“FIRMES NA FÉ”
(Judas 17-23)
Sermão preparado para a PIB Linhares, em
12/08/15, quinta-feira, noite.
Boa noite irmãos.
Nesta noite nós vamos meditar na carta de
Judas. É um texto que não é muito empregado em mensagens nem muito conhecido do
nosso povo.
Por isso eu gostaria de fazer uma introdução
um pouco mais longa sobre a carta e seu autor, para depois refletir nos
versículos que serão objeto da nossa meditação.
A primeira coisa a saber é quem é o Judas,
que é autor da carta. O próprio texto só nos informa que ele é “servo de Jesus
Cristo e irmão de Tiago”.
Em primeiro lugar eu preciso dizer que o Judas
autor desta carta não é o Iscariotes. Aliás a má fama de traidor do Judas
Iscariotes faz com que nós não vejamos muitos judas hoje em dia.
Mas nos dias de Jesus o nome Judas era muito
comum. Judas na verdade é a forma grega do nome hebraico Judá (um dos filhos do
patriarca Jacó) que veio a ser a tribo mais importante das doze, e que
constituiu basicamente o reino do Sul quando Israel se dividiu após a morte de
Salomão.
Os nomes Judas e Judá tem o mesmo
significado: “Louvor” ou “adoração”. Por isso o nome “judeu” significa “aquele
que louva” ou “aquele que adora”
Quem então é o nosso Judas, autor desta
belíssima carta?
Ele se identifica como irmão de Tiago, por
isso desde o segundo século depois de Cristo (desde cento e pouco) Judas é
identificado pela igreja como
irmão de Tiago, e filhos de José e Maria,
meio irmãos de Jesus em sua humanidade (Mc 6.3).
No evangelho segundo Marcos, capítulo 6,
verso 3 está escrito assim:
“3.
Este não é o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E suas irmãs
não estão aqui entre nós? E escandalizavam-se por causa dele.” (Mc 6.3).
É interessante a ética de Judas e Tiago ao
escreverem suas cartas. Nenhum dos dois usou o fato de serem meio irmãos de
Jesus em sua humanidade para ganharem destaque ou influencia na igreja. Judas
só se apresenta como irmão de Tiago para que a igreja soubesse quem estava
escrevendo a carta. Judas se apresenta como “servo” de Jesus (é o grego doulós,
que significa escravo – voluntariamente ou involuntariamente – é desse termo
que vem o nome do nosso grupo musical doulói) Desde à saudação Judas
ensina uma grande lição de humildade em sua carta.
E essa carta, apesar de possuir apenas 25
versículos, uma das menores do Novo Testamento, possui um conteúdo riquíssimo e
extremamente relevante para nossos dias.
A carta de Judas é o que chamamos de apologética.
Apologética é a defesa da fé. Nós
precisamos conhecer aquilo que cremos para sabermos o que está errado (biblicamente
falando), e, ao sermos confrontados por tantas denominações e seitas que
existem e aparecem todos os dias, termos
coragem de dizer, também com fundamento bíblico, no que cremos e no que não
cremos.
Judas escreveu à igreja que estava sendo
assediada pela doutrina chamada gnosticismo. Os gnósticos negavam por exemplo,
a humanidade de Jesus, porque criam que a matéria era ruim, então tinha que maltratar
o corpo ou com o ascetismo (fome, a sede) ou com todo tipo de imoralidades,
bebedeiras, glutonaria. Eles criam que o que o corpo fazia não atingia o
espírito.
Eles também negavam a possibilidade da
salvação para todos os homens, pois apenas um seleto grupo dos iluminados pelo
conhecimento poderiam ser salvos (conhecimento este que apenas eles, os
gnósticos, possuíam).
Judas diz no verso 4 que esses gnósticos se
“infiltraram” na igreja. A palavra “infiltraram” aqui é o grego pareisduno,
com o sentido de escorregar de mansinho por uma porta lateral para dentro da
sala. É a ideia de entrar de fininho em algum lugar.
Isso chama nossa atenção e nos serve de
alerta, porque as falsas doutrinas nem sempre vão ser jogadas no nosso rosto,
normalmente os maiores erros que contrariam a Palavra de Deus vão entrando de
fininho na nossa mente e na igreja pela fala mansa de algumas pessoas
(principalmente de outras denominações e seitas) e podem causar um estrago
enorme na vida das pessoas e da igreja.
Quantos casamentos, famílias, filhos, são
destruídos porque o erro foi entrando “de fininho” e não foi percebido.
