos para esse jantar, na verdade um jantar de despedida,
porque logo em seguida Jesus seria preso, julgado, condenado e executado, e não
teria mais a companhia dos discípulos.
No verso 8 Jesus fala com todas as letras o
motivo do jantar: “preparai-nos a refeição da Páscoa, para que a comamos”.
Então a Ceia do Senhor, instituída por Jesus,
tem o que nós podemos chamar de suas “raízes”,
na páscoa Judaica (esse é um bom lembrete de que a Páscoa não é uma festa
Cristã, mas Judaica, nós celebramos a Ceia do Senhor).
Os Judeus chamam a “Páscoa” de Pêssach,
que é uma palavra derivada da raiz hebraica passôach, que significa
literalmente “passar por cima”.
Você deve se recordar que a Páscoa foi
instituída por ocasião da libertação do povo judeu do cativeiro egípcio, quando
Deus chama Moisés para liderar o povo à terra prometida (a mesma terra onde nós
temos ouvido falar do conflito entre o Estado de Israel e o Grupo Terrorista
Hamas).
No capítulo 12 do livro do Êxodo você vai
encontrar a instituição do Pêssach (a
Páscoa), o povo judeu era escravo no Egito e Deus ouviu o seu clamor e decidiu
libertá-los da escravidão, por isso a Páscoa celebra a liberdade, por isso um
outro nome para essa festa é Chág Zemán Kerutênu (a época da
nossa libertação).
Êxodo 12 mostra que Deus determinou ao povo
judeu que matasse um cordeiro sem defeito algum, e o sangue deste cordeiro
fosse aspergido nos batentes das casas em que a refeição fosse tomada.
Essa refeição seria a carne do cordeiro,
assada no fogo, acompanhada de pães sem fermento (e não deveria haver nem uma
migalha de pão com fermento na casa), além disso a refeição teria ainda “ervas
amargas”.
A casa que não tivesse a marca do sangue do
cordeiro o anjo da morte passaria e todos os primogênitos daquela casa seriam
mortos.
No verso 14 do capítulo 12 de Êxodo, Deus diz
assim:
14. E este dia será um memorial. Vós
o celebrareis como uma festa ao Senhor e como estatuto perpétuo através de todas as vossas gerações.
Como essa festa foi, e ainda hoje é
um dos principais mandamentos do judaísmo (o que eles chamam de mitzvá
= mandamento), quando Jesus escolheu Pedro e João (você viu isso no verso 8 de
Lucas 22) para preparem a Páscoa para que eles comessem, eles com certeza
seguiram as orientações do judaísmo para isso.
Por isso eu quero mostrar para você; tendo
como fundamento a forma como os judeus celebram a Páscoa hoje; como foi a
refeição que Jesus teve com seus doze Apóstolos.
A Páscoa judaica segue uma ordem de serviço
chamada “Sêder” (que literalmente significa “ordem”).
E algumas coisas não podem faltar em uma
Páscoa Judaica:
a) Vinho;
b) Matsá (que é o pão sem fermento,
deve ter ao menos três desses pães, para relembrar Abrahão, Isaac e Jacob, os
patriarcas – como é exigido o mínimo de três pães o conjunto é chamado de matsót,
plural de matsá);
c) Carpás: um vegetal verde, que pode
ser por exemplo a salsa, para simbolizar a primavera e o renascimento (a Páscoa
também é chamada de “a festa da primavera”;
d) Charósset: uma mistura de maçãs
cortadas, nozes, vinho e temperos, para simbolizar a argamassa que os escravos
preparavam para fazer os tijolos no Egito;
e) Marór: ervas amargas, símbolo da
amargura da escravidão;
f) Betsá: um ovo bem cozido, símbolo de
um sacrifício festivo que era feito à época do templo;
g) Zerôa: um osso chamuscado,
normalmente da perna do animal, símbolo do cordeiro pascal;
h) Água
salgada: símbolo das lágrimas dos antepassados, cujo clamor foi atendido
por Deus;
i) Copo
de Elias: pois os judeus creem que o profeta Elias irá aparecer no Pêssach
para anunciar a redenção final e a chegada do messias;
j) A Hagadá: O livro que conta a história
da tragédia da escravidão, para refletir sobre a beleza da santidade e a
gratidão a Deus pelas bênçãos que ele concedeu.
De tudo isso que estava presente na Páscoa
judaica, Jesus manteve dois elementos simbólicos: O pão e o vinho. Só isso.
Nossos antepassados não foram escravos no
Egito, ao menos eu acredito que não tenhamos nenhum descendente de judeu aqui;
e como eu disse, nossa aliança não é aquela firmada com Abraão, Moisés ou Davi,
mas firmada diretamente com o Deus filho, Jesus Cristo, que morreu em nosso
lugar.
A ceia do Senhor manteve os elementos
simbólicos daquilo que era mais importante na Páscoa: a libertação e o preço
que foi pago pela liberdade.
Um cordeiro foi morto. E o apóstolo João
escreveu no Apocalipse, capítulo 13, verso 8, que o cordeiro foi morto desde a
fundação do mundo.
A morte do cordeiro Jesus, que o outro João,
o Batista chamou de “o cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo” (João 1.29) foi simbolizada pelo pão (sua carne) e pelo
vinho (seu sangue).
Mas Pastor, porque falar tanto da Páscoa
Judaica se nós não a celebramos, se no nosso negócio é a Ceia do Senhor?
Há duas coisas preciosas da Páscoa Judaica
além do simbolismo do pão e do vinho (nós vamos tratar melhor do simbolismo
daqui a pouco) que nós precisamos sempre resgatar: a primeira delas é a
reverência pela Ceia do Senhor (um judeu tem a Páscoa como um dos eventos
mais marcantes na sua vida), muitas pessoas não tem o menor interesse pela
Ceia, ou hoje nós teríamos quase todos os membros da igreja aqui; a segunda é a compreensão do que a
ceia significa, que a morte de Jesus (o cordeiro de Deus) para que eu e você possamos
ser livres da escravidão do pecado, este é o maior evento das nossas vidas,
o dia em que nós nos arrependemos dos nossos pecados e cremos em Jesus, e hoje
temos convicção de que quando findar esta vida estaremos com juntos de Deus.
Por isto, neste momento em que nós estamos
nos preparando para cumprir mais uma vez a ordem de Jesus tenha isso na sua
mente: Você não está simplesmente comendo um pedacinho de pão e um cálice de
suco de uva que os irmãos Diáconos vão lhe entregar, nós estamos aqui hoje,
reunidos como igreja para relembrar que um dia fomos escravos, mas Jesus morreu
no nosso lugar, por isso compreendamos a importância do que estamos prestes a
fazer.
Com a Ceia do Senhor nós deixamos para trás a
Páscoa, e por isso precisamos nos voltar totalmente para a natureza da ceia do
Senhor e o seu simbolismo.
2) A natureza da Ceia do Senhor e seu simbolismo (vv. 23-b a 26).
Quando eu falo em natureza eu quero que nós
pensemos o que é a ceia do
Senhor e quando pensamos em simbolismo, o que está envolvido, é o que significa
partir o pão e comer, e beber o suco das uvas.
Paulo ensinou à igreja em Corinto o que
aprendeu de Jesus, que deveríamos partir o pão juntos e beber do cálice, e isso
deve ser feito em memória dele (versos
24 e 25).
Por isso nós batistas cremos que a Ceia do
Senhor é um memorial, algo para nos recordarmos de forma muito especial do que
Cristo fez em nosso favor.
Uma determinada igreja crê que o pão e o
vinho (e eles usam vinho mesmo) se tornam o corpo e o sangue de Cristo após a
benção do sacerdote, é a chamada “transubstanciação”.