Por isso precisamos prestar muita atenção no
que Judas nos diz nesta carta.
Então
eu peço aos irmãos que abram suas Bíblias na Carta de Judas, a partir do verso 17.
Nós vamos fazer a leitura até o verso 23:
“17.
(...).” (Judas 17-23).
Firmes na Fé. Vamos orar mais uma vez.
O primeiro ensino de Judas que eu gostaria de
destacar é...
1) LEMBRAI-VOS DO QUE FOI ENSINADO (v. 17).
“17.
Mas vós, amados, lembrai-vos do
que foi previsto pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo.” (Jd 17).
Judas aponta os erros praticados pelos
gnósticos e apela não para a sua palavra ou para a sua autoridade pastoral, ele
pede que os irmãos se lembre do que os
apóstolos ensinaram.
A igreja sempre vai ser alvo de ataques
doutrinários que vão buscar minar a nossa compreensão bíblica daquilo que Deus
quer nos revelar.
Sempre vão surgir modas novas, ideias
diferentes, e o que é novo e diferente pode acabar atraindo os nossos olhos.
Por isso o ensino de Judas chama nossa
atenção para aquilo que já recebemos, a Bíblia.
Nosso compromisso
com Deus, o nosso relacionamento
com Deus, só vai estar alinhado com a vontade de Deus se nós
conhecermos qual é a vontade de Deus,
e isso só acontece se nós conseguirmos nos lembrar daquilo que aprendemos na
palavra.
Tudo
passa pelo conhecimento e prática da palavra!
Um texto que foi postado em no facebook acho
que até pelo nosso pastor, convidando os irmãos para se matricularem na EBD,
trazia um versículo do Livro do Profeta Oséias onde Deus é muito enfático sobre
a necessidade de nós conhecermos a sua palavra.
Oséias 4.6 diz assim:
“6.
O meu povo está sendo destruído
porque lhe falta conhecimento.
Porque rejeitaste o conhecimento, eu te rejeitarei, para que não sejas
sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste
da lei do teu Deus, eu me esquecerei de teus filhos.” (Os 4.6).
Gente isso é muito sério.
Porque não existe erro bíblico banal, ou
insignificante. Tudo que é espiritual é
relevante para nossas vidas.
Como nós vamos conseguir identificar o erro
se nós não conhecermos a verdade?! Nós vamos comparar “o que” com “o que”?
Por isso Jesus orou ao Pai pelos seus
discípulos (João 17.17): “Santifica-os na verdade, a tua palavra é
a verdade”.
Vamos nos santificar na verdade que a palavra
de Deus irmãos. Conheçamos a palavra!
Esta igreja oferece inúmeras oportunidades
para que você conheça a Bíblia: Mensagens nos cultos (para isso você precisa
estar nos momentos de culto, temos até uma manhã teológica por mês na igreja –
estamos estudando Escatologia). Temos a Escola Bíblica Dominical com literatura
diversificada. Grupos familiares de casais, Ministério de Adolescentes e Jovens
(que possuem estudos específicos para os dilemas que essa idade apresenta);
agora o recente Ministério Rara Idade, para os mais experientes, com estudos
para os desafios que a maturidade traz).
Isso
sem falar no seu próprio tempo de estudo Bíblico em casa, que deve ser diário.
Tudo isto está acessível a você, mas cada um precisa
buscar.
E pode ter certeza, quando você precisar Deus
vai trazer esse conhecimento à sua memória, seja para conforto em momentos difíceis,
seja para segurança ou para proteção da sua vida.
Porque a Palavra de Deus é o único lugar
confiável para nós encontrarmos o caminho correto para seguirmos.
Em segundo lugar, Judas nos ensina a...
2) EDIFICARMOS NOSSA VIDA SOBRE A NOSSA FÉ (v. 20-21).
“20.
Mas vós, amados, edificando-vos sobre
a vossa fé santíssima, orando
no Espírito Santo,
21. conservai-vos no amor de Deus,
esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna.” (Jd
20-21).
Judas faz três afirmações nestes dois
versículos:
a)
edifiquem a vida de vocês (sobre a fé de vocês);
b)
orem no Espírito Santo;
c)
Se conservem no amor de Deus.
E eu quero dar uma olhada nestas três
afirmações com os irmãos.
A primeira trata da edificação da vida.
Edificar é construir, e levantar, erguer.
Eu acho que ninguém quer que a vida vá para
baixo, no sentido de perder, ou de derrubar o que está construído.