Jesus em momento algum ensinou isso. Ele só
disse: Fazei isso em memória de mim. Digam as palavras que eu estou dizendo,
repartam o pão, lembrem-se o meu sangue vertido na cruz do calvário. Por isso a
ceia é com toda certeza um memorial, a ser observado de forma consciente e com
a devida reverência.
O simbolismo do pão foi mudado da Páscoa para
a ceia. Lá o pão era sem fermento, simbolizando a rapidez com que Deus iria
libertar o povo de Israel do cativeiro.
Com Jesus o pão passa a simbolizar o seu
próprio corpo, que foi chicoteado, esbofeteado, e perfurado.
Como escrito pelo profeta Isaías (53.5) “ele
foi ferido por causa das nossas transgressões e esmagado por causa das nossas
maldades”.
Você não faz pão sem que antes o grão de
trigo tenha sido triturado e esmagado.
Por isso quando você receber este pequenino
pedaço de pão, lembre-se que assim como os grãos de trigo foram feridos e
esmagados para que o pão chegasse às suas mãos, Jesus foi ferido por causa da
minha e da sua transgressão e esmagado por causa das nossas maldades.
O vinho, deixou de significar alegria na “Páscoa
Judaica”, para simbolizar o próprio sangue de Jesus na “Ceia do Senhor”, que
foi vertido quando ele foi chicoteado, esbofeteado e quando foi crucificado.
O
sangue na concepção judaica tem um significado importantíssimo: ele significa a
própria vida.
Por isso, com fundamento no texto de Gênesis 9.4
“Mas
não comereis a carne com sua vida, isto é, com seu sangue”
até hoje os judeus não consomem nada que tenha sangue. Até a carne dos animais
que eles consideram próprios para consumo (ou
no hebraico, a comida casher -
talvez você tenha ouvido a palavra cosher, que tem o mesmo significado,
só que cosher é yiddish[1]).
Muito embora a maioria dos Cristãos não
observem a dieta cosher (como por exemplo fazem uma denominação sabatista, e eu
ressalto que nós não fazemos isso com fundamento no texto de 1 Tm 4.1-5, Rm
14.1, entre tantos outros textos), mas é importante pensarmos que o simbolismo
de que os judeus criam e creem, que o
sangue simboliza a própria vida de uma pessoa (lembre-se que Jesus foi criado
segundo a cultura judaica), quando Jesus diz que você vai beber o sangue
dele, simbolizado pelo suco da uva, Ele
está dizendo que eu e você vamos receber a própria vida dele.
Você não obtém suco de uva se ela não tiver o
seu invólucro (a casca) rompido, e isso era feito na época de Jesus pisando nos
cachos de uva.
Jesus se submeteu a ser pisado e morto, para
que eu e você pudéssemos receber a sua vida, vida que é simbolizada pelo sangue, que por sua vez, Jesus
disse que seria simbolizado pelo suco de uva que você vai receber daqui a pouco.
Este é o simbolismo da ceia do Senhor.
A morte eterna, longe de Deus, estava
reservada para cada um de nós, em razão do pecado. Paulo diz isso no texto de
Romanos 6.23-a: “O salário do pecado é a morte”.
Por isso Jesus morreu por mim e por você e
por isso nós recebemos vida e não morte, vida eterna junto de Deus.
Foi Jesus quem nos deu essa nova vida. Por
isso estamos reunidos aqui hoje para nos lembrarmos de tudo isso.
Para nos lembrarmos dessa aliança com Deus,
que foi selada com o sangue do próprio “Cordeiro de Deus” (Jesus Cristo), que
tirou os nossos pecados.
Mas a ceia do Senhor tem ainda uma
finalidade, algo muito especial que é...
3) Proclamar a morte de Jesus até a sua volta (v. 26).
26.
Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice proclamais a morte do Senhor,
até que ele venha.” (1 Coríntios 11.26).