Não creio que alguém aqui esteja construindo
a vida, a profissão, o casamento, a família ou os relacionamentos para que isso
seja destruído.
Como aquela brincadeira com peças de dominó,
que o sujeito levanta, organiza, para derrubar e uma peça ir derrubando a
outra.
Ninguém faz isso com a vida, ao menos não conscientemente.
Mas podemos fazer isso com a vida de forma
inconsciente, quando não edificamos de forma correta.
Me lembra a parábola das casas contadas por
Jesus. Um construiu sobre a rocha, cavou fundo, colocou alicerces, veio a
chuva, o temporal e a casa permaneceu. Outro construiu sobre a areia, e no
mesmo temporal a casa caiu.
Jesus é sempre apontado como essa rocha
segura sobre a qual devemos construir. Nossa vida pode muito bem ser comparada
a essa casa edificada sobre a rocha, mas a pergunta que Judas faria e eu faço
aos irmãos nesta noite é: Qual é o
alicerce que liga a casa (eu e você) à rocha (que é Jesus)?
Judas
diz que deve ser a nossa fé!
E
ele está certo porque: “Sem fé é impossível agradar a.... DEUS!” (Hebreus
11.6).
Abraão, citado em Hebreus 11, é exemplo de
uma pessoa que construiu sua vida sobre a sua fé. Tinha uma vida estável em um
lugar, mas preferiu levar uma vida errante pela fé na promessa de Deus.
Quantos crentes constroem suas vidas sobre
coisas materiais, que podem contar (como o dinheiro), ou medir (como uma casa
ou um terreno), quando na verdade nossa vida deve estar alicerçada sobre “aquilo
que nós esperamos, mesmo que ainda não tenhamos”; e alicerçada sobre “aquilo
que nossos olhos físicos não enxergam”.
Porque esse é o conceito Bíblico de Fé
(Hebreus 11.1): “A fé é a garantia do que se espera e a prova do que não se vê”.
E é sobre essa fé que devemos edificar, ou
construir, nossa vida. Pelos olhos da fé, pela esperança e a certeza que a fé
traz.
Mas Judas ainda orienta a igreja a orar no
Espírito Santo e a se conservar no amor de Deus.
A palavra “orando” no verso 20 é o grego “proseuokómenoi”
que traz o sentido de “orar e adorar”.
A oração de alguém que edifica sua vida sobre a fé não pode ser um ato
mecânico.
Não é oração pré-fabricada, pré-moldada,
decorada, é oração como um ato de
culto a Deus.
Nós precisamos nos recordar a cada dia, que
oração é abrir o coração para Deus. Por
isso oração não requer palavras bonitas, ou difíceis, mas requer sinceridade. O
que está no coração deve ser dito a Deus.
Para que nós não venhamos a edificar a vida
sem fé, sem oração como ato de culto. Porque o resultado disso é que muitos
crentes se afastam do amor de Deus.
Como
é que uma pessoa se afasta do amor de Deus?
Quando não aceita o cuidado, o direcionamento
ou a correção de Deus.
Por isso é que Judas diz: “conservai-vos
no amor de Deus”.
Muitos crentes se afastam da igreja, esfriam
espiritualmente, alguns até se sentem abandonados pela igreja ou por Deus.
Deus nunca abandona ninguém! Mas para
sentirmos seu amor precisamos desejar permanecer neste amor. Se eu me sentar em
um canto qualquer e dizer a mim mesmo, ninguém me ama, ninguém se importa
comigo ou com o meu sofrimento.
Aos
nossos próprios ouvidos, a nossa palavra vai parecer que é verdade, quando não
é!
Um amor que leva Deus à cruz não se afasta nunca
de uma pessoa. Por isso, permaneça no amor de Deus, sinta-se amado por Deus; ou
permita-se sentir o amor de Deus, porque o amor de Deus por você não pode ser
medido de tão grande que é, mas se enxerga pela fé.
E, por fim, Judas nos ensina a ter...
3) COMPAIXÃO E MISERICÓRDIA PARA OS QUE ESTÃO EM DÚVIDA (v.
22-23).
“22.
E mostrai compaixão para com alguns que
estão em dúvida,
23. e salvai-os, arrebatando-os do fogo;
e a outros, demonstrai misericórdia com temor, tendo repugnância até da roupa
manchada pela carne.” (Jd 22-23).
Judas agora fala aos que foram atingidos pelo
erro (à época, pelo erro dos gnósticos).
Mas ele não manda que essas pessoas que se
afastaram da igreja sejam apedrejados, maltratados, esquecidos.