Quando nós nos reunimos para celebrar a ceia
do Senhor outra coisa espetacular acontece: Nós proclamamos (anunciamos) a
morte de Jesus.
Não só que ele morreu, mas que morreu por
nós, e ainda podemos dizer que ele ressuscitou e venceu a morte, por isso o
sangue simboliza vida, e não só morte.
Isso é, ou não é, o que podemos chamar de
“EVANGELISMO”?
Com certeza podemos!!!
Por isso querido visitante que porventura
esteja conosco nesta manhã, quando você observar os irmãos receberem os
elementos da ceia, o pão e o suco de uva, nós queremos dizer a você: JESUS MORREU PELOS NOSSOS PECADOS, E MORREU
PELOS SEUS PECADOS TAMBÉM!!!
E ele venceu a própria morte e ressuscitou, e
você também pode vencer a morte se você se arrepender dos seus pecados e
entregar sua vida a ele, que é o próprio Autor da vida.
Por isso nós não podemos permitir que alguém
que não seja Cristão participe da Ceia do Senhor, porque somente aqueles que um
dia se arrependeram de seus pecados e entregaram suas vidas a Jesus podem
proclamar o que Jesus fez em suas vidas.
Da mesma forma, nós só podemos permitir que crentes, membros de uma igreja batista da mesma fé e ordem (ou seja,
igrejas arroladas na Convenção Batista do Estado do Espírito Santo e Convenção
Batista Brasileira), que estejam em plena
comunhão com suas igrejas (por isso a necessidade de autoexame)
participem da Ceia do Senhor aqui na Primeira Igreja Batista de Linhares, é o
que chamamos de “Ceia Restrita”.
Por que isso. Nós assim fazemos segundo o
entendimento Bíblico de que a Ceia do Senhor é um momento de íntima comunhão
daqueles que tenham um mesmo entendimento sobre as verdades Bíblicas.
Se nós pensarmos na Páscoa Judaica, ela foi
celebrada a primeira vez lá no Egito em família, dentro das casas. Era um
momento íntimo.
Jesus ao Celebrar a Ceia do Senhor convidou
somente seus apóstolos. Ele tinha muitos discípulos, mas somente os que tinham
o maior grau de intimidade e compartilhavam os seus ensinos (os doze) foram
convidados para a ceia.
Por isso se você não é membro de uma Igreja Batista da mesma fé e ordem ou não esteja em comunhão com a sua
igreja não se sinta constrangido em não participar da Ceia do Senhor, mas use
este momento para refletir sobre o sacrifício de Jesus por você e faça uma
reflexão introspectiva de como você tem respondido ao sacrifício de Jesus. Qual
tem sido o seu relacionamento com Jesus? Qual tem sido o seu compromisso com
Jesus?
Por
isso o nosso convite é que você receba Jesus como Senhor e Salvador da sua vida
e se desejar, seja membro desta igreja por meio do batismo, para que juntos
possamos então Proclamar a Morte de Jesus em nosso favor em todos os momentos
de ceia, até que ele volte para nos levar para junto de Deus.
Enquanto estivermos cantando esta música os
irmãos diáconos estarão distribuindo o primeiro elemento da ceia. Todos que vão
receber este primeiro alimento, por gentileza se coloquem de pé.
O
Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e deu graças , oremos neste momento.
“Depois
de ter dado graças o partiu e disse: Este é o meu corpo que é dado por vós.
Fazei isto em memória de mim.” Em memória de Jesus, comamos todos deste
pão.
Do
mesmo modo, depois de comer, tomou o cálice dizendo. Este cálice é a nova
aliança no meu sangue. Vamos orar.
“Este
cálice é a nova aliança no meu sangue. Fazei isso todas as vezes que o
beberdes, em memória de mim.” Em memória de Jesus, bebamos do cálice.
Vamos orar neste momento.
Linhares, 28 de julho de 2014.
Pr.
Marcos José Milagre
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