Ele manda a igreja ter COMPAIXÃO E
MISERICÓRDIA e ajudar essas pessoas.
Nós poderíamos muito bem aplicar o texto aos
que ainda não entregaram suas vidas a Jesus, mas eu creio que nós devamos falar
daqueles que um dia entregaram suas vidas a Jesus nesta igreja, foram batizados
e agora estão afastados do nosso convívio, porque deram ouvidos a coisas que
não agradam ao Senhor.
Por isso eu quero falar sobre restauração.
Em alguns momentos parece que é mais fácil
perdoar o erro do incrédulo que do irmão que se arrepende (pastor o irmão tem
conhecimento da palavra, não deveria errar).
Por isso que devemos ainda mais demonstrar
misericórdia com os irmãos que se afastam da igreja. O conhecimento da palavra
faz com que o afastamento dele, o erro, lhe doa ainda mais.
Nós só erramos porque somos humanos e todos
nós estamos sujeitos a pecar (a 1 João 3.6 diz que os crentes não vivem em
pecado, então nós pecamos eventualmente); e todos nós estamos sujeitos a cair (Paulo
diz 1 Cor 10.12 que “aquele que pensa estar de pé, cuidado para que não caia”).
O grande pecado dos fariseus, que foram tão
criticados por Jesus era o orgulho. O orgulho os impedia de olhar para os
pecadores da sua própria gente com compaixão, com misericórdia.
E foi o orgulho que os impediu também de
sentirem necessidade da graça de Deus.
Irmãos, nós precisamos ter muito cuidado com
orgulho espiritual, para que ele não nos cegue ao olharmos para um irmão que
está frio na fé.
Para que esse orgulho nos faça criticarmos o
frio na fé, o desviado, o afastado em vez de darmos uma palavra de amor, de
compaixão, de esperança, de restauração.
Nossa atitude com os irmãos desviados,
afastados, pode ser um pensamento farisaico: “você conhecia a verdade, você
pecou, ou você se afastou, o problema é seu, Deus vai pesar a mão sobre a sua
vida”.
Ou pode ser uma atitude de compaixão,
misericórdia, um pensamento de Cristo: “Deus te ama, o seu lugar é próximo de Deus,
com a igreja, nós sentimos a sua falta, o que podemos fazer para te ajudar a
voltar”
“- Mas pastor, ele tem que se
arrepender!”
Claro irmãos, todos nós quando pecamos
precisamos nos arrepender e pedir perdão (seja por ter contado uma mentira,
seja por ter feito distinção de pessoas, seja pela fofoca, seja por ter
sonegado imposto, seja por pelo homicídio, seja por que pecado for... O pecado
sempre exige arrependimento e mudança de comportamento, Deus exige isso!
O próprio texto de Judas mostra que nós não
podemos concordar com o pecado do irmão (Judas diz no verso 23: “tendo
repugnância até da roupa manchada pela carne”). Eu não posso aquiescer
com o erro, mas eu posso demonstrar isso como Deus faz, em amor, exercendo a compaixão e a misericórdia.
O amor atrai os pecadores para perto de Deus
e os afasta do pecado.
O ministério de Jesus mostra isso. O texto de
Marcos 2.15 diz que Jesus atraia pecadores e publicanos para perto de si.
O amor constrange a pessoa a ser arrepender e
ajustar sua vida à vontade de Deus.
Zaqueu ajustou sua vida só porque Jesus olhou
para ele e disse que iria se hospedar em sua casa (Lucas 19.5 e 8).
Os fariseus se irritaram e criticaram Jesus:
“Ele
vai ser hóspede de um homem pecador” (Lc 19.7).
O farisaísmo espiritual sempre vai apontar
para o erro, para a queda, para baixo.
Jesus, por outro lado, sempre nos aponta para
a oportunidade de se levantar, de se reconciliar com Deus, para cima.
Mas Jesus mostra como ele enxerga as pessoas
(Lucas 19.10): “Porque o filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido”.
Nós
podemos ser fariseus e criticar ou sermos cristãos e buscarmos essas pessoas
distantes com compaixão, misericórdia e amor.
A Carta de Judas é tão importante para nossos
dias, pois nos mostra como mantermos firmes nossa fé nestes dias em que há
tanto erro, como caminharmos com Deus e a ajudarmos aqueles que por um motivo
ou outro caíram durante essa caminhada.
Vamos orar neste momento.
Linhares, 13 de agosto de 2015.
Pr.
Marcos José Milagre
PIB
Linhares
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